O ar pareceu mais denso. O barulho do café desapareceu. Tudo que eu conseguia perceber era o olhar dele, firme, como se quisesse me decifrar.
— Foi só... um momento, desculpe fazer cena. — falei rápido, tentando manter o controle. — Não devia significar nada.
— Pra você talvez não — ele respondeu, e havia algo diferente na voz dele agora. — Mas pra mim... significou.
Olhei pra ele, surpresa.
— Então por que agiu como se nada tivesse acontecido? — perguntei, finalmente deixando sair a pergunta que estava me corroendo.
Ele desviou o olhar, os dedos batendo levemente na mesa.
— Porque eu não sabia o que fazer com isso. Com a ideia de que você podia estar arrependida. Que talvez pra você tenha sido só... uma confusão. Não queria parecer que apenas eu estava agindo como o idiota que foi afetado. Acha mesmo que eu não pensei em nenhuma outra alternativa porque aquilo pareceu tudo, menos real?
— Marshall... — comecei, mas a voz falhou. — Eu não estava arrependida.
Ele levantou o olhar, e por um segundo, pareceu prender a respiração.
— Não estava? — perguntou, quase em um sussurro.
Balancei a cabeça devagar.
— Eu só... fiquei com medo. Não foi apenas o beijo, mas eu estava confusa faz um tempo sobre você. Foi muita coisa de uma vez, e eu não sou boa com isso. E você tava tão calmo, tão... — busquei a palavra certa, mas tudo que me veio foi — inatingível.
Ele soltou uma risada breve, mas sem humor.
— Inatingível? É assim que você me vê?
— Às vezes, sim. — Admiti. — Parece que nada te atinge.
Marshall se inclinou pra frente, os olhos presos nos meus.
— Então deixa eu te dizer uma coisa — ele falou baixo, cada palavra saindo com cuidado. — Você me atingiu. E não foi pouco.
O coração disparou. Eu não sabia o que responder. Tudo dentro de mim gritava pra desviar o olhar, pra rir, pra mudar de assunto — qualquer coisa que quebrasse aquele momento. Mas eu não consegui.
— Eu só pensei que, já que foi um "faz de conta", você ia querer que eu continuasse com a encenação. - Ele continuou. - Que você ia ficar menos estranha se eu não tocasse no assunto. Eu queria te dar espaço para você esquecer. Eu tive que fazer um esforço hercúleo para não te procurar. Eu tive que fingir que não ensaiei essa conversa na minha cabeça umas cem vezes. E quando você me confrontou, pensei: "ótimo, ela também sentiu". E aí você fugiu.
O silêncio voltou, pesado, denso.
Ele suspirou, se recostando no banco e passando a mão no cabelo, como quem tenta se recompor.
— Eu só não sou bom em... lidar. Principalmente com você.
Fiquei olhando pra ele, tentando entender o que exatamente estava acontecendo.
Marshall Lee, o cara que sempre parecia ter uma resposta pronta pra tudo, agora estava à minha frente, completamente despido de ironia. E isso era o que mais me deixava perdida.
— Eu também não sei lidar com você — confessei, baixinho.
Ele me olhou por alguns segundos, e eu senti o estômago apertar. Era aquele tipo de olhar que te faz esquecer o que vinha depois, que parece atravessar a pele.
— Então estamos empatados — ele disse, com um sorriso quase imperceptível.
Desviei o olhar, tentando esconder o quanto aquilo me afetava.
— A gente devia parar de complicar as coisas.
— Você acha que sou eu quem complica? — perguntou, inclinando a cabeça, a voz rouca, como se estivesse se contendo pra não dizer mais.
— Eu acho que nós dois complicamos — retruquei, mordendo o lábio. - Somos duas pessoas complicadas demais juntas.
— Eu não ligo, você liga?
— Não, eu não ligo.
Então ele se inclinou mais para frente, sua mão procurando a minha na mesa e seus dedos acharam os meus. Nossos dedos se entrelaçaram.
— E agora? — murmurei, sem saber se estava perguntando pra ele ou pra mim.
Marshall não respondeu de imediato. Só olhou pra mim daquele jeito que sempre me desarma — como se entendesse exatamente o que eu queria dizer, mesmo sem palavras.
Ele deu um leve sorriso. Seus dedos apertaram os meus, um contato firme, mas reconfortante.
E foi o suficiente pra eu entender.
A gente para de fingir.
Olá pessoal! Cada vez mais perto do final, espero que estevam curtindo essa jornada. Por favor, favoritem e comentem para eu saber o que estão achando, até o próximo capítulo! 🧡
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Conquest Manual (with Execution Errors) - Fiolee
Teen FictionFionna Mertens só queria passar despercebida no ensino médio, ouvindo suas fitas cassete e evitando o caos social que acompanha seu irmão popular, Finn. Mas quando Marshall Lee - o garoto mais irritante (e estranhamente magnético) da escola - propõe...
21 - Fingimento
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