12 - Ensaio na Garagem

Start from the beginning
                                        

Marshall ergueu uma sobrancelha e apenas cruzou os braços, esperando o baterista desaparecer pelo corredor. Quando a porta fechou, o silêncio se instalou, mas não era daqueles confortáveis.

Ele ainda estava perto demais.

— Agora sim — disse, a voz baixa, quase como se fosse um comentário só para ele. — Podemos trabalhar.

Eu ajeitei a postura, tentando ignorar a sensação de que ele estava estudando cada movimento meu.

— E... por onde começamos?

— Por onde paramos ontem — o canto da boca dele subiu, como se a resposta fosse óbvia.

Ele se jogou no sofá de couro, sentando de maneira despojada, com os pés em cima da mesinha de centro. Ele me analisava com aqueles malditos olhos cor ônix, como sempre parecia divertido em me ver nessa situação embaraçosa.

— Acho que é difícil fazer isso sem um cenário para você, então vamos fingir que eu sou o Flame naquela festa que Bonnie deu. — Ele deu dois tapinhas para eu me sentar ao seu lado. — O que estavam conversando?

Sentei-me ao lado dele.

— Bom... conversamos sobre música primeiro, depois sobre minha pintura que ele viu na parede da garagem. Ele queria saber o significado, a história dela, quando eu iria explicar... Mas aquela garota  interrompeu.

— É, isso foi bem embaraçoso... — Marshall segurou o riso.

O olhei como se fosse pular em seu pescoço.

— Calma, estava só brincando... Sabe, Fionna, você é muito estressada, né? — Ele cruzou os braços. — Quem iria aguentar um humor desses?

Fiquei vermelha de raiva.

— Primeiro: que o Flame não falaria assim comigo, você não iria interpretá-lo, não? Segundo: eu sou só assim com você. — Dei um sorriso.

— Que bom saber que você guarda tanto amor nesse seu coraçãozinho só pra mim. — Ele revirou os olhos.

Ele se aproximou mais de mim; o barulho do couro indicava que ele se mexeu para perto. Marshall não conseguia se segurar, e o sorriso de canto se tornou malicioso.

— Por que você acha que ele não falaria assim com você? — Sua voz tornou-se um sussurro rouco, e a proximidade fez a pele do meu pescoço formigar.

— Porque ele não me odeia... — respondi, ainda desconcertada.

— E quem disse que eu te odeio?

Meu coração disparou. Esperava uma resposta sarcástica, mas não aquela. Ele se aproximou ainda mais, a ponto de estarmos mais próximos do que jamais estivemos, e uma pontada de ansiedade me atingiu. Não entendia se ele estava fazendo isso de propósito.

Meu cérebro parecia ter entrado em pane. Não conseguia pensar em nada para responder. Só sentia o calor da presença dele, o leve cheiro de amaciante e a pequena distância me deixando em alerta.

Ele parecia esperar uma resposta, mas o que dizer? Que eu também não o odiava? Que, no fundo, aquela provocação toda era a única coisa que nos mantinha conectados?

Marshall pareceu notar minha falta de reação.

O sorriso malicioso voltou ao rosto dele, e ele se afastou abruptamente. Minha bochecha esfriou instantaneamente. Ele se jogou no sofá, voltando para a posição inicial. A voz retornou ao tom divertido, mas havia um eco estranho no ar.

— Então, vamos voltar aos negócios. O que você faria? Vai me falar sobre essa tal pintura? Prometo ficar no personagem.

O analisei por alguns segundos, até seu sorriso malicioso sumir. Respirei fundo.

Conquest Manual (with Execution Errors) - FioleeWhere stories live. Discover now