26. Corações confusos

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Bellamy 

  A lua iluminava o alto das árvores, refletindo luz prateada sobre o círculo de madeira que ocultava o acampamento. Bellamy enrugou o nariz, prendendo a respiração enquanto perfurava a lâmina da faca no animal para abri-lo completamente. Ele já estava acostumado a desossar e retirar toda a carne dos veados quando Octavia ou Eric estavam ocupados, mas agora ele estava se ocupando por vontade própria, mesmo com Eric ali, pois não queria nem pensar em tudo o que estava acontecendo. Fazia quase um dia desde que Clarke e Bellamy não trocavam uma palavra, e ele até poderia ir atrás dela se soubesse exatamente onde encontrá-la. Desde que encontraram Gally, desde que quase se beijaram, a relação entre os dois desmoronou. Bellamy torcia para que não tivesse afastado Clarke tentando beijá-la mais uma vez e achava que ignorar isso faria com que ela voltasse, mas ela continuava agindo de forma estranha.

- Como você acha que eles estão? - perguntou Eric logo após estender uma fração da carne na fogueira. 

- Eles quem? - questionou Bellamy, despertando de seu transe.

- Nossa família. Eu sei que não fui o garoto perfeito, mas será que eles se sentem culpados lá em cima? Será que há algum tipo de memorial pra nós?

Bellamy levou os olhos ao céu estrelado.

- Não sei. Acho que sim. 

No entanto, Bellamy discordava dessa ideia. Ele tinha plena convicção de que, a depender de seu pai, todos - exceto Wells - seriam apagados da memória, assim como ele fez com a mãe de Bellamy, assim como ele fez com Bellamy ao vir ao mundo. Mas será que, talvez, em algum lugar lá em cima, havia alguém aguardando por ele? Haveria alguém que se recordaria dele, por motivos positivos ou não? Entretanto, não importava, as únicas pessoas que ele desejava que não o esquecessem estavam ali embaixo com ele. Bellamy procurou Octavia com o olhar e prontamente a encontrou. Ela parecia triste e solitária, mas ele também se sentia assim. As coisas pareciam estar estranhamente desfavoráveis.

 Bellamy fixou o olhar na escuridão entre as tendas, revelando a silhueta de uma mulher sob a luz do corredor. O coração de Bellamy acelerou ao perceber que era Clarke. Ela estava parada à sua frente, com uma expressão hesitante no rosto, como se estivesse reunindo coragem para falar.

Ele tentou desviar o olhar, mas parecia algo impossível quando os olhos azuis dela pareciam afogá-lo no oceano. 

- A comida foi suficiente hoje? - ela perguntou.

- Sim. 

Um silêncio perturbador se estendeu entre os dois. Clarke deu um passo adiante, mas não se aproximou demais. Ela estava inquieta, como se tivesse palavras entaladas no fundo de sua garganta.

- Bellamy... - sua voz era suave, quase um sussurro. - Desculpa, eu não queria ter agido daquela forma. Eu só... estava confusa com muitas coisas e acabei descontando em você e na Teresa. Dylan foi embora, eu descobri que ele era apaixonado por mim, eu estava me sentindo sobrecarregada, não queria parecer fraca e a gente...

- Tudo bem. Eu entendo - Bellamy batalhou para aparentar estar o mais sereno possível.

- Boa noite.

Ele viu a sinceridade em seus olhos, a vulnerabilidade que ela raramente mostrava, mas antes que ele pudesse ao menos respondê-la, ela foi embora, desaparecendo diante de seus olhos.

Bellamy já havia percebido isso há muito tempo, porém recordar parecia doloroso agora. Não era apenas o sentimento de conforto de estar próximo a ela. Era um sentimento mais profundo, um anseio de estar ao lado dela não apenas como um amigo, mas como alguém que a amava sinceramente. Ele não conseguia mais negar. Era amor, puro e simples. Um amor que o fazia sorrir quando ela sorria, que o fazia desejar estar ao lado dela em todos os momentos. Era um amor que o impelia a protegê-la a qualquer custo, mesmo que isso significasse dar sua própria vida. Era um amor que o fazia desejar vê-la todos os dias, que fazia com que ele sentisse que seu coração poderia explodir a qualquer momento, que nas sombras prateadas da noite, desejava tocar os lábios dela e dizer o quanto a amava, o quanto sempre a amou desde que se conheceram, e quanto tempo esperou para finalmente poder encontrá-la novamente. 

A simples presença de Clarke Griffin era o suficiente para manter sua alma viva.

- O que tá rolando entre vocês? Meio que todo mundo sabe da discussão, mas ninguém poderia imaginar que chegaria a esse ponto - começou Eric, surgindo ao seu lado repentinamente.

- Já nos resolvemos.

- Eu não acredito nisso. Você foi completamente rude com ela.

- Eu fui?

- Sim, foi.

Mas como seria agora a relação entre os dois? Bellamy se arrependeu de ter sido tão vago e de não ter conseguido dar nenhuma resposta adequada que realmente revelasse o que ele sentia. Clarke era a garota que ele mais amou em toda a sua vida, não havia razões concretas para ele agir como se não a amasse, para além do fato de que nada disso parecia ser recíproco. Na verdade, ele se perguntava se tudo isso era falso ou se Clarke apenas permitiu que ele quase a beijasse pelo simples calor do momento. Refletir sobre tudo isso o deixava louco, de fato, mas ele tinha alguma escolha? Clarke Griffin continuava a fazê-lo sentir emoções loucas o tempo todo.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100|Where stories live. Discover now