- Já vou indo. Até amanhã, Nanda. Ah! - voltei para o balcão. - O Alex está numa cirurgia, não consegui me despedir, se você se lembrar, diz que eu mandei tchau.

- Pode deixar! Mas antes de você ir, me conta! Como foi passar o dia inteiro ao lado daquele pedaço de mau caminho e não o atacar? - franzi a testa rindo. Pelo visto Dr. Alex tinha muitas fãs por aí. - Eu vi vocês almoçando juntos com o pessoal.

- Foi preciso muita concentração, minha querida - ela deu risada concordando.

- Eu posso imaginar!

Me dirigi ao estacionamento ainda rindo e pude ver de longe uma paciente entrando no carro com seu bebê. Eu tinha os atendido hoje também. Ver a alegria dos pais e uma nova vida se formando, era algo extraordinário e que me fazia chorar de emoção. Acho que alguém aqui realmente ama o que faz...

Dirigi calmamente em direção ao meu prédio, sabendo que às nove horas Celo chegaria do trabalho e iria direto para meu apartamento, querendo saber dos detalhes. Sofia infelizmente tinha compromisso essa noite e não poderia ir lá em casa, mas me ordenou ligar pra ela assim que chegasse.

Será que eu tinha amigos fofoqueiros?

(...)

- Gato? - Marcelo repetiu, fechando a geladeira. Estava com uma lata de Coca-cola na mão.

Eu estava jogada no sofá, de pijama, com o notebook no colo. Havia acabado de digitar um nome na barra de pesquisa do Facebook.

- Sim, gato, Celo. G-a-t-o! Muito! Ah! - gritei, batendo palmas. - Achei! Corre!

Alex Boaventura. Eu soube o sobrenome dele horas mais cedo quando estávamos de olho nas cirurgias marcadas para aquela manhã. O nome dele se repetia diversas vezes no quadro. Na hora eu só conseguia pensar no meu próprio nome ali, ao lado do dele ou talvez no lugar do dele. Mas agora tudo o que eu queria era encontrar seu perfil no Facebook e, vocês sabem, aquelas informaçõezinhas básicas.

Abri a foto de perfil, que carregou em dois segundos. Na foto Alex estava com um sorriso de lado, olhando para algum lugar que não a câmera. Espontaneamente lindo. Marcelo se sentou ao meu lado e esticou o pescoço para espiar. Depois olhou para mim, sem dizer nada.

- Tá sorrindo por quê? - ele perguntou indiferente.

- Ué - dei risada. - Estou feliz por ter encontrado. Ah, olha aqui - falei, indo para as informações principais. - Vinte e seis anos. Trabalha no Hospital há dois anos e meio. Hm... - murmurei, procurando pelo estado civil. Nada. - Que droga!

- Ele namora?

- Aqui não diz. Mas ele me deu uma cantada, então a resposta é não, né?

- E desde quando namorar te impede de cantar os outros? - Marcelo riu. Cretino.

Joguei uma almofada nele, que se desviou. Logo trocou de assunto, porque não gosta muito de conversar sobre essas coisas. Diz que eu devo reservar esses papos para a Sofia. Às vezes acho que ele tem ciúmes.

Dei uma olhada nas últimas publicações de Alex, mas nada que me levasse a alguma coisa. Ao menos o gosto musical dele é bom. Resolvi não mandar solicitação de amizade, porque a última coisa que eu queria era que ele achasse que fiquei pensando nele em casa. É claro que não...

(...)

Acordei mais cedo do que devia no dia seguinte. Decidi me arrumar para correr, porque afinal, as coisas tinham que ser como sempre foram.

Já lá embaixo, coloquei os fones no ouvido e corri em direção ao parque, que ficava perto de onde Sofia morava. Contei a ela ontem por telefone, o que quase me deixou surda. Ela gritou por minutos, porque, é claro, o futuro mentor dela não era nada atraente. "Por que escolhi Cardiologia, Nina? Preciso que você me diga, senão eu desisto!", ela gritou.

Corri por quase duas horas. Estava desacelerando o passo e indo na direção de casa quando encontrei minha ex-vizinha. Não a via há três ou quatro anos, quando minha mãe se divorciou pela segunda vez e nos mudamos para cá de novo. Pensei em me esconder, pois com certeza ela me encheria de perguntas que não lhe diziam respeito, mas era tarde demais. Suspirei frustrada.

- Vejam só! - ela disse, mesmo estando sozinha. - Alícia disse que você estava gi-gan-te. Mas está linda!!! - ela gritou.

Me deu dois beijinhos. Percebi que eu precisava dizer alguma coisa, mas no momento eu só conseguia pensar nas mil maneiras diferentes que eu poderia matar Alícia.

Alícia. Esse nome que não me vinha à cabeça há meses. Bom, mas vamos lá: Alícia é o que podemos chamar de "castigo" ou "cruz a carregar". Ela é filha única de Mauro, o ex-marido da minha mãe. Nós chegamos a morar juntas por um tempo, já que Alícia é tão, hm, "difícil" que nem a própria mãe a aguenta. Resumindo a história, nós nunca nos demos bem. Éramos total e completamente diferentes, e se tentássemos ter uma conversa, acabávamos uma arrancando os cabelos da outra. Literalmente.

E agora, anos depois, quando acho que não tenho mais razões para me preocupar com essa garota, fico sabendo que está dizendo que estou gorda? Gorda?!

- Cláudia! - eu me lembro de responder. Forço um sorriso. - Obrigada. Fico feliz em te ver!

- E ela ainda me disse que você está para titia! - Cláudia ri exageradamente. Céus! - Ou que está tendo um caso com aquele seu velho amigo Mateus.

- É Marcelo.

- Então é verdade?

- O quê? Não! - eu balanço a cabeça, mas deve ser tarde demais. Decido fazer alguma coisa. - Cláudia, foi ótimo rever você, mas eu preciso ir, estou atrasada. Diga à Alícia para procurar o que fazer, sim? - Cláudia sorri, pois acha que estou brincando.

Enquanto volto correndo para casa, percebo o quanto estou arrependida por ter saído dela.

*****

Esperamos muito que tenham gostado!

Gabriela e Natália.

18/09/2015


Anjo (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora