55. Ignávia

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Clarke

 Clarke lambeu a ponta dos dedos delicadamente, como se cada sabor fosse precioso, e infelizmente era. Desde que chegou, os dias arrastavam-se em uma monotonia sufocante. Cada refeição parecia ser a mesma, um lembrete constante da sua situação angustiante. Ela passava longas horas imersa em pensamentos, perdida em memórias e planos de fuga que pareciam cada vez mais distantes.

 O tic-tac monótono do relógio parecia ecoar pelos corredores vazios da cela, marcando o passar do tempo de forma implacável. Os olhos de Clarke ardiam de exaustão, uma testemunha silenciosa do peso esmagador do confinamento.

- Estão usando vocês para nos tirar informações sobre toda a tecnologia da Arca - começou o chanceler, pensativo. - Querem o nosso antigo poder, e talvez mais que isso.

- Você acha que... minha mãe disse tudo? - Clarke questionou.

- Eu não sei, na verdade. Ela estava lutando contra tudo isso, você sabe como ela é, mas agora... não sei se vai aguentar muito tempo. Eu sinto muito, Clarke.

  O coração de Clarke disparou ao ouvir aquilo. A simples menção da situação de sua mãe era o suficiente para fazer as lágrimas ameaçarem transbordar. Sentindo uma mistura avassaladora de ansiedade e desespero, Clarke se levantou de um salto, sentindo-se incapaz de permanecer parada enquanto o tempo escorria entre seus dedos. Ela não podia simplesmente ficar ali, esperando, enquanto todos que amava corriam o risco de morrer.

 Com os olhos vasculhando a cela em busca de qualquer sinal de esperança, Clarke notou o guarda do outro lado, encostado em uma parede distraído em suas próprias ocupações. Ela não pôde deixar de sentir uma pontada de compaixão por ele. Afinal, eles deviam passar horas a fio testemunhando a dor e a morte nessas celas, buscando qualquer distração possível da realidade sombria que os cercava.

 Ao lado de fora das grades, uma tocha lançava uma luz fraca e tremeluzente, iluminando o corredor escuro. Clarke teve uma ideia repentina e, sem hesitar, esticou o braço para alcançar a tocha. Mesmo diante dos protestos abafados de Wells, ela ignorou suas súplicas. Com um salto decidido, finalmente conseguiu agarrar a tocha, sentindo o calor reconfortante do fogo contra sua pele.

- O que você quer fazer? Clarke, isso é muito perigoso! -  Wells tentou pará-la com as palavras, o que claramente não deu certo. 

- Apenas não atrapalhe - Ela procurou desesperadamente por mais ideias, seus olhos vagando freneticamente pela cela à procura de qualquer recurso que pudesse ajudá-la. Foi quando seus olhos se detiveram no lençol velho de Wells. - Rápido, me dê seu lençol. 

 Sem questionar, Wells apenas obedeceu e passou o cobertor pelas grades. Clarke segurou o lençol com firmeza, sentindo o calor das chamas sob seus dedos. Ela ouviu o chanceler resmungar algo do tipo "isso é perigoso", mas decidiu ignorá-lo. Quando o fogo se espalhou pelo tecido e uma nuvem de fumaça começou a se formar, o guarda ergueu o olhar para ela. Clarke suprimiu um sorriso e rapidamente assumiu uma expressão assustada, gritando por socorro, enquanto o fogo iluminava o cômodo e a esperança brilhava em seus olhos.

  O coração de Clarke martelava tão alto que ela podia quase sentir suas batidas ressoando em seus ouvidos. O medo a consumia, temendo que seu plano não desse certo, que ninguém acreditasse em suas ações desesperadas e a deixassem para morrer. No entanto, a realidade se revelou diferente.

Dois guardas se precipitaram em direção à cela de Clarke. Um deles, com olhos castanhos que brilhavam à luz do fogo, destrancou as grades e a libertou. Ele segurou Clarke com firmeza, surpreendendo-a. A loira havia planejado escapar assim que as grades se abrissem, mas agora estava presa nos braços do guarda. Sem tempo para planejar, ela decidiu agir por instinto.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100|Where stories live. Discover now