— Já vou, preciso pegar algo para beber antes — me levantei da espreguiçadeira e me coloquei de pé.

Marceline fez o mesmo.


(...)


Entrei de volta na casa porque a cerveja estava acabando e eu precisava de mais alguma coisa pra fingir que sabia o que estava fazendo. Foi aí que notei uma movimentação suspeita na sala de estar: três pessoas completamente desconhecidas, agachadas atrás do sofá, mexendo no móvel antigo da minha mãe.

Três adolescentes suspeitos. E eles estavam mexendo justo no armário de bebidas. O armário proibido. Aquele com as garrafas guardadas para "ocasiões especiais" e que nunca são abertas.

— Ei, vocês não deviam mexer aí — falei com um fiapo de autoridade que nem eu levei a sério.

Os três viraram ao mesmo tempo pra mim, com a expressão de "quem é você?".

— Quem é você, exatamente? — perguntou o garoto de boné virado pra trás, já com uma garrafa de vodka na mão.

— Eu... — engoli em seco. — Sou a Fionna, irmã do Finn.

— Irmã do Finn? — a garota de franja, com um vestido florido, repetiu como se eu tivesse acabado de dizer que era irmã do Sebastian Bach.

E foi assim que consegui instalar o caos.

— A irmã do nosso anfitrião? — o garoto de cabelo descolorido, usando uma camisa do álbum In Utero do Nirvana, abriu um sorriso gigante. — Então você é praticamente a dona da casa!

— Não sou dona de nada, tecnicamente — murmurei, mas já era tarde demais.

— Isso muda tudo. Toma, um shot com a gente! — A garota me puxou até a mesa de centro da sala, enchendo um copo com um líquido escuro que parecia gasolina. — Pela boa anfitriã!

Estava completamente cercada, sem rota de fuga. Eu poderia dizer não? Claro que sim. Mas com aqueles três me olhando e toda a minha pressão social me empurrando pra frente... já era tarde demais quando percebi o copo nas minhas mãos.

— Está bem — suspirei. — Só um shot.

— Só um! — repetiram os três, animados como se fosse uma seita.

Virei o copo.

Imediatamente quis voltar no tempo.

A bebida queimou minha garganta como se eu tivesse engolido óleo diesel. Mas mantive o sorriso. Firme. Digna. No máximo, com um leve tremor no olho esquerdo.

— Isso aí! — o garoto de boné levantou o copo.

— Sabia que você era legal! — disse o da camisa do Nirvana, me dando tapinhas nas costas.

Apenas concordei com um sorriso forçado e levantei o punho com uma falsa comemoração silenciosa.

— Fionna?

Avistei Cake me olhando do outro lado da sala com uma expressão "o que você está fazendo aí?". Respondi com "me tira daqui" apenas com o olhar. Ela entendeu. Como toda boa amiga faria, se meteu no meio dos três e me puxou pra longe.

Eu estava me sentindo levemente tonta.

Aquele shot caiu como uma luva.

Minha primeira experiência com bebida destilada foi um sucesso. Um sucesso digno do fracasso.

— Eu estava te procurando, seu irmão também... mas ele acabou desistindo pra ir com uma garota pro segundo andar.

— Achei bem a cara dele — murmurei. — Preciso de ar...

— Vamos lá fora — ela colocou as mãos em volta dos meus ombros, me guiando.

Apenas acenei com a cabeça.

Quando pisei meus pés para fora de casa, senti que todas as pessoas estavam localizadas aqui. A atmosfera estava fora do normal. Vendo a banda do Marshall Lee tocar, o que eu não imaginaria era que ele era o vocalista e baixista da banda. Nunca tive interesse em descobrir a formação da sua banda, nem o estilo que ela era. Eu não queria elogiar, mas não podia deixar de reconhecer uma banda formidável.

Um garoto forte, de cabelos pintados de roxo, estava na bateria. Eu o reconheci porque já o vi passando algumas vezes no corredor do colégio. Ele parecia estar se divertindo muito enquanto batia com força as baquetas no surdo e tom-tom.

O guitarrista parecia ser o mais alto dos três, cabelos compridos e magricelo. Ele parecia estar no seu próprio mundo enquanto tocava, fazendo um solo calmo, mas com os dedos se movendo rápido. Nunca o tinha visto — provavelmente não estudava na nossa escola.

Mas o que realmente me chamou atenção foi o próprio Marshall. No centro da cena, com o baixo pendurado no ombro e o microfone bem próximo da boca, ele parecia outra pessoa. O cabelo bagunçado caía um pouco sobre os olhos e ele balançava levemente a cabeça no ritmo da música. A voz? Parecia que não fazia sentido sair daquele idiota convencido.

Ele era a própria personificação de confiança. Parecia se sentir tão à vontade com milhares de olhos em cima dele, como se tivesse nascido pra isso.

E eu? Bem... estava ali parada, levemente tonta (graças ao shot), encarando o Marshall como se tivesse acabado de descobrir que ele era, na real, um personagem de um filme que eu assistiria escondida umas dez vezes só pra ver de novo a mesma cena.

Quando a música subiu num refrão mais alto, ele fechou os olhos e inclinou a cabeça pra trás. As veias do pescoço saltaram um pouco, os dedos deslizando numa nota mais longa no baixo, e ele cantava sorrindo.

Aquele maldito sorriso de sempre me fez voltar à realidade, me lembrando que ele ainda era o Marshall Lee.

Cake dançava e pulava ao lado, como todos ao meu redor. E eu senti meu corpo meio solto, leve demais. Como se eu tivesse virado uma boneca de pano que queria dançar, mas mal sabia se conseguia ficar de pé. E a música do Marshall, que antes parecia só uma trilha sonora boa... agora parecia poesia. Ele canta bem... tipo... MUITO bem. Isso devia ser ilegal.

E foi aí que percebi: eu estava oficialmente bêbada. Não tipo tropeçando e vomitando. Mas tipo... totalmente descoordenada.

Conquest Manual (with Execution Errors) - FioleeWhere stories live. Discover now