9 - Segredo

48 4 4
                                        

O estalo da fogueira se misturava à música, às risadas e conversas animadas ao redor — mas tudo soava abafado, distante. Nada parecia tão nítido quanto a risada do Flame por causa de algo que eu disse. É, meu coração palpitava.

Flame é gentil.

Seus olhos sorriam junto com seus lábios, era quase aconchegante. Mas eu ainda me sentia nervosa toda vez que seu ombro encostava no meu por acaso, ou quando ele me olhava com aqueles olhos atentos, prestando atenção no que eu dizia... Eu sentia aquele frio na barriga, uma sensação específica demais.

— Ele é sempre assim, meio... dramático — O Flame comentou, dando um gole na própria cerveja e se referindo a Marshall. — Mas não liga. Ele faz isso quando está sem paciência, tipo um lembrete para que todos saibam que ele está irritado. Só não sei com o que está irritado dessa vez.

Assenti, sem saber o que dizer.

— Enfim... — ele disse, com uma pausa. — Eu me lembrei da sua garagem. Naquela hora que fui buscar... Deixa pra lá. Quero dizer, quando te peguei pintando na parede.

— Ah... Sim.. Eu lembro. — gaguejei, sentindo meu rosto corar.

— Sim. Era uma floresta, né? Com umas cores bem vibrantes de outono, mas com uma árvore que parecia mais... velha. Mais escura.

Ele não só se lembrava, mas também tinha prestado atenção nos detalhes. Ele percebeu a floresta, as cores, a árvore mais escura no meio de tudo.

— É... é uma floresta. — Puxei a latinha de cerveja para as minhas mãos e comecei a mexer, sem o olhar diretamente. — Eu gosto de pintar coisas assim. Cenários, mundos... coisas que parecem que têm uma história, sabe?

— Eu entendo. — Ele disse, com uma voz suave. — Aquela árvore me fez pensar que aquela floresta tinha uma história. E é por isso que eu achei tão legal. É mais do que só uma pintura bonita.

Essa frase me atingiu em cheio. Era exatamente o que eu pensava sobre arte. Era o que eu buscava em cada traço. Uma história que precisava ser contada.

Olhei para ele. Os olhos âmbar, as sardas iluminadas pelo fogo da fogueira. Desviei o olhar por um segundo pelo nervosismo.

— E qual séria a história dessa árvore? — Ele se aproximou mais de mim, como se estivesse interessado mesmo em saber. — Se me permitir saber, é claro.

Fiquei entusiasmada pelo seu interesse, um calor invadiu meu peito. Me ajeitei no lugar, com um sorriso no rosto, me preparando para finalmente contar o que eu gostaria de transmitir.

— Ei Flame, me empresta seu casaco?

Porém meu entusiasmo não durou nem dez segundos.

Lumpy, a garota de cabelos violetas que apareceu na minha casa naquele dia que assisti o jogo do Dallas vs 49ers com os meninos, estava pedindo o casaco de Flame. Ela vestia uma minissaia e uma blusa de manga comprida que não pareciam quentes. Como naquele dia, ela usava um batom escuro.

— Claro. — Ele levantou sem pensar duas vezes, tirando sua jaqueta e colocando em cima dos ombros de Lumpy.

A garota de cabelos violeta sorriu como se tivesse ganhado a noite, e ganhou, pelo menos, a minha.

Então, em um movimento desesperado, ela se jogou quase em cima de mim, do meu lado. Esperando Flame voltar a se sentar ao lado dela, tipo isso é sério? Ele não percebeu mesmo que ela quase me jogou do outro lado?

Olhei não acreditando na inconveniência dessa garota.

E ela simplesmente me ignorava, não me lançou um único olhar como se minha presença fosse insignificante. Queria surtar, puxar pelos cabelos e fazer ela se tocar que eu estava conversando com Flame primeiro.

Conquest Manual (with Execution Errors) - FioleeDonde viven las historias. Descúbrelo ahora