Você se desculparia por beijar alguém que ama?

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Depois de alguns minutos, Beatrice descia as escadas com Ava, arrumando a gravata que tinha desamarrado propositalmente para dar a entender que tinha tirado a roupa. Da sala, Nestor as olhava descer os degraus, ainda organizando as roupas, quando acenou para Beatrice.

-Droga! Vai, Ava. Deixa que eu me viro. - Beatrice ordenou.

-Nem pensar que vou te deixar aqui.

Nestor se aproximou das duas, as cumprimentando novamente.

-Tenho a impressão de que te conheço de algum lugar. - Nestor disse olhando para Beatrice.

-Bom, digamos que eu tenha um rosto comum, como todos os asiáticos. - Beatrice disse sorrindo da "piada" xenofóbica que acabara de fazer para tentar enrolar o homem.

-Que vocês tem rostos parecidos, isso não se deve negar, mas não é isso. - o homem encostava os dedos na cabeça, tentando se lembrar de onde conhecia Beatrice.

-Andem, meninas. Saiam daí. - Suzanne disse nos comunicadores.

-Se passar mais tempo, ele vai se lembrar e não acho que será bom pra gente. - Shanon disse em seguida.

-Quanto tempo mais você vai me deixar esperando? - Ava perguntou a Beatrice. - Você prometeu que ainda íamos nos divertir muito essa noite.

-Eu não quero atrapalhar vocês. Vão lá. - Nestor liberou Beatrice.

-Palmas para a atuação da nossa incrível Ava! - Mary ria do outro lado.

Ava e Beatrice saíram em direção ao estacionamento, entrando em seus carros. Beatrice saiu primeiro. Quando Ava ia dar partida em seu carro, ouviu uma discussão de alguém falando sobre o assassinato da amante de Emílio.

-Eu avisei pra ela que esse era um caminho sem volta. Todos estão especulando que foi o Emílio que mandou matar a amante, mas o que ela vai fazer quando descobrirem que na verdade foi ela, a esposa traída?

O homem parecia falar com alguém que estava interessado em encobrir os crimes de Emílio e pouco interessado em que mais esse crime caísse sobre seu colo.

Quando o homem se distanciou e saiu do estacionamento, Ava saiu atrás.

-Vocês pegaram isso? - Ava perguntou.

-Com toda certeza! - Shanon garantiu.

-Que noite produtiva, garotas! - Michael comemorou. - E que beijo foi aquele, Beatrice? Achei que era pra ser técnico, mas acho que vi uma língua por ali.

-Cala a boca, Michael! - Ava respondeu. Beatrice permaneceu em silêncio.

-Ok! Já não está mais aqui quem falou.

As meninas dirigiram até a sede do FBI. O carro de Shanon e Lilith acompanhou o carro de Ava quando passou pela rua em que estavam estacionadas. Chegando a sede, Ava deixou as escutas e câmeras e foi ao vestiário, tirar aquela roupa.

Quando estava lá dentro, Beatrice chegou, ainda de terno, com dois botões da camisa branca abertos e a gravata na mão. A asiática sentou no banco, ao lado de Ava que tentava tirar a abotoadura do sapato que tinha emperrado. Pra dizer a verdade, a paciência de Ava com aquela abotoadura já estava indo embora. Beatrice pegou a perna de Ava e colocou em cima de sua coxa, conseguindo soltar a abotoadura, sem muita dificuldade.

-As vezes só precisa de um jeitinho. - Beatrice disse, colocando o pé da outra de volta no chão, com cuidado. - Eu queria te pedir desculpas pelo beijo. Não tinha outra coisa a se fazer.

-É. Eu acho que a desculpa de "ah eu estava procurando o banheiro" não ia colar ali e a gente ia se ferrar.

Beatrice estava rindo da voz que Ava fez ao falar a frase do banheiro. Era incrível como Ava conseguia fazer ela sorrir com facilidade. E era uma pena que ela tenha demorado tanto pra perceber.

-Bom, vou me trocar. Preciso ir pra casa. - Beatrice disse se levantando.

