Capítulo 7 - Gatas Siamesas

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— E quanto ao resto da trupe? Como eles se sentiam com o sucesso de Marjorie? — Oz perguntou, rasurando em ritmo frenético seu caderno, devido à rapidez que as acrobatas falavam.

— Eu não me importava — disse Paris.

— Nem eu para ser sincera, se ganho um bom salário, pouco me importa o resto — a gêmea completou.— Só achava injusto, na verdade. Ela não era lá essas coisas.

Jack conteve a risada que ameaça aflorar em seus lábios, por ter prevido a incapacidade de London se referir a alguém sem alguma grosseria na frase. Porém, para manter sua pose fria e calculista, apenas a analisou calmamente limpar o rosto dos restos de comida, sem ter a mínima ideia dos pensamentos dele.

—Acho que a que mais reclamava era a Charlize, ela é insuportável com essas coisas. Mão de vaca, as duas viviam às turras por culpa dos gastos gigantescos da garota. Era um porre — Paris também não ficava atrás. Mas ela era diferente da irmã de cabelos curtos, na realidade. Era mais controlada e distante, e cada fala dita aparentava ter diversas mágoas inseridas, de modo sutil. Ela planejava o que diria, enquanto London somente falava o que sua mente poluída sugerisse.

— Tinha a Dana, só que elas eram tipo, melhores amigas ou coisa assim. Uma dupla que veio direto dos infernos — London acrescentou, limpando o interior de suas unhas com um parte estrategicamente dobrada de seu vestido, não reparando na reação confusa dos dois detetives em razão da introdução de mais uma estranha ao caso. Tal feito foi notado por sua irmã, que tratou de explicar quem era a ilustre Dana Hill.

— É a domadora, dona dos felinos que os senhores viram ali. — explicou, apontando para a jaula de metal que abrigava aos dois animais dormindo pacificamente.

—Ah sim — Jack apertou os olhos para assimilar a informação.— E onde ela está agora?

—Saiu para beber com Rick, o malabarista— Paris respondeu, com tranquilidade. Os homens percebiam cada vez mais o quanto a menina mantinha-se praticamente imparcial em relação a todos os acontecimentos daquele lugar. Até mesmo no caso do falecimento do companheira de trabalho —, foi ele quem encontrou o corpo da Marjorie

  — Ele saiu depois disso e não voltou até agora?  —  o detetive quis saber, com os olhos arregalados em expectativa e uma ansiedade gutural o consumindo por dentro.

   — Sim — Paris assentiu, apática. —  Mas posso garantir que Rick não é bem o tipo de garoto que faria algo do tipo. Ele saiu com a Dana para consolá-la, depois que a comunicou sobre a morte da Marjorie. 

—Ela é muito emotiva, exagerada — London resmungou, rolando os olhos.

—Eles fazem isso com frequência? — Jack não conseguira se desvencilhar dos neurônios aguçados com as informações, assimilando cada uma delas com o máximo de atenção que conseguia.

Seu inconsciente, no entanto, não ajudava muito. Uma vez que, insistia em querer projetar a imagem da domadora, sem que o detetive tivesse muito controle. Como seria essa mulher? Tão fatal quanto uma leoa, talvez? Deveria ter olhos invasivos, como os de uma cobra, capazes de envenená-lo com uma facilidade absurda. A via com uma postura imponente, apta a imobilizar os felinos sem se mover, além de sua coragem invejável e um magnetismo impressionante....

— Todo fim de semana— respondeu Paris, arqueando as sobrancelhas em desgosto, enquanto Jack se soltava dos inúmeros rostos que projetara para a domadora do Guadolomon.

— Ele e Dana viveram no mesmo orfanato ou algo assim. Mas, é passivo. Juro. É tipo o nosso estagiário, parece que tinha medo da Marjorie — London comentou, desistindo de limpar suas unhas e apoiando suas mãos sobre a grama, para inclinar seu corpo.

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