— Você é um romântico tolo moderno.
— É, podemos dizer que sim... — lambia os lábios antes de sorrir. — Mas recapitulando a história: nós crescemos e eu não fiquei mais impressionado. Tipo, ela é literalmente igual a mim, implicamos direto, igual irmãos. Então minha paixonite foi rápida. Ela é uma garota muito legal e esperta... Tipo, esperta mesmo. Afinal, ela namora garotas, isso já diz muito.
— Não sei se concordo ou se fico ofendida por gostar de homens.
— Olha, se eu fosse uma mulher também gostaria de mulheres. — Ele deu de ombros.
Ele levantou e foi até minha estante de fitas e CDs. Passava os dedos longos sobre as capas, analisando e provavelmente julgando meu gosto musical — uma pequena provocação, sem dúvida. Parou em um dos álbuns e o pegou, virando-se para mim com um sorriso levemente debochado. Era o CD do Dookie, do Green Day, que estava no auge em 1994 e ainda tocava sem parar em 95.
— Sério? Green Day? — disse, com a voz cheia de ironia.
— E qual o problema com Green Day? Eles são os melhores do punk rock! — defendi, ainda sentada na mesma posição.
Ele deu de ombros, colocando o CD de volta no lugar.
— Acho que eles são subestimados, uma banda que é legal escutar por 15 minutos e depois parece que todas as músicas se repetem. Sem falar que não são nada autênticos, tipo uma banda extremamente mainstream.
— Uau... Marshall Lee, você é um crítico muito severo. — dei uma leve debochada. — Um pé no saco, realmente.
— Ou talvez eu tenha um bom gosto musical?
— Então, o que o grande purista da música ouve? Só bandas que ninguém conhece e que soam como gatos brigando? — provoquei, me sentindo mais à vontade para cutucá-lo um pouco.
Ele deu uma risada, se virou para mim.
— Para o rock punk? Se você diz que Sex Pistols e The Clash soam como gatos brigando...
— Mas agora você jogou peixe grande na rede, isso não vale. — me levantei e fui em sua direção.
— Você quem disse que Green Day é o melhor do rock punk. — Ele deu um sorriso irritante.
— Isso é tão idiota... — murmurei.
— Concordo plenamente. — Ele repetiu, cruzando os braços.
Ele voltou a olhar minha estante, passou os dedos por entre as capas, como se fizesse um inventário de toda a minha personalidade. Retirou uma fita cassete.
— Mazzy Star... quem são? — perguntou, com a voz baixa e genuinamente curiosa.
— Mazzy Star! Eles são ótimos! — respondi, pegando a capa de suas mãos. — O som deles é... como posso dizer? É um tipo de sonho. Mais tranquila, melancólica... tipo um suspiro no meio do caos.
Corri apressada até minha mochila e tirei o walkman de lá. Peguei a fita da mão dele e encaixei no aparelho. Coloquei um fone na sua orelha esquerda, enquanto o outro ficou na minha.
— Escuta, depois reclama — avisei.
Ele revirou os olhos, mas me deu um sorriso positivo.
Retirei os dedos lentamente em volta do seu fone e apertei o play.
O som deslizou no ar, suave e hipnótico, como se a voz da cantora sussurrasse através das paredes, alcançando direto o fundo do peito. No silêncio do quarto, tudo desacelerou — até a respiração de Marshall, que ficou imóvel, com os olhos fechados.
Era como se a música revelasse um segredo que ninguém mais conseguia entender, uma tristeza doce, quase esquecida, que se enroscava na alma e despertava memórias que nem sabíamos que existiam.
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Conquest Manual (with Execution Errors) - Fiolee
Teen FictionFionna Mertens só queria passar despercebida no ensino médio, ouvindo suas fitas cassete e evitando o caos social que acompanha seu irmão popular, Finn. Mas quando Marshall Lee - o garoto mais irritante (e estranhamente magnético) da escola - propõe...
11 - Teatral
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