33. Indecisão

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— Você está estranha desde a conversa que teve com o Samuel — Jisung comentou, analisando-me indiscretamente enquanto comia o seu jantar. Eu estava sem fome e havia terminado a refeição primeiro. — Mal tocou na comida — suspirou. — O médico disse algo sério? Eu tenho alguma sequela?

— Não, você não tem nada — me esforcei para rir fraco. — Está tudo bem contigo.

— Você... — Ainda me analisava. — Você vai ficar comigo em Denver?

— Vou, mas precisarei me dividir entre as duas cidades por causa da minha mãe.

— Compreensível — sorriu largo. — A minha sogra está mais tranquila?

— Está.

— Quer que eu fique calado pra você dormir um pouco? — Nos entreolhamos em silêncio enquanto ele esperava por uma resposta. — Acho que estou sendo inconveniente.

— Não se preocupe com isso — ri de verdade agora, aproximando-me para segurar o seu rosto e beijá-lo brevemente. — Eu vou querer dormir, sim, mas não é porque você está me incomodando. Só estou cansada.

— Perfeito — bebeu alguns goles do seu suco. — Se precisar de algo, estou aqui do seu lado. Descansa, amor.

Direcionei um breve sorriso para o mais velho, que estava mais loiro do que nunca depois de retocar a cor de seus fios, e cobri os meus olhos com uma máscara de dormir. Eu precisava de tranquilidade para relaxar e o ambiente relativamente silencioso me permitia isso, porém os pensamentos envolvendo Jimin não me deram sossego. A curiosidade de saber como estava sendo a vida dele em Portland me consumia, assim como o desejo de encontrá-lo e de ouvir as novidades animadoras saindo da sua própria boca carnuda. O que acontecia comigo? Por que eu quero estar perto ao mesmo tempo em que desejo me distanciar do Park? Me sinto altamente dividida, angustiada e com medo do que pode acontecer daqui para frente. E estou tão confusa e indecisa que sequer consigo organizar as sequências do que penso, avaliar a coerência dos meus desejos e nem descobrir a ação que mais me satisfará neste momento de tamanha instabilidade.

— Estados Unidos! — Jisung disse alto, sorrindo largo ao sair do carro com o apoio de Samuel. — Eu voltei! — Olhou para o céu claro daquela manhã.

— É um prazer recebê-lo, senhor Park! — Noah nos esperava no portão da casa que haviam alugado para que Kevin ficasse confortavelmente hospedado durante os meses de tratamento. — Seja bem-vindo de volta!

— Obrigado, Noah! — Continuou falando alto, feliz. — Podemos entrar? Eu estou ansioso pra conhecer o quarto que vai me abrigar por alguns meses — riu. — Já não aguento mais o clima de hospital.

— Claro! — O rapaz respondeu sorridente. — Fiquem à vontade.

— Vem, amor — segurou a minha mão e eu assumi o controle da cadeira de rodas, guiando-o para dentro da residência. — Que casa linda! — Olhou ao redor. — Não é? — Esticou-se para me encarar.

— Sim, é.

— Quer?

— Como?

— Os investidores estão me devendo alguns favores e eu posso pedir a casa em troca — gargalhou ao ganhar o olhar impaciente de Johannes. — Vocês usaram e abusaram do meu nome! — Voltou a falar alto, divertindo-se. — Eu nem estava aqui pra me defender, pra negar algo, pra aceitar... Fizeram o que quiseram! — Manteve o tom brincalhão e todos nós, os demais que o cercavam, nos entreolhamos. Que situação horrível... Formávamos um grupo corrupto. — Mas devo ser justo e dizer que vocês fizeram bem — riu fraco. — Gostei das decisões que tomaram porque todo o meu esforço não foi perdido. A inauguração foi um sucesso e as torres, o primeiro grande lançamento da minha gestão, continuam com todos os andares ocupados.

Impostor | Park JiminWhere stories live. Discover now