Capítulo 12

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Nina Novaes.

Não vou dizer que tenho o sono leve, porque não tenho, ainda mais depois de umas boas taças de vinho, mas ainda assim acordo quando escuto o toque de mensagem do meu celular.

Tenho que me livrar do braço do Marcelo para conseguir desbloquear a tela, porque ele tem o costume de dormir literalmente grudado em mim. Ele resmunga quando o afasto, mas não acorda. O que de certa forma é ótimo, porque agora estou sorrindo feito idiota.

"estou pensando seriamente em mudar teu apelido" 03:42
"porque anjo não faz essas coisas, anjo" 03:56
"ainda não acredito que me deixou daquele jeito" 04:03

Não consigo segurar o riso, o que acaba por acordar o Celo.

- Tá rindo de quê? - ele pergunta com a voz toda embolada, me olhando com um olho aberto e o outro fechado, mal se aguentando de tanto sono. Rio mais ainda.

- Ah, vocês homens... Tão engraçados.

- Tá louca, Nina? Volta a dormir.

- Sim, sim... - eu respondo e me inclino para beijar a bochecha dele, que resmunga e enfia a cara de volta no travesseiro.

Devolvo o celular à mesa de cabeceira, decidida a não responder as mensagens. Nem por querer me fazer de difícil, eu só não tinha o que dizer. A última coisa que eu queria era ter deixado ele lá, com aquela louca no banco de trás, que aposto que conseguiu tirar alguma casquinha dele. Só de pensar me dá raiva, mas respiro fundo porque, afinal de contas, fui eu quem pediu só sexo. E era o que teríamos tido se não fosse a minha consciência.

(...)

- Puta que pariu, Marcelo! Que diabos é isso aqui? - eu pergunto, erguendo uma calcinha com o dedo.

- Uma calcinha fio dental - ele responde e ri. Franzo o nariz enquanto ele se aproxima para examinar a bendita. - Nossa, isso tá aí há décadas. Acho que era da Camila.

- Camila? Aquela gordinha do bar? - pergunto, sem acreditar, já jogando a calcinha longe.

- Aquilo era gostosura, minha cara - ele diz.

- Quer saber? Desisto desses cômodos! Faz o seguinte, Celo: eu limpo a cozinha e você todos os outros cômodos em que possa ter transado com alguma estranha.

- Então é melhor eu limpar a cozinha também - ele diz e ri alto, já se afastando de mim porque sabe que ia levar uns tabefes.

- Ai, que nojo!

(...)

Mais tarde, depois de já termos limpado uma boa parte do apartamento dele, resolvemos ir ao mercado.

Fazemos compras para ele e para mim, que também estou praticamente sem nada em casa e morrendo de medo da minha mãe aparecer por lá para dar uma inspecionada. Estamos em um corredor qualquer quando Marcelo para de olhar a lista de compras e olha para mim.

- Estou louco ou você acordou de madrugada hoje?

- Acordei sim.

- E por qual milagre?

- Mensagem no celular.

Ele assente.

- Do doutor, acredito.

- Sabe o que é mais engraçado? Vocês sabem o nome um do outro, mas insistem em se chamar de "doutor" e "policial" - reviro os olhos, voltando a minha atenção à prateleira de biscoitos.

- Então ele tem falado de mim? Medo né?

- Há-há-há. Menos, Celo! Mas, sim, ontem mesmo disse que "o policial está louquinho para me pegar".

Anjo (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora