Estava escutando "Heroes" do David Bowie no meu Walkman, cantando mentalmente o refrão. Tudo ficava mágico com essa música. Eu conseguia romantizar os corredores da escola, os raios do pôr do sol atravessando as janelas, deixando o ambiente com aquele tom alaranjado único. Uma câmera nunca conseguiria capturar a beleza de simples raios solares como os meus olhos.
Caminhei, deslizando meus dedos pelas paredes, em direção à biblioteca. Estava ansiosa esperando o final do dia. E por quê? Simplesmente tinha combinado de dar aula para o Flame no final da tarde de sexta-feira. Esperei por isso o resto da semana inteira.
Quando cheguei na biblioteca, Flame ainda não tinha chegado. Sentei-me em uma cadeira, colocando minha mochila e materiais em cima da mesa. Respirei fundo. Eu conseguia lidar com isso.
Quando levantei a cabeça de novo, vi ele na porta. Ajeitou a alça da mochila, acenou no ar e aquele sorriso charmoso de sempre estava lá. Por um segundo, me lembrei do porquê eu tinha embarcado nessa "operação". Flame era bonito e simpático, um cara fácil de gostar. Quando ele andou na minha direção, desliguei o Walkman e guardei os fones.
Ele tinha um caderno debaixo do braço, colocou a mochila no chão e tirou os materiais.
— Valeu mesmo por me ajudar — ele disse, largando o estojo na mesa. — Sério, eu não faço ideia de como sobreviver nessa matéria.
Abri o caderno dele. Folhas amassadas, rabiscos que mais pareciam hieróglifos e, claro, metade em branco.
— Então, você já tentou resolver algum exercício sozinho? — perguntei.
Ele riu.
— Tentei, mas... — apontou para uma página com um desenho de dinossauro ocupando o espaço da questão. — Bom, digamos que não deu muito certo.
Suspirei. Ele pelo menos era honesto.
Peguei meu lápis e comecei a explicar devagar, escrevendo um exemplo: seno, cosseno, ângulo. No começo, ele até parecia prestar atenção, balançando a cabeça como se estivesse entendendo tudo.
Cinco minutos depois:
— Então esse símbolo é um seis virado? — ele perguntou, apontando para o seno.
— Não, Flame, isso é "sen", de seno. — Eu respirei fundo. — É uma função, lembra?
Ele me olhou, genuinamente confuso, e eu senti uma pontada de pena.
Tudo bem, não é tão grave. Eu consigo ensinar trigonometria até para uma pedra. Flame só precisa de mais paciência. Expliquei de novo. E de novo.
Na terceira tentativa, ele suspirou e largou o lápis.
— Nossa, isso é muito chato. Você não pode só me dar as respostas?
Revirei os olhos tão forte que quase enxerguei meu cérebro.
Claro, eu faço toda a prova para você e depois coloco uma coroa na sua cabeça porque, parabéns, você venceu a vida sem mover um dedo.
— A ideia é você aprender, não decorar — respondi, tentando manter o tom calmo.
Ele sorriu, aquele sorriso de canto que provavelmente fazia metade da escola suspirar, e disse:
— Tá, mas você explica de um jeito tão complexo que eu acabo me perdendo.
Tradução: preguiça.
A cada segundo eu ia ficando mais irritada, porque não era burrice, era falta de esforço. Flame tinha energia para sorrir, conversar, desviar do assunto... mas não para olhar direito para a porcaria de um ângulo retângulo.
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Conquest Manual (with Execution Errors) - Fiolee
Teen FictionFionna Mertens só queria passar despercebida no ensino médio, ouvindo suas fitas cassete e evitando o caos social que acompanha seu irmão popular, Finn. Mas quando Marshall Lee - o garoto mais irritante (e estranhamente magnético) da escola - propõe...
