52. Resiliência

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Bellamy

- Entendo sua posição, mas você precisa entender a gravidade da situação em que estamos. O inimigo que enfrentamos não é algo que possamos lidar individualmente. Precisamos unir forças para ter qualquer chance de sobrevivência - Octavia parecia quase desesperada, seus olhos úmidos denunciavam a intensidade de suas emoções.

Enquanto isso, Murphy, impaciente como sempre, soltava murmúrios irritados ao fundo, expressando sua frustração pela demora nas negociações.

- Não posso tomar essa decisão sozinha. Preciso do apoio de minha comunidade. Faremos uma reunião esta noite. Se eles estiverem dispostos a considerar sua proposta, estaremos lá. Mas ainda há tempo para desistir caso mudemos de ideia - A expressão de Maham era séria, refletindo a magnitude da decisão que estava prestes a ser tomada. - Agora, por favor, se retirem daqui antes que mude completamente de ideia e me deixem em paz pelo resto do dia.

O grupo saiu da cabana em passos rápidos, empurrando-se uns aos outros, até finalmente sentirem o ar fresco do lado de fora. Octavia parecia um pouco atordoada, e ele se perguntou se era devido à conversa extremamente íntima entre Lincoln e Maham que havia acontecido lá dentro.

- Olha só, não fica mal com isso não - Bellamy se aproximou, um pouco sem jeito.

Ele é péssimo com conselhos.

- O quê? Não estou mal - negou, cruzando os braços.

- Eu te conheço, Octavia. O que eu quero dizer é, conversa com ele sobre isso antes de tomar qualquer decisão precipitada. Provavelmente entendemos a conversa de forma errada.

 Ela o olhou, perdida em pensamentos por um momento, antes de deixar escapar um sorriso fraco e voltar a encarar o chão.
Assim que Lincoln saiu da cabana, Bellamy lembrou-se subitamente de uma dúvida que o havia perturbado durante as últimas palavras de Maham. Ele se aproximou de Lincoln com determinação, pronto para finalmente resolver aquela questão que o incomodava.

- Oi, Lincoln. Você tem um minuto?

Lincoln virou-se para Bellamy, um tanto atordoado, e Bell presumiu que fosse devido ao tempo prolongado que passou na cabana conversando com Maham.

- Ah, desculpa - pigarreou Lincoln. - Eu tenho tempo sim.

- Só estou pensando por que ela prefere decidir com toda a vila em um jantar.

 Lincoln coçou a sobrancelha com os dois dedos, revelando um nervosismo sutil.

- Bem, é mais ou menos uma tradição - começou ele, escolhendo cuidadosamente suas palavras. - Maham estabeleceu essa regra como uma forma de evitar os erros do passado. Antigamente, os líderes decidiam tudo sem consultar o povo, o que gerava muita insatisfação e divisão. Agora, sempre que surge uma decisão crucial, organizamos uma ceia. Se a maioria discordar, a decisão praticamente fica nas mãos dessa maioria. Mas aqui está o detalhe interessante: eles têm um enorme respeito por Maham. No final das contas, acabam concordando com ela. Ninguém quer arriscar desfazer o laço com seu líder. Maham é tudo o que têm para protegê-los, caso algo aconteça.

- Mas por que ela aceitou nos ouvir? Não é como se ela não quisesse nos matar desde o início.

- Apesar de tudo, talvez ela ainda queira acreditar em mim -  murmurou ele, notando a confusão nos olhos de Bellamy. - Eu e Maham... tivemos algo especial. Eu a amava, mas ela colocou tudo isso de lado para focar nos interesses dos terráqueos. Não a culpo por isso. Quando se torna líder, você não vive mais por si mesmo, mas sim pelos outros.

 Ele pausou por um momento, revivendo memórias dolorosas. 

