Impostor | Park Jimin

44. Uma boa dupla

Quando falamos de sentimentos, a aparência com certeza não é um fator que o limita e para mim não há qualquer dúvida disso. Jimin e Jisung possuem rostos iguais, mas por Kevin eu só sinto nojo e desprezo enquanto sinto admiração e atração por Jimin. Uma forte atração, vale salientar. O seu caráter, a sua personalidade e até mesmo a sensação que o timbre da sua voz me traz são infinitamente mais importantes do que a sua aparência. Jimin é diferente em tudo, é atraente em tudo. A sua aparência não representa um problema, não me causa o desconforto de lembrar do Kevin e isso acontece há anos, porém hoje é uma convicção absoluta. Às vezes até esqueço que os dois são gêmeos idênticos e que um homem com aquela mesma feição já esteve presente na minha vida, já foi casado comigo e me prejudicou. Estar com Jimin me fazia tratar a existência de Jisung como algo pequeno demais para ser recordado e considerado. Entretanto, reconheço que essa existência é real e que está inserida no meu passado, mas que diferença faz na minha vida agora? Que se dane o que passou!

O coreano que está comigo em Boston nada tem em comum com o seu irmão, além, é claro, do aspecto físico. E isso não tem relevância alguma, pois Jimin me faz muito bem com a sua companhia extremamente agradável. Ele já era uma pessoa de fácil convivência no passado, porém é impossível não mencionar a grandiosidade da minha descoberta sobre quem esse rapaz é de verdade. Posso finalmente dizer que conheci Park Jimin. O verdadeiro Park Jimin. Óbvio que ele está mesclado com o Jamie Park – que reflete modificações pontuais em seu comportamento, como ficar mais atento a possíveis atitudes maldosas dos outros, não se disponibilizar demais para ajudar e não sair da sua zona de conforto ao ponto de ficar incomodado somente para garantir o bem-estar de outras pessoas – e isso faz tudo ficar ainda melhor. Eu o conheci verdadeiramente e pude conhecer também as suas mudanças, então posso até afirmar que estou atualizadíssima no quesito Park Jimin.

Gracinhas à parte, não há dúvidas de que evoluímos bastante após o processo horrível que passamos e de que nos reencontramos em outra cidade para ter a chance de nos conhecermos de verdade. Livremente. Pela primeira vez. Jimin e eu. Claro que havia um passado que nos envolvia – e dele veio o nosso amadurecimento –, mas, se quiséssemos continuar sendo amigos, não nos restava outra alternativa a não ser aceitá-lo e saber conviver com ele.

— Bem... Amigos não é a palavra certa pra definir, vai... — Bufei diante do comentário de Claire, que gargalhou. Peyton também ria. — Vocês não são apenas amigos. Não seja leviana.

— Nos beijamos em um único dia! Um dia específico! — Rebati falando alto. — E aconteceu há cinco meses! — Dei de ombros. — Não demos nem um selinho depois disso!

— E sabe o que significa? — Peyton disse sorridente. — Que vocês dois são resistentes! Só isso! — Zombou. — Porque... Enfim... Todos nós sabemos que a vontade existe em ambos.

— E como! — A nossa amiga ruiva continuou brincando, se divertindo. — Vai me dizer que você não tem sonhos eróticos com a noite agitadíssima que desfrutou ao lado dele depois do beijo no bar? — Cruzou os braços e eu, encurralada, soltei o ar com força. Claire está certa... Lembrar daquela noite ainda me afeta bastante. Positivamente, é claro. Me faz desejar que aquele momento se repita várias e várias vezes. — Olha aí... — Riu. — Se ficou calada...

— Ah! Cala a boca! — Resmunguei e a sala do meu apartamento explodiu em risadas novamente. — Vocês são idiotas!

— Mas explica... Ou tenta... — Peyton enxugava os olhos molhados pelas lágrimas. Se divertiu tanto assim com a minha expressão de desgosto? Que legal... — Vocês não conversaram mesmo sobre o que fizeram naquela noite? Não comentaram nada sobre terem ido pra cama? Por quê?

— Não — observei o meu pé inquieto, que, suspenso, chacoalhava sem parar enquanto eu tinha as pernas cruzadas. — Não havia o que ser conversado. Nós dois sentimos vontade de fazer aquilo e fizemos. Foi isso.