6- Silêncio

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Setembro 1995

Felizmente o final de semana passou rápido — ou infelizmente. Minha ressaca passou (menos a ressaca moral), com muita água e analgésicos. Minha mãe voltou para casa para passar o final de semana e não desconfiou de nada. Tudo estava exatamente no lugar.

Mas uma coisa que não saía da minha cabeça, que eu não conseguia superar, era o momento em que me lembrei que estava prestes a tirar minha roupa na frente do Marshall Lee. Ok, eu estava bêbada. Mas, toda vez que essa lembrança me atingia, eu sentia uma dor física enorme de arrependimento e vergonha.

Nunca mais vou beber, eu prometo!

Eu tinha um plano.

Simples, direto, infalível: evitar o Marshall Lee a todo custo. Nada de cruzar com ele nos corredores, nada de olhares tortos no refeitório e, principalmente, nada de interações. Depois da última noite — piscina, álcool, uma saia — o mais sensato seria me afastar. Eu precisava de espaço. De dignidade. De silêncio.

Não aguentaria se ele viesse com suas piadinhas estúpidas para cima de mim.

Mas, aparentemente, ele teve a mesma ideia.

Estava no meio do segundo corredor, entre o bebedouro quebrado e o armário que vivia emperrado, quando o vi Marshall. De costas, encostado na parede, rindo de alguma coisa que a Marceline dizia. Ele me viu também. Eu sei que viu. Nosso olhar se cruzou por menos de um segundo.

E aí ele virou o rosto.

Fingiu que não era comigo.

— Sério? — murmurei pra mim mesma, tentando parecer indignada.

O plano era EU evitar ele. Não ele me ignorar como se... como se eu tivesse feito algo errado. E o pior? Isso aconteceu três vezes só naquela manhã. No pátio, ele deu meia-volta quando me viu chegando. No corredor, trocou de lugar com o Gumball quando passou do meu lado.

Eu deveria estar agradecida. Deveria mesmo, por ele ter me poupado o trabalho de evitá-lo. Mas eu fiquei estranhamente irritada também. Será que eu tinha feito algo tão terrível? (Claro, além de quase mostrar minha calcinha.)

Isso durou alguns dias. E eu ainda estava com essa interrogação na cabeça.

Cake percebeu.

É claro que percebeu.

— Pensei que ele seria a primeira pessoa a falar com você. Claro, justamente por causa do histórico de "inimigos" — ela fez umas aspas com os dedos — tipo, querer ser a primeira pessoa a te zoar por causa do incidente de sexta passada.

— Por que essas aspas? — perguntei. — Ah, não importa. Sim, ele está. Mas eu ia ignorar ele primeiro!

— Talvez ele esteja só te dando espaço, sei lá — disse Cake, mexendo no armário e depois virando pra mim. — Tipo... respeitando seus limites?

Bufei.

— Mas eu não pedi isso! Eu ia evitar, mas agora não quero mais evitar, porque ele começou a evitar, e isso tira toda a lógica da coisa!

Cake piscou lentamente.

— Nossa. Essa frase aí foi quase um trava-língua — ela segurou a risada. — Sério, eu não te entendo. Não deveria estar feliz que ele finalmente te deixou em paz?

— Eu estou, é claro. Mas eu só quero saber por que ele tá agindo assim. Será que eu fiz alguma coisa errada?

— Você vomitou nos tênis dele depois que eu saí do quarto?

— NÃO! — respondi, ofendida. — Mas quase mostrei minha calcinha. Não sei o que é pior.

Cake soltou um "hmm" pensativo.

Conquest Manual (with Execution Errors) - FioleeWhere stories live. Discover now