50. Fogo da Alma

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Dylan

Ele se acomodou ao lado de Teresa, observando Bellamy seguir na direção onde Lincoln estava. Ao voltar seu olhar para Teresa, percebeu que ela estava acariciando com o polegar o vidro de um relógio antigo, o que despertou sua curiosidade inicial.

- O que é isso? - perguntou, apoiando o queixo no ombro dela.

- O relógio da Clarke... ela faz tanta falta.

- O Bellamy é a prova disso - admitiu, cabisbaixo. - Afinal, ele melhorou?

- Definitivamente não, mas está tentando ser forte pela irmã.

- Eu o entendo. Não consigo nem imaginar o que faria se te perdesse - murmurou, dirigindo-lhe um sorriso terno.

Ela virou o rosto na direção dele e, com um leve sorriso nos lábios, depositou um rápido beijo em sua bochecha. Dylan não estava apenas falando por falar; suas palavras vinham do fundo do coração, e ele nunca mentiria sobre algo tão importante.

- Você se lembra de quando nos conhecemos? Na fogueira, sabe, depois que a Clarke te expulsou do acampamento. Desculpa tocar nesse assunto, mas foi nossa primeira interação.

- Tá tudo bem - Dylan entrelaçou sua mão com a dela. - Não tem como esquecer. Mesmo bêbado, você estava linda. Nunca deixou de estar, na verdade.


Dylan se acomodou no tronco de uma árvore caída, erguendo uma garrafa de álcool improvisado, observando o vaivém das pessoas ao redor que dançavam e produziam música com instrumentos rústicos esculpidos em madeira. O líquido desceu pela sua garganta, deixando um rastro de ardor, mas nem mesmo aquela sensação foi capaz de distraí-lo das memórias recentes. O ardor na garganta palidecia diante do fogo que consumia seus olhos em lágrimas e seu coração em descrença, quando a garota que ele amava o rejeitou de forma tão contundente... em todos os sentidos.

- Eu já passei por isso - disse Teresa, aproximando-se e sentando ao lado dele.

- Eu estou bem.

- Então suas lágrimas são de felicidade? - indagou ela, observando-o enquanto tomava outro gole da bebida forte. - Olha só, erros não definem quem nós somos. O que importa é o que você faz para mudar isso depois.

- Eu deixei que matassem famílias. Clarke está certa em não se relacionar comigo.

Ela pegou o frasco de álcool da mão dele e o afastou, chamando sua atenção para si. Teresa relaxou ao lado dele e examinou seus olhos vermelhos com cautela.

- Uma vez, um garotinho foi atingido por terráqueos enquanto passeava fora do refúgio sem que ninguém soubesse - começou ela. Dylan a olhou com curiosidade, tentando entender por que ela estava contando uma história de repente, mas continuou ouvindo em silêncio. - Acontece que, nosso médico havia morrido de uma doença incurável e era eu quem estava tomando conta de todos por ali, pela primeira vez, colocando em prática tudo o que aprendi com ele. Quando trouxeram a criança pra mim, vi que havia uma lâmina dentro dele, perfurando seus órgãos a cada movimento. Eu estava nervosa e só conseguia pensar em chorar, mas não chorei, Dylan. Foi horrível. Eu fiz tudo o que pude, tudo o que aprendi, mas cometi um erro. Eu demorei demais, fiz tudo com tanta cautela que esqueci que não havia tanto tempo.

Dylan ouvia atentamente, sentindo-se envolvido pela narrativa de Teresa.

- E depois?

