14 - Caso Perdido

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Quando eu ia responder, meu tio entrou na loja, com os braços cheios de sacolas. Com apenas um olhar, entendi que se tratava de ajudar a pegá-las.

— O que é tudo isso, tio?

— Pensei em enfeitar a loja, sabe? Logo, logo é Halloween, queria dar um espírito animado ao lugar. — Ele colocou algumas das sacolas na bancada com um sorriso sem graça.

Quando me aproximei para ver o que tinha nas sacolas, encontrei aranhas de plástico, teias, caveirinhas de isopor e até um esqueleto articulado que rangeu inteiro quando caiu sobre o balcão. Mal tive tempo de reagir antes que Marshall já estivesse com uma máscara de vampiro medonha na mão, virando-se para mim.

— Olha só. — Ele aproximou a máscara do meu rosto, como se medisse. — Isso aqui cairia perfeito em você.

— Me poupe. — empurrei a mão dele de volta. — Vampiro combina mais com você.

Ele sorriu de canto, sem negar.

— Talvez.

Meu tio, que até então estava ocupado tirando aranhas e fitas pretas de dentro da sacola, levantou o olhar devagar. Primeiro para mim, depois para Marshall. Seus olhos se estreitaram de um jeito desconfiado. Ele pigarrou, chamando nossa atenção.

— Vocês estão namorando? — Ele perguntou, com uma voz séria.

Quase engasguei com a pergunta. Olhei para o meu tio incrédula e depois para Marshall. Ele parecia estático, tentando processar o que tinha acabado de ouvir. E eu? Bom, claramente sentia que podia vomitar meu coração a qualquer momento.

— O quê? Claro que não! — Eu praticamente gritei, sentindo a necessidade de ser a primeira a negar. Eu queria falar mais, mas parecia que minha cabeça tinha acabado de ser atingida por uma explosão de guerra e não funcionava mais.

Marshall, ao meu lado, não se abalou nem um pouco. Coçou a nuca, meio sem jeito, mas com uma calma irritante.
— Não, senhor. — disse com simplicidade, a voz tranquila. — A gente não namora.

Olhei para ele, ainda vermelha, tentando decifrar como ele conseguia parecer tão natural quando eu estava prestes a cavar um buraco no chão e desaparecer dentro.

Meu tio ergueu as sobrancelhas, ainda desconfiado.
— É que... vocês dois vivem implicando um com o outro. — comentou, ajeitando o esqueleto que não parava de ranger. — Quem vê de fora até pensa que é coisa de casal.

Senti meu rosto queimar inteiro.
— A gente não fica implicando um com o outro! — retruquei rápido demais, soando exatamente como alguém que queria provar o contrário. — A gente só... só não se dá bem. Pronto.

Olhei para Marshall, por que ele não estava tão na defensiva quanto eu? Será que ele queria bancar o maduro ou algo assim?

— Eu namorando com ela? - Marshall da uma risada, como se fosse a coisa mais cômica que ele já tinha escutado. - Eu irrito ela porque é divertido. Mas não passa disso.

Olhei para ele, indignada. Divertido? Estava sendo a pior humilhação da minha vida e ele classificava como "divertido"?

— Está bem. - Meu tio parecia que queria reprimir uma risada. — - Já estendi.

Ele voltou a mexer com as decorações, mas seu olhar mostrava que ele não estava nada convencido e voltou a tirar mais teias de dentro da sacola, murmurando algo sobre "jovens de hoje em dia".

Olhei com a minha melhor cara de assassina para Marshall, estava claramente irritada só por ele existir ao meu lado. Ele percebeu, mas antes que conseguisse falar qualquer coisa, peguei uma das teias de aranha artificiais e comecei a esticá-la sobre as prateleiras de CDs o mais longe possível dos dois.

— Eu te odeio.



Narrativa Marshall

— Uau, você conseguiu deixar ela irritada mesmo. — O tio de Fionna se aproximou, e nós dois ficamos olhando para ela, que estava afastada, enfeitando a prateleira de CDs.

— Quer dizer, você, né? — Virei meu rosto para ele. — Você que começou com essas ideias malucas.

— Malucas? — Ele riu. — Garoto, já se viu olhando para ela? Até uma criança de cinco anos conseguiria perceber que você gosta dela.

Ele me olhou, e o sorriso sumiu por um instante. Pigarreei, revirando os olhos e negando.

— Não sei do que você está falando.

Mas, mesmo depois de falar, as palavras não soaram tão firmes quanto eu gostaria. O silêncio que veio depois me forçou a encarar o chão por um segundo, poucas coisas da vida conseguiria me deixar mais sem graça do que aqueles olhos do senhor Mertens.

— Sei. — disse, num tom de quem não acreditava em nada do que ouviu. - Pode continuar se enganando então.

Ele se afastou. Mas meus olhos se obrigaram a ir em direção de Fionna, eu poderia citar todos os defeitos dela.

Ela é teimosa demais. Sempre quer ter a última palavra, mesmo quando não tem razão. Irritante ao ponto de me fazer perder a paciência em menos de cinco minutos. Desastrada, vive derrubando coisas, tropeçando. Ela é extremamente nerd, sempre querendo bancar a sabe tudo... e fala sem pensar, como se o mundo precisasse ouvir cada opinião dela.

E, céus... irritantemente bonita quando revira os olhos. E quando morde o lábio tentando segurar uma resposta atravessada. E quando fica corada, mesmo tentando parecer durona.

Droga. Que tipo de lista de defeitos é essa?

É, foi como receber um soco bem no meio da cara, pois minha lista de defeitos não parecia fazer mais tanto sentido. O peso irritante dela parecia... viciante.

Olhei para ela de novo, enfeitando a loja com teias de aranha. A música ainda tocava baixinho nas caixas de som, e a voz de Billie Joe parecia me perguntar: "Am I just a fool, or a basket case?" ("Eu sou apenas um idiota, ou um caso perdido?"). E, pela primeira vez, a resposta parecia clara. Eu era os dois.





Olá gente, esse foi o capítulo foi mais curto da fanfic mas precisei escreve-lo pelo desfecho. Espero que entendam hehe. 

Obrigada por me acompanharem até aqui, se cuidem! 🧡

Conquest Manual (with Execution Errors) - FioleeWhere stories live. Discover now