Compromisso desmarcado

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Depois da saída de Viviane, Ava estava chateada com as cenas que presenciou e com o quanto Beatrice parecia animada com a possível visita de Viviane a seu quarto de hotel.

-Essa aí é mais uma amiga como a Camilla? - Ava perguntou enquanto olhava seu celular fingindo interesse.

-Ah não. A Viviane é uma amiga diferente da Cami. Digamos que temos uma amizade com benefícios.

Beatrice realmente não enxergava o incômodo de Ava, ou não ligava pra o que ela pudesse sentir. Ava preferia acreditar na primeira opção.

-Entendi. Já estou satisfeita. Se quiser ir, já podemos.

-Mas você não comeu quase nada. - Beatrice apontava para o prato de Ava que mal tinha sido mexido.

-Perdi a fome. - Ava bloqueou a tela do dispositivo, o colocando sem carinho em cima da mesa.

-Aconteceu alguma coisa? Olha, ver o celular enquanto come nunca dá certo. Sempre acaba acontecendo alguma coisa desagradável. Até a fome você perdeu. Se quiser falar sobre... Tô aqui.

Ava revirou os olhos. Como ela podia simplesmente não perceber que o incômodo e a falta de apetite repentino de Ava tinha se dado pelo fato de Ava ter visto Beatrice marcar um encontro com aquela mulher? Não é possível!

-Pois é. Nem sempre a gente controla o que sente ao ver coisas desagradáveis.

-Então vamos mudar de assunto. - Beatrice sugeriu. - Me fala, o que você gosta de beber pra eu comprar pra festa?! - Beatrice estava animada.

Ava mordia o canto da boca enquanto olhava desacreditada para a cegueira de Beatrice. Ela era tão inteligente, no entanto... Não enxergava o óbvio quando o assunto era Ava.

-Eu gosto de drink de limão. E faço uma cuba libre maravilhosa. - Ava respondeu.

-Nossa! Eu amo cuba libre. - Beatrice disse com os olhos cheios de animação, enquanto terminava de comer. - Nem me lembro a última vez que tomei.

Elas conversaram por alguns minutos sobre as bebidas e os petiscos da festa, até que Beatrice terminou de almoçar.

-Você ficou muito pra baixo depois do que viu nesse telefone. Tem certeza que não quer falar sobre isso?

-Não foi nada, Beatrice. Vamos logo ou não vai dar tempo ir ao depósito.

Beatrice estava com o rosto confuso, mas levantou, pagou a conta e foram embora. Em meia hora tinham chegado ao lugar onde as coisas de Beatrice estavam guardadas. Ela tirou a chave de dentro do bolso, girou na fechadura e levantou o portão de aço.

-Uau! Você realmente guardou tudo. - Ava observou.

-Pois é.

Dentro do galpão estavam móveis desmontados, colchões de camas, que aparentemente Beatrice tinha mais de uma. Geladeira, máquina de lavar... Caixas etiquetadas com os nomes "roupas de cama", "decoração sala", "decoração quarto"... Até uma prancha de surf tinha lá.

-Não acredito que além de bailarina e lutadora, você também surfa?!

-Eu tenho muitos talentos que você não conhece, eu já disse. E sim, eu sou uma bailarina surfista. - Beatrice fez movimentos de equilíbrio, fingindo estar em cima da prancha.

-Eu quero ver você dançar. Só assim vou acreditar que você é uma bailarina. Como surfista beleza, até posso imaginar, mas bailarina? Você quebrou a cara da Lilith na minha frente há uma semana. Bailarinas são delicadas.

-Você está me saindo muito cheia de preconceitos, dona Ava. Pra que tantos esteriótipos? - Beatrice ria enquanto repreendia Ava em forma de brincadeira.

-Foi mal. Desculpa, mas...

-Aqui! Já que você precisa ver para crer, mulher de pouca fé - Beatrice estava abrindo uma das caixas de decoração da sala - Veja. Aqui uma foto minha em uma apresentação de balé quando era criança - ela entregou a Ava.

-Ah era muito fofa, mas criança faz o que a mãe obriga. - Ava estava completamente derretida ao ver Beatrice criança. Nunca tinha visto uma criança tão fofa quanto aquela.

-Calma. Tô pegando mais. Aqui. - Beatrice entregou a ela uma foto sua adulta, ao lado de outras pessoas, em uma apresentação de balé contemporâneo. - Eu falei.

-Noooossa! É verdade mesmo. - Ava olhava as duas fotos, comparando os rostos impressos nelas. - Seus olhos, eles não mudaram nada.

Um dos seguranças do lugar chegou no galpão e interrompeu as duas. Beatrice o cumprimentou e avisou que no dia seguinte o vagão seria desocupado. Ava guardou as fotos na caixa que estavam e a fechou. As duas saíram do local conversando, até a porta do carro, onde Ava resolveu encorajar Beatrice a superar mais um desafio.

-Dirige. - Ava estendeu a chave de seu carro para Beatrice que estava abrindo a porta do lado do passageiro.

-Que? Não! - Beatrice franziu a testa em negativa.

-Você consegue matar mais de um leão por dia, Beatrice. Anda. Eu confio em você.

-Eu até consigo matar mais de um leão por dia, mas eu não quero. É muito cansativo. Segunda eu prometo que dirijo.

Ava balançou a cabeça e entrou no carro, colocando o cinto e dando a partida em seguida. Beatrice sorria com um riso nervoso com a promessa que tinha acabado de fazer.

Chegando na sede, elas encontraram com os outros quatro agentes. Lilith ainda estava com o rosto um pouco roxo dos socos que levou de Beatrice cinco dias atrás.

-Nossa, Lilith, isso aí ainda tá um pouco feio, hein?! - Beatrice disse fazendo cara de espanto.

-Vai se ferrar! - Lilith respondeu, mostrando o dedo do meio.

-Vocês não comecem ou vão ser expulsas. Tô avisando. - Shanon tinha razão e isso poderia sim acontecer.

-Como forma de pedir desculpas mais uma vez e me redimir pela forma brutal que agredi seu rosto, convido você e vocês - Beatrice apontou para os demais - para irem a minha festa de inauguração da minha casa amanhã a noite.

-Opa! Tô dentro! - Michael se animou.

-Se a Shanon quiser ir a gente vai. - Mary não admitia, mas também estava animada.

-Eu só vou e só te desculpo se tiver macallan especialmente pra mim. - Lilith iria mesmo que não tivesse um dos whiskys mais caros do mundo na festa.

-Pra sua alegria, eu roubei um desses da adega do meu pai e ele está guardadinho. - Beatrice realmente roubou o próprio pai.

-Você, com salário de soldado do exército e agente do FBI tem um macallan em casa? - Lilith duvidou.

-Eu já disse. Roubei do meu pai. Então está marcado. Amanhã, as 8:00h na minha casa. Vou mandar o endereço. Agora vamos continuar a ler relatórios.

Algumas horas se passaram até que o telefone de Beatrice tocou, tirando a concentração de todos. Era Camilla. Ela tinha recebido a mensagem de Beatrice falando sobre a festa, mas conhecendo a amiga como conhecia em relação a festas, sabia que ela ia deixar tudo pra cima da hora. Camilla intimou Beatrice a sair com ela aquela noite e comprarem tudo que precisariam pra festa. Ela não teve outra escolha a não ser desmarcar com Viviane.

-Beleza, Camilla. Hoje a noite a gente compra tudo, ok? - Camilla sempre vencia.

-Ué! E seu compromisso hoje a noite com a sua amiga? - Ava perguntou em um tom que fez os outros quatro a olharem sentindo de longe o ciúmes.

-Vou desmarcar. A Camilla me mata se eu não resolver as coisas da festa ainda hoje.

Avatrice - Um romance policialWhere stories live. Discover now