1. O povo dos céus

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Clarke

Tomou firmeza e abriu os olhos. A cápsula de aço vibrava regularmente e seus ouvidos fora definhados pelo horror do estouro de gritos impetuosos e da sirene excessivamente peturbadora que não parou de tanger desde que estiveram fora da Arca.

Clarke estudou o local com o olhar - mesmo que transbordassem em água naquele momento - e envolveu seus joelhos em um abraço, que os deixasse na altura do peito. Alguns pareciam inconscientes, ou apenas não consideravam se iriam morrer ou não. Enquanto a maioria chorava seguidamente.

Era estranho pra ela, parados e ao mesmo tempo caindo em um planeta radioativo na qual nem sabem se há chance de vida. Talvez isso dê razão as expressões melancólicas e assustadas de todos ao seu contorno. Mas por que ela era uma das única que não berrava ou chorava descontroladamente?

Acaso fosse a única que merecia estar ali, presa entre a vida e a morte. Uma Griffin, morrendo pelos atos indiscutíveis na qual tentará fazer tempos atrás apenas porque, acreditava na palavra esperança. Que idiotice. Não iria morrer por salvar uma vida importante, mas sim por tirá-la. Isso era ainda mais doloroso pra ela.

O cheiro de fumaça se espalhou junto à névoa.
Pedaços de metal incandescente começaram a voar sobre eles. Ela poderia jurar que viu chamas crescerem ao entorno do módulo de transporte, que a fez realmente entrar em desespero. Mas antes de tirar qualquer conclusão, foi interrompida pelo choque da cápsula contra a superfície. Tão rápido quanto começou, tudo aquilo havia terminado.

Eu morri? Não. Ainda estou na nave.

A mesma havia parado de tremer e o aço não se chocou contra nada outra vez. E só nesse ápice ela pôde distinguir o quão tonta estava, o quanto seu corpo inteiro doía. Ninguém vociferava mais, metade da nave estava destroçada. Sangue, metal derretido e vômito tomavam o local por inteiro. Tudo estava silencioso. Um espontâneo minuto de silêncio em homenagem ao mundo que eles estavam deixando para trás, ao que já deixaram.

Entretanto, o clima solene não durou muito. Logo o estalo dos cintos que os prendia firme a cadeira se fez presente. Algumas pessoas os arrancavam com um estímulo que possivelmente procedeu do pânico. E Clarke faria o mesmo, se não tivesse sido impedida por um dos garotos já em pé fronte a si.

- Precisamos ajudar todos! - clamou para os demais já em pé.
Seu cabelo atingia a altitude do ombro, suas pupilas vibravam em aflição e só consequentemente a loira identificou a roupa estranha em que trajava. - Você está bem?

- Sim, estou - antes que ele fizesse qualquer movimento, a mesma arrancou os cintos e se afastou da cadeira. Ele virou-se rapidamente em sua direção e franziu o cenho. - Desculpe. Conhece Wells Jaha?

- Sim, mas ainda não o vi. Talvez possa me ajudar com todos aqui, em algum momento vai vê-lo. - pediu, expondo um sorriso estreito. Ele aparentava ser simpático pra ela. - Eu sou o Monty, aliás.

- Clarke.

Sem ofertar tanta notoriedade e interesse Clarke dirigiu-se ao restante, que batalhava para se soltar como um pássaro preso à gaiola. Enquanto caminhava naquele curto espaço - relutante em razão a dor que tomou seu corpo - acarava todos os cadáveres espalhados. Alguns arremessados pela pressão brutal que consumiu todo o metal.

Estava realmente preocupada com Wells, apesar de imaginar que seu meio irmão já tenha o salvo. E espera que tenha o feito, mesmo pelo fato de que Bellamy Blake fora uma das primeiras pessoas em que odiou.

O som do aço rangendo foi audível, lhe trazendo à realidade. Ela estreitou os olhos devido a luz extremamente forte que adentrava a o módulo de transporte. A porta de ferro se abria lentamente, e então todos os olhares se dirigiram a ele.

A loira se encaminhou a saída da nave. Poderia ser tudo o que sonhou, poderia ver árvores, flores, água e talvez um céu azul deslumbrante.
Apesar de não saber o que pode ocorrer no momento em que tocar os pés na superfície, a Griffin suspirou fundo, assustada, e assim o fez.

Por um curto momento, notou apenas cores quentes, sem formas. Listras amarelas e então marrom, tão vibrantes que seu cérebro não era capaz de processar. O vento soprou seus cabelos, fazendo sua pele se arrepiar e inundando seu nariz e ouvidos com cheiros e sons que eram indescritíveis para ela. A princípio, tudo o que conseguiu ver fora quase nada.

Não tem nada?

Ergueu a sobrancelha. ela vasculhou tudo o que pôde com o olhar, e tem certeza que os outros também fizeram o mesmo.
Não estava vendo nada além de uma muralha de pedra. Nada.

Ainda sim o ar era menos pesado, estava realmente respirando agora. A luz do sol refletia contra os seus fios loiros, tornando-os dourados de certa forma. A mesma direcionou seu olhar ao portão extremamente grande que se encontrava em frente a nave. Que lugar é esse?

- Clarke! - a voz familiar se fez presente. Antes mesmo que pudesse virar-se em direção a ela, os braços incrivelmente fortes de Wells a envolveu por inteiro. Clarke imediatamente retribuiu o abraço, mesmo que fosse árduo por obra do corpo robusto do amigo. - Te procurei por todo lugar lá dentro. Achei que estava morta.

- Bem, estou com você agora.

Por cima do ombro de Wells, Clarke avistou corpos sendo arrastados para fora do módulo de transporte. Sangue, que antes inundava o módulo, agora formando um rastro longo de vermelho escuro.

O portão de possivelmente 6 metros de altura rangeu atrás dos incontáveis jovens confinados, fazendo a Griffin desvencilhar-se do corpo do amigo.
O portão enfim se abriu por completo e uma lufada de poeira soprou. Mal puderam piscar e, então, homens armados correram em direção ao exterior da muralha, formando um círculo ao entorno dos jovens. Clarke se esquivou, franzindo a testa.
A quanto tempo aquelas pessoas viviam ali e como sobreviveram?

Vozes agitadas foram audíveis, e antes que o irmão de Wells pudesse avançar em um dos homens, uma sombra invadiu o círculo.

Um velho de pele clara e cabelos grisalhos acarava todos com um sorriso malicioso em seu rosto, que de alguma forma fez Clarke se encolher. Ele ajeitou a gravata que envolvia a gola de sua camisa e limpou a garganta.

- Sejam bem vindos a Arkidia. Eu sou o William.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora