Viviane

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Dois dias tinham se passado desde que Beatrice tinha autorizado o tiro que matou um ex soldado do exército. Era mais uma manhã que ela chegava no trabalho e lia relatórios e mais relatórios. A monotonia a estava incomodando. Naquele dia, sua terapia seria as 10:00h, então houve tempo suficiente pra que Beatrice lesse mais relatórios. Odiosos relatórios. Apesar de não gostar de fazer aquilo, Beatrice os lia com atenção, sempre fazendo observações quando achava necessário.

-Ei. Só faltam cinco minutos pra seu compromisso. - Ava alertou Beatrice.

-Ah! Verdade. Tava concentrada aqui e nem vi a hora passar. Obrigada por me lembrar. - Beatrice usou sarcasmo no agradecimento, mesmo sabendo que seria punida se faltasse a sessão.

Beatrice deu duas batidas na porta e girou a maçaneta, entrando na sala. As paredes da sala da psicóloga do FBI era branca e tinha uma poltrona cinza em frente a uma mesa onde a profissional apoiava os braços para fazer anotações.

-Com licença. Bom dia! - Beatrice cumprimentou a terapeuta.

-Bom dia! Fique a vontade.

Beatrice tirou a jaqueta que vestia e a colocou dobrada em cima do braço da poltrona, antes de sentar. A psicóloga era uma mulher loira, de aparentemente 30 anos. Sua feição era séria, como a profissão exigia, mas não antipática.

-Como foi seu dia de ontem? - A psicóloga perguntou.

-Tranquilo! Mais um dia lendo papéis e mais papéis.

-E em casa? Como foi?

-Ainda estou no hotel. Faço minha mudança esse final de semana.

-E você já foi ao depósito, rever suas coisas?

A pergunta anterior foi feita porque em sessões anteriores Beatrice assumiu que estava evitando fazer a mudança por não saber como reagiria vendo as coisas que fizeram parte de sua vida antes do exército. Era como se ela voltasse no tempo, pra sua antiga vida, e ela não sabia como seria.

-Ainda não. Acho que vou ligar e avisar que  o caminhão de mudança vai pegar.

-Certo. Você precisa analisar o que está gerando esse bloqueio, essa resistência em ver suas coisas. Uma hora ou outra elas estarão a sua frente.

-Eu não estou resistindo... Eu só não quero ir.

-Você analisa e decide. A escolha é sua. Sempre é. E a bebida? Continua sem beber?

-Bebi ontem. No bar do hotel. Mas só um pouquinho.

-Só ontem?

-Antes de ontem e ontem.

-E isso tem alguma coisa a ver com seu último caso? Do atirador?

-Não tem nada a ver. Mas eu não falei com você sobre isso.

-Já é a nossa terceira sessão desde esse caso e você não falou sobre ele. Eu tenho acesso aos relatórios de todos os seus casos. Esperei ver se você falaria, mas isso não aconteceu, então eu precisei perguntar.

Beatrice estava visivelmente incomodada por ter que falar sobre aquele caso, mas ela precisava se incomodar falando pra que aquilo a machucasse menos dali pra frente, ou aprendesse a conviver com a dor.

Depois de alguns minutos na sessão, falando sobre seus sentimentos sobre aquilo, Beatrice estava tentando organizar seus pensamentos e sentimentos. Tudo estava tão bagunçado que ela não sabia ao certo o que fazer, mas sabia que tinha que fazer alguma coisa.

Já era quase hora do almoço quando Beatrice saiu da sessão e encontrou Ava na sala, lendo relatórios.

-Eu só queria um caso pra gente sair daqui um pouquinho. - Ava disse quando notou a presença de Beatrice, que permaneceu calada, perdida em si mesma.

Avatrice - Um romance policialWhere stories live. Discover now