12. Doce lar

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  Clarke

  Lá estava, em meio ao labirinto de árvores, muros de pedra banhados pelos raios de sol. Parecia um verdadeiro paraíso em comparação com tudo o que eles haviam visto e vivido na terra. Dentro das ruínas, existia uma sociedade coexistindo, bem diante dos seus olhos. A diferença ali era que lá havia sorrisos genuínos, famílias amáveis e o que poderia ser um sonho realizado para Clarke, diferente de Arkidia.

 Ela desceu a colina, acompanhada por Dylan que pulava de entusiasmo ao lado de Octavia. Eles pararam em frente ao refúgio, esperando ansiosamente que alguém aparecesse e os permitisse entrar. Uma mulher cujo cabelos ruivos sedosos cintilavam contra o sol os recebeu, semelhando-se confusa. Dylan estava prestes a falar quando a mulher entrou novamente pelo portão. Ela não voltou.

- Acho que ela não vai mais voltar, assim como eu- Bellamy interrompeu sua frase quando a mulher reapareceu, acompanhada por mais duas pessoas, desta vez com um bonito e contagiante sorriso.

- Deixe-me adivinhar; o povo do céu, não é mesmo? - A outra garota de cabelos castanhos iniciou. Clarke assentiu. - Bom, eu sou Raven. Sei que parecem desconfiados, pois nós em suas posições também estaríamos assim, mas posso garantir que aqui é o lugar ideal. 

- Por favor, nos acompanhem - mesmo com receio, Clarke foi a primeira a entrar, depois Bellamy, Octavia e os demais. 

De uma proximidade mais íntima, tudo se tornava mais belo. Estavam diante de pequenas casas, de cujas chaminés saíam nuvens de fumaça, uma construção maior que lembrava um hospital e algumas áreas onde cercas mantinham animais que pastavam tranquilamente. Clarke não conseguia parar de observar as pessoas. Estavam por toda parte: carregando cestas abarrotadas de legumes, empurrando grandes carroças cheias de lenha, caminhando pelas ruas e cumprimentando a todos com um gentil "bom dia", como se fossem amigos íntimos. Crianças pulavam nos paralelepípedos enquanto outras brincavam na terra que cercava as casas. Clarke poderia facilmente imaginar seu futuro ao lado dos filhos e de seu possível marido, apesar de um vazio às vezes a inundar.

 Aliás, ela percebeu o olhar de Bellamy sobre si, antes de se virar e vê-lo sorrindo genuinamente, como uma criança eufórica. 

- O que meu fã número 1 faz parado ai me admirando? - ela se aproximou, caminhando ao lado dele, que riu do comentário.

- Estou apenas observando minha amiga se contentar com pequenos detalhes, apesar de eu ter achado legal a parte da comida. Tô morto de fome - deitou a mão sobre o estômago.

- Há mais de 6 anos estamos abrigando todos que caem da Arca, tendo como objetivo proteger vocês e criar uma sociedade saudável e bem formada - Raven os interrompeu. - É claro que, antes precisam conversar com o nosso líder. É ele quem administra tudo por aqui desde os primeiros habitantes. Portanto, temos regras a estabelecer.

- E que regras são essas, vossa senhoria? - questionou o Blake com o mesmo sorriso malicioso do habitual.

- Dean vai cita-las - enquanto avançavam em direção a uma estrutura maior do que todas as outras, Clarke dirigiu-se até um canto específico. Ali, depararam-se com uma jaula que aprisionava uma criatura de proporções colossais. Sua pelagem era de um negro absoluto, e seus rugidos eram ensurdecedores, enquanto desferia golpes potentes na estrutura com uma força impressionante. Raven se aproximou da loura e tocou seu ombro. - Chamamos de gorila. O encontramos dilacerando alguns terráqueos por ai, e por receio, o capturamos. Não foi um trabalho fácil garota, mas isso apenas mostra a vocês como podemos cuidar de vocês sem complicações. A propósito, se mantenha longe dele se não quiser ter pesadelos.

O gorila dava origem aos corpos encontrados por eles a dias atrás, quando Octavia fora sequestrada.

Durante todo o percurso, Clarke observou à distância a súbita aproximação de Bellamy e Raven, claramente incomodada. Ela havia tentado ignorar todas as provocações de Bellamy com a garota, as mesmas provocações que ele usara contra Clarke. Mas tudo estava bem, certo? Eles eram amigos.

 A outra mulher ruiva lhes informou que Dean - o possível líder - só os receberia ao entardecer. Dylan permaneceu ao lado de Clarke por um bom tempo, talvez de algum modo a confortando, já que ele havia percebido seu desconforto e imaginou que fosse pelo medo de estarem no refúgio, mas não era. Não poderia ser, pois Clarke passou todo o tempo maravilhada com o local, fazendo pequenas anotações mentais de cada detalhe. Ela tinha certeza de que seus pais iriam adorar aquele lugar e estar ali a fazia sentir-se próxima deles de alguma forma.

- Ei Dylan - Clarke o recorreu, se acercando pausadamente do próprio. - Vou explorar um pouco, nos vemos mais tarde.

- Volte rápido. Tô com tanta fome que vou devorar o seu prato se eu estiver guardando pra ti - ela riu junto a ele, virando-se na direção contrária a eles e saindo calmamente.

Clarke esperava que aquilo não a levasse a uma punição. Ela desejava descansar e finalmente saborear uma refeição decente, mas se permanecesse mais um momento ali, provavelmente perderia o apetite e nunca conseguiria dormir. Clarke deambulou por onde pôde, observando as crianças se divertirem e adentrando qualquer pequeno estabelecimento que encontrasse. Ela ansiava por conhecer melhor aquele lugar e pôde constatar que o refúgio era vasto. Ela percorreu os paralelepípedos, já quase anoitecendo, e logo teria que encontrar o líder daquela sociedade. 

Mais próxima da saída, Clarke se surpreendeu com o que presenciou: Octavia estava ao lado de um homem alto, de tez escura e visivelmente suspeito. Octavia virou-se para Clarke e, nervosa, despediu-se apressadamente do homem.

- Quem era ele? - questionou, com a testa franzida.

- Ninguém importante. Ele só me ofereceu ajuda com algo - Octavia impeliu Clarke com as mãos e envolveu sua nuca, forçando-a a caminhar até a mesma estrutura grandiosa e desconhecida que Clarke não conseguia identificar. - Por que estava chateada?

- Eu não estava chateada.

- Claro que estava. Anda, somos amigas e você pode me contar - Clarke programou sua resposta por um curto momento.

- É só que, eu passei o tempo todo em que tinha sem pensar no medo de morrer fantasiando meu possível recomeço onde eu finalmente deixaria meu passado para trás, mas a todo momento eu me lembro de tudo o que aconteceu e tudo o que acontece me trás arrepios. Eu tenho medo de estar aqui, acho que ainda existem sentimentos intensos por certas pessoas, eu sinto falta dos meus pais e penso demais sobre o futuro o tempo inteiro. 

- Não sei se consigo ajudar já que não tive tanta experiência, mas minha mãe diria que ao em vez de se preocupar com o futuro, tente focar  no presente e em pequenos passos que você pode dar agora. Recomeçar é assustador, mas acho que cada dia é uma nova oportunidade. Eu nunca consegui esquecer a morte da minha mãe, o confinamento dos meus irmãos e o meu julgamento, e isso nunca vai se apagar, mas quem sabe eu não passo a pensar no presente e perceber que está tudo bem agora? 

   Clarke tinha se esquecido de quão à vontade se sente na presença de Octavia. As duas rapidamente estabeleceram uma conexão especial, apesar do pouco tempo juntas. De fato, os filhos de Jaha eram adoráveis, e não é coincidência que Clarke se dava bem com todos eles. Agora, ela se encontrava a caminho do escritório do líder, onde cada palavra sua poderia levá-la à derrota.


𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100|Donde viven las historias. Descúbrelo ahora