- Ele morreu na maca onde o coloquei. Ele morreu por minha causa, e sei que se nosso antigo médico estivesse vivo, ele não teria morrido. Eu me lembro perfeitamente do rosto da mãe dele quando viu o próprio filho morto. Ela me disse aos prantos que havia confiado em mim, e embora isso de certa forma fosse bom, eu me senti um monstro. Isso ainda dói em mim, e toda vez que estou cuidando de alguém, tenho medo. Tenho medo de falhar novamente e fazer mais uma família sofrer. Tive medo com Clarke, mesmo tendo um ajudante ali comigo. Mas tudo correu bem. Isso não apagou meus medos completamente, mas algo em mim mudou. Aquele erro não me tornou a pior pessoa do mundo, porque eu lidei com ele e continuei a cuidar de todos até entender que nada disso foi realmente minha culpa. Tudo foi para que eu aprendesse. O que eu quero dizer é que você aprendeu, Dylan. Você aprendeu a ser alguém bom e ajudou a todos, mesmo quando apontaram o dedo na sua cara e disseram que você não era confiável. E dane-se se agora Clarke Griffin pensa o mesmo. Você não é um monstro. Pare de sofrer por quem te rejeitou e vá aproveitar este momento. Nós salvamos nossos amigos das mãos de William, e tenho certeza de que todos os procedimentos que ele seguiu não foram comandados por você, e mesmo que tivessem sido, isso mudou agora. Sinceramente, eu adoro esse novo Dylan ai dentro - ela tocou com o indicador no peito dele. - Independente do que ele foi e fez no passado.

Ela secou o canto dos olhos com os dedos, lutando contra as lágrimas que ameaçavam escapar, e então se ergueu com um sorriso trêmulo. Teresa desviou o olhar para a banda improvisada de pessoas felizes logo atrás e fez um gesto como se estivesse puxando Dylan para dançar com uma corda invisível, mas ele permaneceu imóvel. Ainda estava assimilando tudo, mas Teresa não permitiu que ele se entregasse à tristeza novamente. Com cuidado, ela segurou suas mãos, levantando-o e posicionando-o de frente para ela.

- Aceita dançar com uma bela donzela feliz, Novo Dylan? - sussurrou Teresa em seu ouvido, exibindo um sorriso largo.

- Eu não sou tão bom nisso, bela donzela feliz - respondeu Dylan, finalmente permitindo-se sorrir.

- Um cara como você nunca recebeu um convite de alguma mulher?

- Já dancei com cinco crianças em uma praça quando fiquei bêbado pela primeira vez - ele respondeu, entrando na brincadeira. Teresa não conseguiu conter o riso diante da revelação.

- Serei a primeira mulher então - ela entrelaçou suas mãos nas dele novamente. - Não pise no meu pé, por favor.

Dylan concordou com a cabeça, puxando-a para mais perto e conduzindo-a para o centro da clareira. Eles se misturaram entre os inúmeros casais dançando ao som de uma música duvidosa, ambos tão absortos um no outro que mal conseguiam prestar atenção nos arredores. Dylan ergueu as mãos entrelaçadas dos dois ao alto e fez Teresa girar, acolhendo-a novamente em seus braços.

Ele se sentia feliz, de alguma forma. Teresa o fazia feliz, e parecia que boa parte de sua tristeza havia se dissipado. Através do sorriso perfeito de Teresa, ele vislumbrava um brilho dourado que parecia perdurar infinitamente.

Era Teresa Everdeen, não Clarke Griffin.


Dylan retornou a Teresa após uma longa conversa com Bellamy. Quando se sentou diante dela, indicou discretamente Raven, Dean, Octavia, Bellamy e Sasha com o dedo indicador, chamando a atenção dela para o grupo.

- Vou para a aldeia com eles. Você quer ir? Kendall vai ficar no comando por aqui

- Não. Meu povo precisa de mim. Ainda sou a curandeira daqui, e vou continuar sendo até ficar bem velhinha.

- E eu vou te amar até morrer. Na verdade, vou te amar até mesmo depois disso.

- Para de falar assim - resmungou. - Parece até uma despedida.

- Não quis dizer isso - ele soltou um riso soprado, deixando um selar no pescoço dela e escalando até seus lábios. - Eu vou voltar o quanto antes.

- Já estou com saudades! - gritou em resposta quando o viu longe.

-Notas-

Juro que me arrependi MUITO de ter colocado o nome da Teresa do meu livro de Teresa, pq lendo os livros de Maze Runner percebi que odeio MUITO mais a Teresa.

O que me conforta é que a Teresa da minha fanfic tem a aparência e personalidade da Katniss Everdeen de Jogos Vorazes, porque se não fosse isso, eu morria de arrependimento KKKKKK

Enfim, continuem lendo e MUITO obrigada pelos votos e comentários. Isso é muito importante pra mim.

Beijos da autora💋💋.

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