53. À Deriva

8 1 0
                                    

Wells

 Wells se acomodou na cadeira do hospital, observando Abigail se retirar e deixá-los a sós. O chanceler, seu pai, chamou-o com um simples gesto do indicador, e mesmo hesitante, Wells se ergueu. Havia coisas que ele queria dizer ao pai, coisas que o deixavam com medo, mas que precisavam ser ditas.

- Bellamy não matou a mãe dele por conta própria. Ele é inocente - começou Wells. Imediatamente a expressão do chanceler se alterou.

- Ele omitiu um crime de natalidade, Wells. Além disso, defendeu Octavia quando ela me atacou há algumas horas atrás. Não é certo defendê-los.

- Não é certo defender os seus filhos?  - Wells estava incrédulo. - Pai, você nem foi ao tribunal. Apenas disse palavras amargas ao meu irmão antes dele ser preso. Se você está nessa maca, com certeza teve motivos.

- O que está acontecendo com você?

 Wells estava prestes a responder à pergunta do pai, mas no momento lhe faltou coragem. Lembranças dolorosas inundaram sua mente, especialmente o momento em que Bellamy foi preso, antes mesmo de ter a chance de se desculpar com o corpo desacordado de sua mãe. As palavras duras do chanceler Jaha despertaram o pior na irmã de Bellamy e Wells. E foi assim que Octavia atingiu o chanceler, um golpe que o deixou preso nas camas de hospitais.

 Houve um tempo em que Wells teria temido admitir sua cumplicidade nos eventos dos últimos quatro meses. No entanto, depois de cometer o erro devastador de trair a confiança de Clarke e entregar o pai dela, e ao ver a tristeza dela em relação a Bellamy, tudo mudou. Nada mais parecia importar. Ele se sentia sobrecarregado pelo peso de suas ações, pela culpa avassaladora que o consumia. Em meio a esses pensamentos sombrios, Wells se viu desejando que tudo acabasse, ansiando por um alívio para sua angústia insuportável. 

 Ele só queria morrer.

- Eu fui cúmplice, pai. Eu escondi a Octavia junto com o Bellamy, mesmo sabendo que a mãe deles só podia ter um filho. Eu participei de tudo e vi tudo.

No começo, o pai de Wells ficou visivelmente surpreso com o que ouviu, tanto que seus batimentos cardíacos aceleraram consideravelmente, ecoando alto no aparelho ao lado da cama. No entanto, depois de alguns longos segundos de silêncio tenso, sua expressão começou a se suavizar. 

- Está tudo bem. Mantenha isso em segredo e não deixe que chegue aos ouvidos de Rhodes.

 Aquilo irritou Wells profundamente. Como seu pai poderia agir daquela maneira diante de uma situação tão grave? Era como se Jaha estivesse minimizando ou ignorando a gravidade das confissões de Wells. Não merecia ser acobertado, não merecia ter suas ações ignoradas ou subestimadas, e e ele próprio chegou à dolorosa conclusão de que não podia continuar nesse caminho. Era hora de assumir a responsabilidade por suas escolhas.

- Pai, eu quero ser preso. Eu preciso disso, e até mesmo não me importarei se for banido da Arca como Bellamy e Octavia serão. Como o pai de Clarke foi. - Wells falou com determinação, mas sua voz tremia ligeiramente com a emoção.

 O chanceler Jaha arregalou os olhos, seus batimentos cardíacos aceleraram audivelmente no monitor ao lado da cama. 

- Você só tem quinze anos, Wells! Eu não posso aceitar isso. E quanto aos seus sonhos? Você é o próximo na linha de sucessão - exclamou ele, sua voz carregada de preocupação e incredulidade.

- Bellamy também só tem quinze anos! Ele e Octavia tinham muitos sonhos. Não faz sentido continuar vivendo aqui sabendo que eu também os ajudei. Você pode ser imaturo e medroso, mas se ser o chanceler significa ser como você, eu prefiro morrer aceitando o fato de que também fui um criminoso! - Wells retrucou, sua voz ecoando com uma mistura de raiva e resignação.



 A fraca luz iluminava o ambiente sombrio e opressivo da cela. Wells acordou subitamente, assustado, os olhos se ajustando lentamente à escuridão. Seu coração batia tão rápido que o som ambiente parecia distante e irrelevante. Ele mal percebia a presença de Clarke na cela ao lado, tão absorvido estava em seus próprios pensamentos tumultuados e ansiosos. 

- Você está bem? Parece que teve um pesadelo.

- Aonde nós estamos? - Foram as primeiras palavras dele.

Clarke ficou pensativa por um momento, seus olhos vagaram pelo ambiente antes de se voltarem para Wells, que ainda estava deitado, visivelmente atordoado.

- Eu não sei. Mas olha só, seu pai está aqui - ela disse.

Os olhos de Wells se arregalaram e ele rapidamente se levantou, seu coração acelerando com a urgência da situação. Seu olhar buscava freneticamente pelo local abafado até encontrar o chanceler Jaha deitado na pequena e desgastada cama, dormindo profundamente. Naquele momento, Jaha não parecia o homem que havia sacrificado seus princípios pelo poder, mas sim um simples homem cansado e triste, ansioso para reunir-se com seus filhos.

- Puta merda. O que aconteceu depois que fomos sequestrados? Por que o meu pai está aqui?

Ele estava tão surpreso e confuso que mal conseguia assimilar o que estava acontecendo, sentindo-se como se estivesse em um nevoeiro de memórias fragmentadas. Era como reviver os momentos turbulentos da batalha contra os terráqueos, lembrando-se vagamente da mãe de Clarke e de outras imagens indefinidas que piscavam em sua mente como fragmentos de um quebra-cabeça ainda não montado.

- Eu não faço a mínima ideia, Wells - Agora Clarke parecia querer chorar. - Eles só foram trazidos pra cá para responder algumas perguntas e passar informações, mas eu... não sei onde minha mãe possa estar. Não sei aonde meus amigos estão. Não sei se o Bellamy está bem.

Wells se calou, percebendo que não faria sentido bombardear Clarke com perguntas quando ela própria parecia estar tão perplexa quanto ele. Enquanto ela secava as lágrimas com os polegares, desviando o olhar, Wells sentiu uma pontada de culpa se formando em seu peito. Ele sabia que suas dúvidas estavam apenas começando a surgir novamente, e a sensação de urgência só aumentava.

Seja lá qual fosse a intenção daquela mulher misteriosa ao trazê-los para aquele lugar, uma coisa era certa em sua mente: se não conseguissem escapar o mais rápido possível, as consequências seriam fatais. E ele sabia, sem sombra de dúvida, que a única opção era encontrar uma maneira de fugir, antes que fosse tarde demais.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100|Onde histórias criam vida. Descubra agora