20 - Resolvendo desentedimentos (ou quase)

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Ele se afastou lentamente dos meus lábios. Foi como aquele choque de acordar depois de um sonho, um sonho muito bom.
Quando abri os olhos, vi a expressão intensa e descompensada de Marshall. A respiração dele ainda estava acelerada, os lábios inchados. Ele me olhava como se tentasse entender o que diabos tinha acabado de acontecer — ou talvez pensando em fazer de novo.

Acho que, se ele tentasse fazer de novo, eu não me afastaria nem um pouco.

Eu tinha esquecido como se falava. Pela primeira vez, eu não tinha palavras.

Ele deu um meio sorriso.
— Então me explica, Mertens — sussurrou, os dedos alcançando uma mecha do meu cabelo e a colocando atrás da minha orelha. — Conseguiu tirar sua dúvida?

Aquilo me desmontou.
— É... — engoli em seco. — Consegui, sim.

Ele claramente sabia o que estava fazendo comigo, dava pra ver pela expressão dele. Me olhava com aqueles olhos bonitos, como se fosse uma força da natureza prestes a me engolir inteira.

Eu não sabia mais o que dizer. Não dava pra soltar um "foi legal a experiência, obrigada parceiro!". Eu simplesmente... não sabia o que fazer.

Acho que o destino decidiu o próximo passo por mim, porque um movimento brusco de uma porta se abrindo perto da varanda chamou nossa atenção. O barulho foi tão repentino que nós dois demos um leve sobressalto. Marshall deu dois passos para trás.

Uma garota ruiva passou pela porta, com passos acelerados e pesados. Mas o que me surpreendeu, foi o meu irmão praticamente correndo atrás da garota. Passaram por nós sem nem perceber nossa presença. O Finn logo atrás, o rosto fechado, as mãos gesticulando como se tentasse explicar alguma coisa. Nenhum dos dois olhou pra mim — o que, considerando a situação, era uma bênção.

Desceram os degraus que levavam até a área da piscina, iluminada pelas luzes roxas que dançavam na fumaça artificial. A garota parou de repente quando Finn segurou o braço dela. A música estava alta demais pra eu entender o que diziam, só consegui captar fragmentos entre as batidas:
— "Espera, Phoebe!"
— "Você não entende o que é ficar sempre em segundo plano!"

Parecia uma discussão inflamada, cheia de mágoa — até que, sem aviso, ele a puxou e a beijou.
Foi um movimento rápido, quase desesperado. Ela congelou por um instante, e então relaxou. Quando se separaram, se abraçaram, como se aquele beijo tivesse sido uma trégua silenciosa em meio ao caos.

Eu fiquei ali parada, assistindo tudo, sem saber o que pensar. Era estranho ver meu irmão daquele jeito — tão vulnerável.

Quando olhei de novo pra Marshall, ele ainda observava a cena, mas agora com uma expressão estranha, como se soubesse algo que eu ainda não sabia. Com certeza. Afinal eles eram amigos, sabiam os segredos um do outro, ou quase todos.

Afinal, o que aconteceu entre a gente vai ser um segredo.

Quando nossos olhos se encontraram de novo, senti um formigamento na minha barriga.

Ele desviou o olhar primeiro, passando a mão pelo cabelo e respirando fundo, como se tentasse se recompor.
— A gente devia... — comecei, mas minha voz saiu baixa demais.
— Fingir que nada aconteceu? — completou ele, com aquele meio sorriso cansado.
Tentei rir, mas o som morreu antes de sair.
— É... provavelmente, sim.

Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, uma voz familiar cortou o ar atrás de mim:
Aí está você! — Cake praticamente surgiu do nada. — Tô te procurando há meia hora!

— Eu... eu tava só...

Olhei pra Marshall, que agora fingia estar muito interessado em qualquer coisa que não fosse eu. Ele me deu um último sorriso e passou ao lado de Cake, me deixando sozinha com ela.

Conquest Manual (with Execution Errors) - FioleeWhere stories live. Discover now