7 - Operação: fisgar o Flame

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Setembro de 1995

Era sábado de manhã, e o outono já começava a dar as caras outra vez. Folhas alaranjadas se acumulavam pela calçada como se competissem entre si pra ver quem fazia mais bagunça. Um sol tímido aparecia só pra lembrar que ainda existia. Outono era uma das minhas estações favoritas do ano, pois não fazia calor demais e nem frio de menos. A medida certa.

Todo sábado, eu trabalhava na loja de discos do meu tio. E por "trabalhar", leia-se: ser largada lá sozinha enquanto ele batia perna pela cidade, fazendo sabe-se-lá-o-quê. De vez em quando, aparecia alguma alma perdida. A loja era conhecida por vender discos, claro, mas também vendíamos fitas cassete e CDs.

Costumo aproveitar o silêncio para estudar e colocar as matérias em dia (ou fingir que tento), enquanto ouço o novo álbum do Oasis no meu próprio Walkman. Uma rotina tranquila, até a sombra dele aparecer.

Demorei para perceber a sombra que fazia na folha do meu caderno, ergui meu rosto já rubro. Flame estava na minha frente com um sorrisinho de lado, o que ocasionalmente me fez jogar os meus fones de ouvido e ter uma postura ereta.

— Finalmente você me notou. Tava te chamando faz um tempão — disse ele, ainda com o mesmo sorriso debochado. — Brincadeira, nem faz vinte segundos.

— C-como posso ajudar? — perguntei, tentando parecer natural e fracassando miseravelmente.

— Precisava de uma fita cassete virgem — respondeu, já se afastando do balcão em direção às caixas de vinil. Foi passando os dedos por cada capa, devagar. — Hoje tem a festa da Bonnibel. Ela me pediu pra cuidar das músicas, então vou gravar umas faixas. Marshall ficou furioso quando descobriu que ela não queria ele cuidando da playlist. Você sabe como ele é, né?

— Ah, imagino — murmurei, sabendo exatamente. Quando o assunto era música, Marshall conseguia ser insuportável de tanto perfeccionismo. Ele tratava playlists como se fossem obras sagradas incompreendidas.

Achei a fita que ele queria e levei pro balcão. Ele ainda estava olhando os discos, mas quando levantou os olhos, flagrou meu olhar. Merda. Me pegou no flagra o observando.

Voltou pro balcão, apoiando os braços ali com tranquilidade ensaiada.

— Aliás, você vai? — perguntou, e eu senti o rosto esquentar. — Na festa, quero dizer.

— Ah, provavelmente não. — respondi, passando o código da fita pelo leitor.

— Sério? — Ele levantou uma das sobrancelhas e se aproximou mais ainda do balcão.

— É, eu nem fui convidada também...

— Como se precisasse. — Ele riu e balançou a cabeça como negação. — Você sabe que tem passe livre, né?

— Passe livre?

— É, por ser irmã do Finn. — Ele deu um sorrisinho. — Espero que você vá, vai ser divertido. Aliás, quantos que deu a fita?

Ele começou a tirar a carteira do bolso.

— Um e noventa e nove.

Tirou dois dólares da carteira e me entregou. Imprimi o recibo enquanto ele ainda me olhava. Como se... estivesse curioso. Interessado. Ou talvez fosse só coisa da minha cabeça.

— Queria te perguntar uma coisa... — ele começou, coçando a cabeça como se ponderasse se devia continuar. — Ah, deixa pra lá. A gente se vê na festa, Mertens.

Saiu com uma piscadinha e aquele maldito sorriso.

A única coisa que escutei depois que ele foi embora foi o sininho da porta e o barulho dos meus pensamentos implodindo.

Conquest Manual (with Execution Errors) - FioleeWhere stories live. Discover now