Ele ri e dá de ombros, depois segue a passos lentos ao meu lado até o pequeno auditório, onde havíamos sido convocados. Encontramos várias pessoas seguindo na mesma direção que nós, o que faz meu estômago doer. O que poderia ser tão importante que exigisse a presença de todo mundo?

Ao entrarmos, me assusto ao encontrar o local cheio. Residentes, anestesistas, cirurgiões, enfermeiros e até recepcionistas, todos de braços cruzados enquanto aguardam que o Ramon, lá no meio do palco, começasse a falar. Me posiciono ao lado de Will, que estava segurando a minha mão, e dou uma olhada ao redor. Encontro Miguel, Fernanda, Paola e até Alex.

─ Boa tarde a todos! ─ Ramon começa e eu prego os olhos nele, tentando interpretar sua postura. Não parecia preocupado nem de mau humor. ─ Peço desculpas se os tirei de suas atividades, mas era necessário comunicar a todos e eu prometo ser breve ─ ele faz uma pausa significativa e depois continua: ─ Dia doze deste mês é comemorado o dia das crianças. Na semana passada, a ONG Criança Brasil entrou em contato conosco e nos pediu ajuda para arrecadar fundos. Por isso, em prol à esta causa, a diretoria do hospital teve uma ideia: nós organizaremos um baile de gala e toda a renda do bar será revertida para a ONG ─ um burburinho se instala pelo auditório no momento em que ele se cala. Will olha para mim e ergue as sobrancelhas, ao que eu sorrio, me sentindo aliviada. ─ Também serão aceitas doações de todos os presentes. E eu, como diretor, espero que todos possam colaborar de alguma forma. Pessoas de fora poderão participar, o que significa que vocês podem trazer convidados, desde que eles se comprometam a nos ajudar. Eu fiz questão de convidar mais alguns médicos renomados do estado para comparecerem, então conto com a hospitalidade de vocês para que eles possam se sentir a vontade em nosso meio. Alguma dúvida?

Uma mão se ergue no meio das pessoas.

─ Nós vamos trabalhar no dia? ─ era a minha dúvida também, mas fico feliz que alguém a tenha pronunciado, porque eu com certeza teria vergonha de deixar a minha preguiça explícita para todos.

─ O hospital nunca para ─ Ramon responde simplesmente. ─ Mas é claro que o consumo de álcool para os que estarão de plantão é estritamente proibido. O evento acontecerá no próximo sábado às vinte horas e nós só realizaremos as cirurgias emergenciais. As demais serão reagendadas. Mais alguma dúvida? ─ ele volta a perguntar, mas desta vez ninguém ergue a mão. ─ Certo. Me procurem caso se lembrem de alguma outra questão. Estão dispensados. Obrigado pelo presença de todos.

Ele desce do palco e a multidão vai se dispersando aos poucos. Will ia começar a dizer algo para mim quando alguma coisa o interrompe. Ou melhor, alguma coisa não, alguém.

─ Está na hora da sua cirurgia, doutora. Vamos?

Will fecha a cara para Alex, que estava sério, mas pronto para soltar alguma ironia.

─ Você vai se sair bem. É só confiar ─ Will diz de forma tranquilizadora para mim.

─ Obrigada. Por tudo ─ eu acrescento, ao que ele se aproxima e beija a minha testa.

Alex continua ao nosso lado, parecendo mais entendiado do que nunca. Ele faz um gesto para que eu ande a sua frente, e assim faço, meio de má vontade. Já no andar da pediatria, nós nos dirigimos para a sala de preparação. Pelo vidro consigo visualizar os internos e o anestesista preparando o bebê. Certo, seja o que Deus quiser. Eu precisava apenas respirar e me concentrar no que estava fazendo.

─ Ei ─ Alex me chama baixinho, enquanto secava as mãos. ─ Você sabe o que fazer, não precisa ter medo.

─ Eu sei... Mas e se algo der errado?

Esse tipo de erro eu consigo consertar, anjo ─ ele diz simplesmente e coloca a máscara.

Resolvo não pensar muito no que ele quis dizer com aquilo, até porque estou tão aflita que minha mente insiste em parecer vazia.

Anjo (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora