— Certo, agora você me diz: qual é a hipotenusa?
Ele apontou para o lado errado.
— Esse.
Suspirei.
— Não, Flame. A hipotenusa é sempre o lado oposto ao ângulo de noventa graus. Esse aqui. — apontei com a borracha do lápis.
— Ah, sim, claro. — Ele sorriu, mas percebi que era só um reflexo, não compreensão real.
Continuei. Escrevi "sen = cateto oposto / hipotenusa" com a maior letra possível, circulando duas vezes.
— Então, o seno de um ângulo é...?
Ele repetiu as palavras, mecânico:
— Cateto oposto sobre hipotenusa.
— Isso! — tentei soar animada. — Agora resolve esse exemplo.
Entreguei um exercício fácil, coisa de dois números substituídos. Ele ficou olhando para a página, girando o lápis entre os dedos, e depois de longos trinta segundos disse:
— Eu esqueci qual era o cateto oposto.
Fechei os olhos por dois segundos. Respira, Fionna. Tenha paciência.
— O cateto oposto é sempre o lado oposto ao ângulo que você está analisando. Tá vendo? Esse aqui.
Expliquei de novo, desenhei setas, fiz até uma legenda. Ele riu, meio sem graça.
— Nossa, você leva jeito de professora.
Sim, claro. Mas seria mais perfeito ainda se colaborasse.
Seguimos por mais uns vinte minutos, e a cada novo exercício a mesma história se repetia: eu explicava, ele dizia que entendeu, eu passava um exemplo, ele errava. No começo, eu tentava ser compreensiva, reformulando a explicação, inventando metáforas idiotas, até desenhei um triângulo como se fosse uma fatia de pizza para ver se funcionava.
Quando o vi tentando resolver o exercício, quase escapou um suspiro pesado. Acho que estava me sentindo decepcionada, não porque ele não tinha entendido a matéria, mas porque ele parecia não ter um pingo de vergonha na cara. Acho que isso me fez perceber que tinha lados dele que eu não conhecia. Algo estava faltando. Não havia faísca, eu não sentia mais meu coração bater forte... Foi como se tivesse perdido a magia.
Ele olhou para a questão por uns cinco segundos, mordeu a ponta do lápis e devolveu:
— Não faço ideia.
Minha paciência estava a um fio de explodir.
Ok, Flame, você é bonito, simpático e até fofo... mas não existe fórmula matemática que compense esse vazio. Não é química. Não tem fogo. Tem só eu tentando ensinar alguém que claramente não quer aprender.
— Acho melhor terminarmos aqui. — Forcei um sorriso educado. — Podemos marcar outra hora para te ensinar.
— Tem certeza? — Ele franziu as sobrancelhas.
— Sim, imaginei que você não iria pegar tudo em apenas um dia. — Na verdade, pensei que algo pelo menos podia ter saído se ele não estivesse tão avoado olhando para a janela. Sorri educada. — Está liberado.
— Poxa Fionna, você é tão legal. — Ele sorriu, levantando e arrumando suas coisas incrivelmente rápido. — Obrigado mesmo, te pago um café na próxima.
Ele saiu correndo da biblioteca como um raio sem olhar para trás.
Talvez o problema não seja a trigonometria. Talvez o problema seja eu tentando encontrar graça em alguém que prefere desenhar dinossauros no caderno do que aprender um seno.
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Conquest Manual (with Execution Errors) - Fiolee
Teen FictionFionna Mertens só queria passar despercebida no ensino médio, ouvindo suas fitas cassete e evitando o caos social que acompanha seu irmão popular, Finn. Mas quando Marshall Lee - o garoto mais irritante (e estranhamente magnético) da escola - propõe...
17 - Feridas Reabertas
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