36. Olhos bem abertos

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— E quem... Quem garante que essa criança realmente existe? — Perguntei após algum tempo em silêncio. Apenas o canto dos pássaros que vagavam lá fora preenchia a sala. — E se a tal Bethany pensa em dar um golpe pra... Pra arrancar dinheiro do Kevin?

— Ah, (s/n)... — Jimin lamentou, suspirando alto. — Como consegue pensar nisso agora? — Franziu o cenho. — Golpe? — Negou com a cabeça. — Isso não muda o fato de que...

— Droga! — Esbravejei, caminhando sem rumo, em círculos, pela sala. — Que droga! — Cessei os meus passos e bati na parede mais próxima usando as duas mãos espalmadas, sentindo a ardência nelas logo depois. — Não muda o fato de que o Kevin me traiu! Eu sei! — Soltei o ar com força, exasperada. — É só... Só um... Impulso de mulher burra que sempre acreditou no amor do marido cafajeste! — Apoiei a testa na superfície gelada diante de mim. — Até duvidei algumas vezes, mas, no fundo, sempre mantive firme o pensamento de que ele não seria capaz, de que não teria coragem de me trair.

— Bom... Levando em consideração tudo o que eu soube desde que cheguei, o Jisung teve coragem pra fazer muitas coisas — disse mais baixo. — E isso é tão triste...

— Ele é um... Monstro... — Engoli em seco, enfrentando dificuldades para falar por prender o choro com bravura. — Um monstro que sequer respeitou o luto... — Fechei os olhos fortemente. — Se essa criança tem dois meses de idade, ela foi concebida pouco tempo depois de eu ter perdido o meu filho.

— Nossa... — Jimin murmurou, espantado.

— Considerando o fato de que você chegou quando havia completado pouco mais de um ano do aborto, o tempo que esteve aqui e o tempo de uma gestação normal... — Abri os olhos e tudo o que eu enxergava era vermelho. O ódio surgiu de repente e dominou cada célula do meu corpo. — Kevin Park engravidou essa mulher sete meses depois que perdi o meu bebê.

— Desgraçado! — O moreno aumentou o volume da voz. — Sujo!

— Enquanto me ignorava dentro de casa, ele estava... Estava... — Calei-me para segurar a vontade crescente de chorar. Não... Eu não posso me desmontar agora. — Repugnante! — Voltei a bater na parede enquanto as minhas pernas perdiam a força aos poucos. — Nojento! Traidor! — Empurrei a superfície dura e fui projetada para trás, sendo rapidamente amparada pelos braços do coreano. — Como o Jisung consegue me decepcionar ainda mais? Como... Como foi capaz? — Falei alto. — Uma filha! Uma criança! — Park me abraçou. — Jimin... Uma criança gerada pouco tempo depois de eu perder a minha... — Choraminguei, já sentindo as lágrimas grossas caírem por minhas bochechas. — Como o Kevin teve coragem de me trair assim?

— Respira fundo, fecha os olhos... — Me apertou contra si. As minhas costas estavam apoiadas em seu tronco. — Eu sei que é uma notícia muito difícil de receber, mas você já sofreu bastante desde ontem até aqui — falou baixo, usando a sua voz aveludada para tentar me acalmar. — Por favor... Não quero que você vá parar no hospital... — Sussurrou. — A sua mãe está em casa? — Apenas balancei a cabeça em afirmação. Ela estava tomando banho e provavelmente não ouviu nada. — Eu vou te deixar no sofá e já volto — caminhou, instigando-me a fazer o mesmo, até o móvel e me induziu a sentar ali ao posicionar as mãos em meus ombros. — Vou trazer um pouco de água.

O rapaz se distanciou e me deixou ali na sala com a mente tomada por péssimas memórias. Lembrei de todas as vezes que chorei porque estava sozinha naquela casa gigante, porque almocei e jantei sem ter a companhia de alguém, porque não fui ouvida, porque o dia havia passado e eu não recebi uma palavra carinhosa do homem que amava, porque ele não dedicava mais do que dez ou quinze segundos para me olhar antes de sair de casa... Kevin fazia tudo isso enquanto provavelmente trocava mensagens com a Bethany, ligava para escutar a voz dela, programava passeios, fazia planos para a viagem em que a reencontraria. Eu, a idiota, chorava por estar sozinha em um momento tão delicado enquanto o meu marido me traía com uma mulher que morava em outro país.

Impostor | Park JiminWhere stories live. Discover now