-Posso te dar uma carona. - Ava ofereceu.

-Não. Não precisa. Preciso andar um pouco e pensar.

Ava olhava para Beatrice que tinha um olhar vago e perdido. Ela não entendia como ela estava daquele jeito, sendo que tinha tudo pra estar feliz. Estava com uma mulher que aparentemente gostava, o relacionamento com os pais estava indo bem, Camilla era uma amiga perfeita... O que poderia estar errado? Até a terapia estava em dias.

-Se precisar conversar eu estou aqui. - Ava falou.

-Eu sei. - Beatrice disse com um sorriso triste.

Beatrice entrou no box do banheiro e ficou debaixo da água por uns dez minutos, apenas sentindo a água descer por seu corpo. Ava já tinha se vestido e estava penteando o cabelo quando Beatrice desligou o chuveiro e saiu de dentro do box.

Ela vestiu uma calça e uma camisa moletom. Pegou o celular e verificou a quantidade de carros disponíveis ali perto. Ela tinha decidido ir para casa de Camilla, ao invés de sua casa ali perto.

-A essa hora vai ser difícil conseguir um Uber. - Ava afirmou. - Eu te levo pra onde você quiser ir.

-Não quero que fique tarde pra você.

-A casa da Camilla não é tão longe da minha. Essa sua carinha aí é de quem quer a Camilla.

-Nossa! Eu não sabia estava tão transparente. - Beatrice de fato estava admirada.

-Vem. Eu te deixo lá. - Ava saiu arrastando Beatrice pelo braço.

Entrando no carro de Ava, Beatrice respirou fundo. O carro tinha exatamente o cheiro da dona. Ava conversava do lado de fora com um dos agentes da segurança. Beatrice aproveitou a ausência da colega para passar a mão sob o banco do motorista, como se quisesse fazer aquilo em Ava, mas não podia. Ela sabia que não podia.

Ava entrou no carro esfregando as mãos. Estava frio ali. Beatrice ligou o aquecedor do carro para que Ava pudesse se aquecer.

-Pode escolher a música, se quiser. E se quiser ir em silêncio, tudo bem. - Ava disse.

-Eu prefiro que você escolha a música. Quero conhecer mais seu gosto musical. Ver se temos algo parecido.

Ava sorriu e se inclinou um pouco para escolher a playlist que tocaria nos próximos 40 minutos até a casa de Camilla. Pra variar, Ava colocou Coldplay.

-Olha! Música boa. - Beatrice elogiou.

-Eu amo Coldplay!

-Já foi algum show deles?

-Ainda não. Não tive oportunidade ainda. Mas não vejo a hora de ir.

A maior parte do caminho até a casa de Camilla foi percorrido em silêncio pelas duas. A única coisa que se ouvia era o som da música tocando. Beatrice tinha enviado mensagem para Camilla, informando que estava indo pra lá.

-Chegamos! - Ava disse olhando para Beatrice quando estacionou.

-Obrigada, Ava! E mais uma vez, me desculpa.

-Não precisa me pedir desculpas, Beatrice. Foi profissional e necessário, só isso. E tá tudo bem. Agora vai lá. A Camilla já deve estar te esperando.

Beatrice deu um beijo no rosto de Ava e saiu do carro com uma mochila nos ombros. Depois de alguns segundos, Camilla abriu a porta, acenou com tchau para Ava e entrou na casa de novo com Beatrice.

Ava sabia que Michael tinha total razão em relação ao beijo das duas. Beatrice de fato tinha beijado Ava de verdade e não era duvidoso que Michael tivesse visto a língua da asiática, já que ela tinha usado a língua em um beijo que deveria ter sido técnico, sem língua.

Talvez Ava estivesse tentando se enganar. Mentindo pra si mesma. Aquela beijo nunca foi profissional, mas sim algo que estava reprimido dentro de Beatrice e provavelmente também de Ava.

...

Não esqueçam de comentar pra me dar mais vontade de escrever kkkk. Eu adoro quando vocês interagem.

Avatrice - Um romance policialOnde as histórias ganham vida. Descobre agora