2 - Balada dos Anos 80

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— Nossa, obrigada pela parte que me toca — fiz um teatrinho de comoção falsa. — E o que vocês vão fazer de tão sensacional?

— Beber, conversar, ver se o Jake consegue falar com alguma garota sem babar — respondeu, encostando na bancada. — Coisas civilizadas.

— Uau, super empolgante — disse no tom mais ácido que consegui.

— Você sabe que o plano é trazer garotas pros amigos do Finn darem uns pegas, né?

— E mesmo assim me convidou? Cruzes, Marshall.

— Preciso de um parceiro. E hoje você vai ser o meu. Não me deixa sozinho no meio desses animais. Sei que um lado do seu coração gelado como o Ártico tem pena de mim — disse.

O jeito que ele me olhou foi um golpe baixo. Seus olhos deveriam ser confiscados pelo governo, pelo simples fato como é uma arma mortal, porque não daria de negar nada para eles.

— Você só não quer ficar com ninguém e vai me usar pra afastar as garotas — cruzei os braços.

— Bingo — disse ele, levantando a garrafa. — Garota esperta.

Dei de ombros. Estava irritada, mas... curiosa também. Voltei pra sala e fui recebida com um abraço de lado do Jake — já era tradição. Marshall ficou do outro lado da sala, me observando e ergueu a cerveja em agradecimento silencioso.

A campainha tocou.

Finn foi atender e logo entrou com quatro garotas: Marceline (a garota do teatro) e ela tinha um estilo totalmente punk, Bonnibel (a rainha do colégio), super popular e linda, Íris (melhor amiga na Bonnie) com um sorriso doce e jeito inocente, e Lumpy — uma garota de cabelo roxo volumoso, batom escuro e estilo totalmente único

As três primeiras cumprimentaram todo mundo educadamente. Já Marceline veio dando soquinhos de leve nos garotos — mas em Marshall, ela deu um daqueles socos de quem tem liberdade demais.

— Oi, nunca te vi antes — ela disse, vindo até mim. — Estuda na nossa escola?

— Sim, sou caloura — sorri.

— Ela é minha irmã — Finn se intrometeu. — Fionna, minha irmã mais nova.

— Maldita genética dos Mertens — Marceline me encarou por alguns segundos antes de soltar isso. Ainda não sei se era um elogio. — Sou Marceline.

— Fionna — respondi, devolvendo o sorriso.

— Ela vai ficar com a gente? — Bonnibel perguntou.

— Sim — respondeu Marshall, seco, como se fosse óbvio demais até pra perguntar.

Marceline revirou os olhos e cochichou: — Não liga. Ela parece metida, mas é legal... às vezes. Aliás, temos vagas no teatro. Interesse?

— Nem vem colocar ideia na cabeça da Fionna — Marshall apareceu atrás de mim, cobrindo meus ouvidos com as mãos como uma criança. — Assim ela nunca vai ter uma vida social decente.

— Minhas ideias são arte, coisa que você nunca entenderia com sua bandinha de garagem de quinta — respondeu Marceline, empurrando ele de leve.

Ele riu e tirou as mãos.

Antes que ele retrucasse, entrei na conversa:

— Na verdade, tenho uma amiga que provavelmente se interessaria. Cake. Brilhante. Vocês iam se dar bem.

Marceline e eu começamos a conversar. Com pequenas aparições de provocações de Marshall, claro. Apesar de eu não entender sobre o mundo das artes na prática, coloquei meu conhecimento nerd em jogo: citei referências de musicais, autores de peças, até HQs dramáticas. E não é que ela curtiu?

Ela é simplesmente uma das pessoas mais sinceras e engraçadas que já conheci. Me contou como começou no teatro, como prefere música a monólogos e como odeia ensaiar cena romântica com gente que cospe quando fala.

Marshall entrou na conversa pra contar a história de como eles se conheceram — numa competição de música na infância. Viraram rivais por um ano inteiro. E depois... amigos inseparáveis. Ela é uma cantora nata, segundo ele. Segundo ela, ele é um péssimo backing vocal que desafina de propósito.

Eu não esperava me sentir tão confortável. E parecia que Marshall também não esperava isso — mas, vez ou outra, seus olhos voltavam pra mim como se estivesse tentando entender alguma coisa que não fazia sentido ainda.

Gumball, do outro lado da sala, gritou:

— Ei, pombinhos! Já que vocês pararam de se odiar por dois minutos, vão buscar mais bebida. Amo vocês!

Ele jogou a chave do carro pro Marshall, que pegou no ar com facilidade. Revirei os olhos. Gumball amava essa palhaçada de fingir que éramos um casal. Eu já nem retrucava. Finn também não gostava, mas agora só fazia careta e deixava passar.

— Vamos — disse Marshall, me puxando pela mão como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

A noite lá fora estava fria, e meu casaco parecia mais decorativo do que funcional. As luzes da rua davam à calçada um tom alaranjado pálido, meio triste. Entramos no carro. A luz da rua atravessava o para-brisa como sombras líquidas. Marshall ligou o rádio e, como se o universo estivesse de brincadeira, começou a tocar I Remember You, do Skid Row.

— Não acredito que tá tocando música boa — murmurei, quase pra mim mesma.

— Eu sei... — ele respondeu, num tom baixo, quase reverente. — Essa é uma das minhas favoritas.

Olhei de relance. Ele mantinha uma das mãos no volante, a outra batucava no painel, acompanhando o ritmo. Pela primeira vez, não havia uma piada pronta, uma provocação... só silêncio. Mas não era vazio. Era denso.

O carro parecia pequeno demais. O som da música, a voz rouca do vocalista, o ar parado entre nós. Quase dava pra ouvir meu próprio coração batendo.

Ele também pareceu notar. Virou o rosto lentamente, e nossos olhares se cruzaram por um segundo a mais do que deveriam. Rápido demais pra ser algo... mas longo o suficiente pra fazer meu estômago afundar.

Desviei o olhar.

— Só pra constar... mesmo que esteja quase suportável ficar do seu lado, ainda te odeio — falei, tentando soar casual, mas minha voz saiu mais fraca do que eu queria.

Marshall riu pelo nariz, sem tirar os olhos da estrada.

— Eu sei. Eu também te odeio.

Mas, naquele carro, sob as luzes amarelas da rua, ao som de uma balada dos anos 80... a gente sabia que não era tão verdade assim.

Conquest Manual (with Execution Errors) - FioleeWhere stories live. Discover now