- Em uma dessas ceias, decidiram executar meus pais porque eles haviam permitido a entrada de estranhos em nossa vila. Eu estava prestes a fugir e deixá-los para trás quando encontrei sua irmã, Octavia. Quando a vi com Clarke na floresta, senti que precisava protegê-la dos outros terráqueos que estavam por perto. Acabei sendo descoberto por um deles e precisei mentir, dizendo que havia sequestrado Octavia. Dylan também estava lá...

- E depois nós chegamos, não é? - Bellamy completou o pensamento de Lincoln, interrompendo o relato com uma tristeza compreensiva em sua voz.

- Sim. Vocês escaparam por pouco porque consegui convencer os terráqueos, mas Maham me odiou naquele momento. E o ódio dela só cresceu desde então.

- Deve ter sido incrivelmente difícil para você.

 Lincoln apenas assentiu, sem conseguir encontrar palavras para expressar o peso de suas experiências passadas.

 Um silêncio desconfortável se estendeu, e Bellamy estava prestes a rompê-lo quando o grupo todo se reuniu ao redor deles. Os rostos dos presentes exibiam expressões variadas, alguns ainda pareciam desnorteados, sem saber ao certo o que fazer enquanto aguardavam pelo banquete que seria realizado em breve. Bellamy lançou um olhar significativo para Lincoln, compartilhando um breve momento de compreensão antes de se juntarem ao grupo para aguardar o desfecho da noite.

- O que vamos fazer agora? - Sasha perguntou.

- Vamos esperar sob os olhares de todos -  disse Lincoln. - Não podemos sair do campo de visão deles, se não vamos ser mortos. Acreditem em mim, vocês não vão querer saber o que aconteceu com os últimos que fizeram isso.

- Eu quero saber, na verdade - Octavia proferiu, autoritária. - Precisamos saber com o que estamos lidando, afinal, não temos muitos motivos para que ela confie na gente. Ou temos? 

- A Ov tá certa. Eu pensei que ia rolar umas ameaças e brigas, mas foi fácil demais - Murphy a compreendeu.

 Octavia estava fazendo as perguntas certas, mas Bellamy percebeu que havia mais do que simples curiosidade nelas. Ela estava buscando algo específico, e Bellamy podia sentir isso no tom de sua voz e na intensidade de seu olhar. Octavia queria, acima de tudo, entender o que havia acontecido entre Lincoln e Maham, e essa necessidade estava se tornando cada vez mais evidente.

 Observando a situação se desenrolar, Bellamy agiu rapidamente. Ele puxou Octavia um pouco mais para longe do grupo, segurando firmemente seus ombros assim que pararam. Seus olhos encontraram os dela, transmitindo uma mistura de preocupação e determinação.

- Octavia, eu sei o que você está tentando fazer, mas isso não é o momento -  disse ele em um tom sério, mas gentil. - Deixa pra conversar com ele depois, por favor. Nós estamos aqui pela Clarke e pelo Wells. Se vocês discutirem, vão saber que estamos fora de controle e o pior pode acontecer.

 A expressão brava de Octavia só aumentou a preocupação de Bellamy, que estava lutando para conter o medo crescente em relação ao que poderia estar acontecendo com Clarke e Wells. Ele passou os dedos nas sobrancelhas, sentindo-se inquieto e à beira das lágrimas. Tentou desviar o rosto, evitando que Octavia visse sua angústia, mas antes que pudesse reagir, foi envolvido por um abraço forte da irmã.

 A sensação reconfortante dos braços de Octavia ao redor dele foi como um bálsamo para sua alma aflita. Ele se permitiu afundar naquele abraço.

- Eu não vou fazer nada que te preocupe, Bell - ela acariciou os cabelos dele. - Não vamos perder eles. Eu sinto isso.

 Por um momento, as preocupações e os medos se dissiparam, substituídos pela sensação reconfortante. E ali, naquele abraço, Bellamy encontrou um momento de paz em meio ao caos ao seu redor.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100|Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