Eu e Cake voltamos para dentro da escola. Cake precisava pegar seu material de teatro dentro do armário, o resto do roteiro para ser mais exata. O meu armário era do lado do dela, então o abri para pegar meu exemplar de O Iluminado, de Stephen King, mas acabou caindo um papelzinho no chão no momento que abri a porta.
Quando abaixei, estava escrito:
Na minha garagem, 17h. Não se atrase. – M
Não me contive de revirar os olhos ao reconhecer de quem era dona daquela letra, como habitual quando o assunto era Marshall Lee. Mas também respirei fundo, com uma inquietação estranha dentro de mim.
— O que está olhando? — Cake me perguntou, fechando seu armário. Já estava com o resto do roteiro em mãos.
— Nada. — respondi mais rápido que o normal, amassando o papelzinho e colocando no bolso da calça.
— Tá bom... — murmurou como se não tivesse acreditado muito, mas sem fazer caso. — Vamos passar naquela cafeteria nova?
— Não vai dar hoje, tenho compromisso. — Não era como se estivesse escondendo que iria encontrar com Marshall para "treinar" minhas habilidades de flerte, porque ela sabia do plano, mas eu não precisava contar os detalhes do que acontecia.
Já estávamos fora do prédio, sob um sol tímido e um clima agradavelmente morno.
— Ah, sim. — Ela deu um sorriso malicioso, o tipo que me dizia que sabia exatamente o que eu ia fazer. — Então, boa sorte com o seu compromisso.
O duplo sentido na voz dela me fez sentir o rosto esquentar.
— Então eu vou indo. — apressei os passos para evitar mais provocações. — Até amanhã!
Ela se despediu com um aceno, seguindo na direção oposta. Peguei minha bicicleta no bicicletário, subi nela e comecei a pedalar em direção à casa do Marshall.
O som do vento no ouvido e a sensação de estar indo pra lá me deixavam estranhamente ansiosa. O endereço não ficava longe, fui algumas vezes na casa de Marshall quando era pequena por causa de Finn e dos meus pais. A amizade entre Finn e Marshall nasceu porque nossos pais eram bem amigos naquela época, pelo menos... Antes do divórcio dos meus pais. Depois do dirvorcio parecia que não fazia mais sentido frequentar a casa dos Abadeer, então nossos pais se distanciaram e eventualmente meu pai também se distanciou de mim e do Finn.
Finn e Marshall eram inseparáveis naquela época, só me incluíam nas brincadeiras quando nossos pais insistiam em não me excluir. A pensar que às vezes... Marshall era gentil quando Finn não estava perto.
Quando parei em frente a casa, observei a garagem que contia-se fechada. Mas escutei um eco distante de uma bateria e um riff de guitarra. Fala sério? Ele pede para não me atrasar, mas ele estava atrasado com nosso compromisso, ainda por cima ensaiando com a banda.
Fiquei alguns minutos em pé com a bike. Não podia negar que a casa dos Abadeer era majestosa, talvez exageradamente grande para Marshall e sua mãe morarem. Afinal, o pai de Marshall morreu quando ele era apenas uma criança, tenho poucas lembranças dele. Sua mãe nunca mediu exageros quando se trata de aparências, sempre queria ultrapassar as expectativas. Ela podia muito bem, era dona da maior imobiliária da cidade e consequentemente tinha muito dinheiro.
A música parou por alguns segundos e logo recomeçou, mais alta, como se alguém tivesse girado o botão do amplificador no máximo. Apoiei o pé no chão e fiquei ali, encarando a fachada impecável da casa. Uma parte de mim queria esperar o ensaio acabar, para evitar aquele clima estranho com ele e os outros caras que eu nem conhecia. Outra parte — a mais orgulhosa — dizia que, se ele me chamou, que aguentasse minha pontualidade.
YOU ARE READING
Conquest Manual (with Execution Errors) - Fiolee
Teen FictionFionna Mertens só queria passar despercebida no ensino médio, ouvindo suas fitas cassete e evitando o caos social que acompanha seu irmão popular, Finn. Mas quando Marshall Lee - o garoto mais irritante (e estranhamente magnético) da escola - propõe...
