Capitulo 13

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ANGEL

   Dei duas batidinhas na porta do quartinho, escutando um "entra" rouco. Girei a maçaneta, entrando só o suficiente para colocar a cabeça lá dentro e...

As costas, tão largas e torneadas, entraram no meu campo de visão. Sempre achei as costas a parte mais atraente em um homem... A bagunça selvagem de cabelo úmido lhe deu frescor pós-sono e o tronco nu era uma benção da natureza...

— Angel, eu já estou de saída.

— Denise está chamando para o café da manhã.

Dorian pegou a camisa para vestir, todo distraído. O movimento foi rápido, mas peguei um vislumbre de pele se contraindo com o movimento antes do tecido esconder. Oh...

— ANGEL!

— O quê?

— Eu estou perguntando o que você quer já tem minutos. — Ele colocou a mão na cintura e ergueu uma sobrancelha. Quase ri pelo gesto cômico. — Você continua fazendo isso...

— Isso o quê?

— Me analisando como se eu fosse um quadro no museu. — Sentou na cama para calçar os coturnos.

— Eu fico, é?

— É um pouco assustador

Porque você é bonito...

Dorian parou o que estava fazendo e ergueu a cabeça. Ele parecia surpreso e... envergonhado?

— Obrigado. — Desviou o olhar, tímido.

Oh, meu Deus! Não acredito que eu pensei em voz alta. Por que eu simplesmente não conseguia manter a boca fechada? Que patética!

Talvez ele estivesse tão constrangido quanto eu, pois continuou se arrumando como se nada tivesse acontecido.

— Tudo bem, bonequinha do mal. Diz logo o que você quer.

— Como sabe que eu quero alguma coisa?

   — Você está aqui, não é mesmo? — Passou a mão no cabelo de forma desconexa. — E me fez um elogio. Tipo, logo você!

Enruguei o nariz, tentando não me sentir ofendida. Sabia ser gentil, ora essa!

— Tudo bem. Eu preciso de um favor.

Tentei soar afetuosa, mas soube que não tinha sido bem sucedida quando Dorian, estupefato, gargalhou na minha cara.

— É tão engraçado vê-la tentando fazer papel de simpática. Por favor, continue.

— Eu preciso de um emprego temporário, tá legal? Pensei que talvez você pudesse... ajudar. — Cocei o pescoço, constrangida. — Se for bonzinho, ganhará um presente! — Pisquei um olho.

Ele riu.

— É mesmo? Que presente é esse, moça?

Com um impulso não tão característico da minha personalidade, colei meus lábios em seu ouvido. Cheiro forte de homem me fez ofegar, mesmo assim encontrei forças para dizer:

— Um erro. Talvez outro, depois outro...

Esperei que ele soltasse uma provocação cafajeste típica dele, porém o músico se afastou e ficou mais rígido do que a porta atrás de mim.

— Eu estou saindo para trabalhar agora. — Puxou a gola da camisa, sem encontrar os meus olhos. — Mas se você quiser, pode me encontrar lá na hora do almoço. Vou falar com o meu chefe se ele sabe de alguma coisa.

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora