Capítulo 7 - Gatas Siamesas

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— E ainda tem o Lorenzo— Paris mencionou o nome do sujeito, e tanto ela quanto a irmã suspiraram —, mas ele viajou semana passada, deve voltar em breve. Tem o Zephir também — o citou, com um certo nojo no olhar.

— Esse daí é estranho — London falou, balançando a cabeça levemente como se houvesse lembrado de algo embaraçoso. — Acho que é o mais perto do que procuram, sério.

— Por que diz isso sobre o seu companheiro de circo, minha cara?—Jack perguntou, interessado; quase desconsiderando o malabarista ao ouvir sua descrição, mais preocupado em tecer mais teorias sobre o estranho Zephir. Ria internamente por ter tido os palpites certos, quando a herdeira Fitzgerald lhe informara sobre a existência do sujeito esquisito.

— Ele é grudento, irritante. Enchia o saco da Marjorie, paparicava a mulher o dia inteiro. Não sei, ele parece ser doente, obsessivo.

— É um mágico, amigo do Lance. Não é muito bom no que faz. Só que ele viajou semana passada, uma convenção, ou algo assim, em Massachusetts, parece — Paris finalizou, novamente, o discurso vago da irmã, em um rosnado impaciente. 

— É verdade... só que, sei lá, meu santo não bate — a gêmea de cabelos curtos resmungou, brincando com a mecha de cabelo.

— E ele bate com o de alguém, London?

— Não me provoque hoje Paris. Não estou no clima, maninha.

— Não é como se em algum dia você estivesse... — Paris caçoou da menina, recebendo apenas uma cara fechada como resposta.

— E onde ele está agora?— Oz perguntou, interrompendo a brincadeira em família e mordiscando o seu lápis a espera do lugar. 

— Não sei, ele não aparece por aqui há alguns dias — Paris murmurou, curvando-se para encaixar sua cabeça em suas mãos, e levantando seus grandes olhos castanhos para encará-lo.

— E, pelo que eu sei, ele já deveria estar de volta...— concluiu a outra, com escárnio. E, ao virar o rosto, London se deparou com Charlize entrando no trailer, cabisbaixa, ainda perdida em seus devaneios particulares. Dramática; pensou.

Abruptamente, foi como se um grande sensor luminoso piscasse no cérebro dos investigadores. Eles, decerto, pareciam ter a anormal capacidade de comunicarem-se por telepatia, de forma que, com uma simples troca de olhares sutil, puderam ter certeza de que pensavam da mesma maneira a respeito do ilusionista.

Talvez sua suposta viagem também fizesse parte da ilusão.

Entretanto, havia a frustrante sensação pairando sobre o consciente dos dois: O aumento constante da lista de possíveis assassinos. Até agora, em somente um dia, já conseguiam contar quatro.

Quatro pessoas e apenas uma morte.

A conta tinha de estar errada.

— E onde as senhoritas estavam na hora do crime? — questionou Oz, disfarçando quaisquer teorias sobre o paradeiro real do mágico.

— No Napoleon's House. Ora, os senhores sabem que não tem como uma mulher viver solteira em mil novecentos e trinta e cinco! — Paris respondeu, gargalhando com a irmã, ao lembrarem-se do bartender musculoso as levando em casa, ou trailer do Guadolomon, de forma direta.

— Enfim, acho que, para a maior parte das pessoas daqui, a Marge não vai fazer muita falta... — London desdenhou, respirando ofegante após a crise de risos, não muito envolvida na parte emocional do falecimento da amiga, ou "conhecida intragável, como ela costumava se referir à moça. Sorriu sutilmente, ao cair a ficha de que nunca mais teria de aturar aquela mulher, que não precisaria escutar seus gritos agudos sobre o quão curta determinada roupa estava, ou sua voz forçada para convencer o marido de levá-la à costureira para reclamar. Sim, a menina estava bem grata a isso. Só que, obviamente, uma simples demissão já teria sido suficiente para resolver o problema. Não precisava ter farejado, às sete da manhã, um cheiro putrefação que arruinara o seu olfato pelo resto do dia. — Talvez para o marido, se é que ele realmente está vivo em algum lugar.

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