37. Embate intenso

3.2K 336 441
                                    

— Como é? — A minha pergunta saiu em um sussurro e o rapaz me olhou por cima dos óculos de grau.

— O valor de cada bem passará por reajuste em breve porque as suas posses serão reavaliadas — continuou. — Isso acontece periodicamente e, dependendo do faturamento dos estabelecimentos e da valorização do local das residências, pode aumentar — sorriu. — As casas são localizadas em Seattle, a choperia em Los Angeles e a chocolataria está em Orlando — conferiu com atenção. — Lugares incríveis — elogiou. — Por que tanto susto? Não sabia que o carro era seu? — Riu fraco. — Surpresa do senhor Park?

— Hm... — Engoli em seco, tensa. O meu corpo inteiro tremia. A minha suspeita se confirmava e não poderia ser mais decepcionante e triste. — Há quanto tempo? — Pigarreei para disfarçar a voz falha. — Há quanto tempo tenho todos esses bens?

— A senhora não sabia?

— O meu marido não deu detalhes, quis fazer surpresa sobre... Sobre tudo isso... — Me esforcei para rir fraco, atordoada. O funcionário estava muito confuso agora. — Há quanto tempo?

— Bom... — Remexeu-se na cadeira e olhou para a tela do computador. — Os estabelecimentos e as duas casas foram adquiridos há cerca de um ano e meio — abri a minha boca em espanto, porém logo me recompus. — Todos no mesmo mês — acrescentou e me encarou ainda sorrindo. — O senhor Park fez um grande investimento pra senhora.

— Sim... É verdade... — Sussurrei atônita. — Bem, eu... Preciso ir... — Levantei da cadeira e rapidamente percebi que as minhas pernas estavam bambas. Droga. — Obrigada pelo serviço — sorri fechado e virei as costas para ele. — Tenha um bom dia.

Fechei os olhos, respirei fundo e me dediquei para dar passos firmes até a saída do cartório. E já dentro do carro mais uma vez, entreguei-me ao choro incontrolável. Eu fui completamente usada. Além de tudo, Jisung utilizou o meu nome para lavar dinheiro. É... Lavagem de dinheiro, não havia outra explicação para aquele cenário. O meu nome estava sendo usado como escudo para encobrir um esquema milionário. Meu Deus... Eu nunca tive tantos zeros na minha conta! E não saber de onde veio, como veio e o porquê veio era angustiante. Depois de me acalmar, decidi voltar para casa e compartilhei a notícia constrangedora com a minha mãe. Após uma explosão de fúria, a mais velha finalmente percebeu as minhas lágrimas e me deu o abraço que eu tanto precisava desde que fui ao banco e descobri a pontinha desse problema gigantesco.

— Como está se sentindo agora? — Ela questionou quando nos encontramos na sala. Era noite e eu havia tomado uma decisão importante. — Por que está vestida assim? Vai sair?

— Vou até a casa do Jisung — anunciei. — Preciso falar desse assunto logo. Tenho pressa, principalmente porque o meu nome está sendo usado em um crime — suspirei alto, angustiada. — E se a polícia descobre? Eu serei presa!

— E você não teria como se defender das acusações?

— Não tenho ideia! — Neguei com a cabeça. — Talvez eu possa provar que nunca administrei esses bens e as contas, mas... Enfim... Não quero pensar nisso agora.

— Kevin vai retirar o seu nome dessa sujeirada ou eu vou até lá e juro que serei capaz de agredir um homem debilitado! — Ameaçou com seriedade. — Não estou brincando.

— Eu vou resolver isso, mãe — me aproximei para beijar a sua bochecha. — Fica tranquila e toma o seu remédio daqui a dez minutos, está bom?

— Você está bem pra reencontrar aquele indigesto? — Não pude deixar de rir. — Falo sério, filha.

— Não se preocupe — pisquei o olho e caminhei até a porta. — Eu dou conta.

E enquanto dirigia até a residência, me peguei pensando em como enfrentaria o Kevin novamente. Céus... Era a terceira vez em pouco mais de uma semana. Confesso que apesar de desejar encontrar todos os segredos que me cercam para só então conseguir seguir em frente depressa, o que estou vivendo está sendo muito pesado. Descobri que o meu marido me destratou por meses porque achava que eu era a culpada por perder o meu filho, que ele nunca me respeitou, que já não me amava, que não tinha interesse real em consertar a nossa situação – algo que, sendo sincera, também não me interessava mais e eu não percebi –, que o desgraçado me traiu durante o meu período de luto, que engravidou outra e, agora, que usava o meu nome para desviar dinheiro da empresa que trabalhava. Sim... A teoria de que todos aqueles milhões pertenciam à PLC era a mais forte e coerente. Mas o que fazer diante de tudo isso? Como proceder?

Impostor | Park JiminWhere stories live. Discover now