Ele tomou mais um gole de seu café, agora a seriedade era total.
— Pensa comigo. Se ele não quisesse nada, ele teria te evitado completamente. Não teria nem cogitado a ideia de conversar com você sobre isso. Ele te ignorou para se proteger. Mas quando você tentou confrontá-lo, ele estava pronto para falar. E você correu.
Eu abaixei a cabeça, fixando o olhar no meu chocolate quente. As palavras dele batiam com força, encaixando peças que eu nem sabia que estavam soltas. A raiva que senti antes se esvaiu, substituída por uma tontura de arrependimento e confusão.
— O que eu faço agora? — sussurrei.
— Fica sentada aqui.
— Hã?
Flame olhou por cima do meu ombro e sorriu. Depois, se levantou.
— Agora estamos quites pelas aulas de trigonometria — disse baixinho, me dando uma piscadinha. — Olá, Marshall. Que pena que chegou agora, eu estava mesmo de saída. Até depois, Fionna.
Eu fiquei completamente imóvel.
O nome dele ecoou no ar como se o tempo tivesse desacelerado por alguns segundos. Flame deu dois tapinhas leves no meu ombro e saiu do café, me deixando ali — completamente sem preparo algum.
E então eu me virei e o vi.
Marshall estava parado alguns passos atrás de mim. O casaco escuro aberto, ele parecia ofegante como se estivesse corrido, os cabelos levemente bagunçados e uma expressão neutra demais pra ser casual. Ele me olhou por um segundo — só um segundo — mas foi o suficiente pra minha garganta secar.
Eu esqueci de respirar por um momento.
— Posso sentar? — ele perguntou, a voz baixa, hesitante.
Eu só balancei a cabeça.
Ele se sentou no mesmo lugar onde o Flame estava há pouco, o copo de café ainda quente sobre a mesa. Por um momento, nenhum de nós disse nada. O som de When the Sun Hits dos Slowdive no radinho da bancada de madeira, preenchia o silêncio que eu não conseguia quebrar.
— Então... — ele começou, os olhos evitando os meus — você fugiu de mim.
Arfei, surpresa com a franqueza dele.
— Eu... eu não fugi — menti sem nem pensar.
Um sorriso curto apareceu nos lábios dele.
— Fionna, você literalmente desapareceu quando eu saí do escritório do seu tio.
Senti minhas bochechas queimarem.
— Eu só... não sabia o que falar.
— E agora sabe? — ele perguntou, se inclinando um pouco pra frente. O tom dele não era provocador, era calmo. Mas o olhar... o olhar me desmontava.
Eu encarei meu chocolate quente, agora frio.
— Não. Ainda não.
Ele soltou um suspiro, passando a mão pelos cabelos.
— Eu também não.
E aí o silêncio voltou, mais pesado que antes. A gente só ficou ali, dois idiotas encarando um ao outro sem saber como continuar. Nunca em um milhão de anos imaginaria não ter palavras, principalmente se não for para ofender Marshall Lee.
Ele mexia na borda do copo, como se estivesse procurando as palavras certas dentro dele.
— Eu fiquei pensando no que aconteceu — ele disse por fim.
Meu coração deu um salto, mas tentei parecer indiferente.
— Ah... — murmurei, sem conseguir encarar. — Então você pensou.
— Claro que pensei — ele respondeu, com um riso fraco. — Não é todo dia que a Fionna Mertens pede para eu beija-la.
YOU ARE READING
Conquest Manual (with Execution Errors) - Fiolee
Teen FictionFionna Mertens só queria passar despercebida no ensino médio, ouvindo suas fitas cassete e evitando o caos social que acompanha seu irmão popular, Finn. Mas quando Marshall Lee - o garoto mais irritante (e estranhamente magnético) da escola - propõe...
21 - Fingimento
Start from the beginning
