-Beatrice!

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Os lençóis da cama eram brancos feito neve. Beatrice não ousou sentar na cama ou em qualquer outro lugar daquele quarto enquanto não tomasse banho. As toalhas no banheiro acompanhavam a tonalidade dos lençóis, o que fez com que Beatrice também não as tocasse. Por mais que não estivesse fisicamente suja, Beatrice não se sentiu limpa o suficiente até que finalizou seu banho.

Ela se lavou completamente, dos pés a cabeça, esfregando todo seu corpo com a escova e esponja novas que tinha no banheiro. Pegou uma das toalhas e as levou ao nariz sentindo aquele cheiro de amaciante de roupas que saia dela. Passou uma pelo seu corpo, pegou outra e usou para secar os cabelos. Pegou sua roupa suja, a colocou no onde ficavam as roupas sujas pra que fossem levadas para a lavanderia. Beatrice vestiu uma calça e uma camisa, penteou seu cabelo, passou perfume e saiu do hotel. Ali próximo algumas pessoas vendiam uma diversidade de produtos, dentre eles, flores. Beatrice comprou margaridas.

Após comprar as flores, ela tomou um táxi e se dirigiu a uma casa que ficava cerca 30 minutos dali. Não parecia ter coragem de bater na porta. Tentava observar o movimento ali de fora, até que respirou fundo e decidiu ir sem coragem mesmo. Ela ouvia um barulho de pessoas conversando dentro da casa, mas mesmo assim resolveu bater. Depois de dar duas batidas na porta e esperar alguns segundos, a porta se abriu e ela viu a sua frente a imagem de Camilla que não acreditava no que estava vendo.

Camilla estava recebendo alguns amigos em sua casa, estava com um copo de whisky na mão quando o deixou cair e chamou a atenção de todos ao ouvirem o copo se quebrar.

Camilla estava em choque. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela simplesmente pulou no pescoço de Beatrice a abraçando.

-Eu não acredito que você tá aqui, Bea!

Todos observavam a cena em completo silêncio. Beatrice poderia não conhecê-los, mas eles com certeza conheciam Beatrice por fotos e pelas histórias que Camilla contava. Beatrice participava daquele abraço sem o retribuir, até que percebeu que era verdade. Ela estava mesmo ali, diante de sua melhor amiga. Beatrice abraçou Camilla de volta, com força.

-Eu acho que também não acreditava que eu estava de volta, até agora.

Camilla soltou o corpo da amiga e agarrou seu rosto, o enchendo de beijos.

-Também não precisa exagerar, Cami. - Beatrice pediu.

-Exagerar? Você não sabe como eu tava com saudade de você. Meu Deus! Você ainda está aí fora. Entra!

Beatrice entrou na casa entregando as flores a Camilla que a abraçou novamente ao receber as flores.

-Gente, essa é a...

-Beatrice! - Yasmin completou.

-Sim, gente, é a minha Bea! - Camilla gritou de felicidade - E ela está aqui de novo. - Ela caiu no choro.

-Calma, Cami. - Beatrice abraçou a amiga de novo pra que ela parasse de chorar.

Camilla estava recebendo alguns amigos do escritório de advocacia que trabalhava. Uma das suas grandes amigas era Yasmin, que tinha entrado em sua vida depois que Beatrice saiu em missão, mas que considerava sua segunda melhor amiga.

-Bom, pessoal, acho melhor a gente ir. Vamos deixar as duas conversarem. Elas precisam desse tempo. - Yasmin convidou os demais e se retirarem.

Todos se despediram de Camilla e Beatrice e saíram. Apenas Yasmin ficou na casa para limpar a bagunça da sala.

-Vai lá pro seu quarto, Cami. Eu limpo tudo por aqui e depois vou embora. - Yasmin não deixaria aquela desordem pra Camilla arrumar depois. Ela conhecia sua amiga suficientemente bem pra saber que ela odiava bagunça e sujeira.

Enquanto Yasmin se encarregou de organizar tudo, apagar as luzes e sair, Camilla e Beatrice estavam no quarto, conversando.

-Que horas você chegou? Devia ter avisado. Eu ia te pegar na base.

Camilla olhava Beatrice. Ela a conhecia como ninguém e sabia entender respostas não ditas.

-Você não chegou hoje, não é?

-Não. Eu cheguei há alguns dias.

-E onde você está ficando?

-Eu aluguei um quarto em um hotel a meia hora daqui.

-Você sabe que podia ter vindo pra minha casa. Você não precisa ficar no hotel. Você tem a mim, não precisa de um hotel, Bea.

-Eu preciso ficar sozinha por um tempo.

-Você não acha que já ficou sozinha tempo demais? Ninguém volta bem de uma guerra , Beatrice. Você sabe disso. Principalmente depois de passar quase dois anos em uma.

-Eu não disse que estou bem. Eu só disse que preciso ficar sozinha. Ninguém tem obrigação de aguentar meus problemas.

-Não. Ninguém tem obrigação. E eu não vejo como obrigação. Você sabe disso.

-Sim, eu sei... Mas...

-Mas você não está bem, né? Você está longe de estar bem e eu vejo isso.

-Parece que eu nunca vou conseguir te esconder nada. - Beatrice soltou um sorriso triste e continuou a falar - Eu não consigo dormir, Camilla. Eu não sei mais o que fazer. Eu só durmo se estiver bêbada, mas eu sei que não pode ser assim. Eu fecho os olhos e vejo explosões acontecerem, corpos sendo explodidos, me vejo matar pessoas pra não morrer... É horrível estar na minha cabeça.

-Eu imagino. - Camilla abraçou sua amiga novamente - Mas eu tô aqui com você, meu amor. E eu vou cuidar de você se você deixar. Você precisa descansar, fazer terapia, se divertir. Aquilo tudo passou, Bea.

-Eu preciso trabalhar, Cami. É disso que eu preciso. Fazer alguma coisa que dê sentido a minha vida.

-Sim, mas antes você precisa estar bem psicologicamente, Bea. Você precisa conseguir fechar os olhos e não ver pessoas explodirem. Precisa conseguir dormir...

-Eu me apresento pra o FBI amanhã, as 8:00h.

-O quê? Eu não acredito nisso.

-É. Fui chamada pelo governo a uma reunião hoje e eles me deram essa opção. Na verdade me deram duas e eu escolhi essa.

Beatrice contou a Camilla sobre a proposta que recebeu por parte do governo americano, o que gerou revolta em Camilla que logo se dispôs a entrar com processo pra triplicar o valor pago pelo governo caso a amiga decidisse por se aposentar, apesar de saber que ela jamais faria aquilo.

-Beatrice, escolher entrar pra o FBI não foi a melhor escolha que você fez. Não sem antes fazer alguma coisa por você.

-Eu vou devagar, Cami, prometo! E juro que vou procurar ajuda.

-Ah! Quanto a isso eu não tenho dúvidas porque eu mesma vou agendar sua consulta amanhã. Agora faz assim, dorme aqui comigo hoje. Amanhã você acorda cedinho e vai pro hotel se trocar pra ir se apresentar, já que não tem quem tire essa ideia da sua cabeça mesmo.

-Não, Camilla. Eu não quero te assustar a noite. E você trabalha amanhã, então...

-Então nada. Eu sou contra automedicação, mas vou te dar um dos meus remédios e você vai dormir aqui comigo hoje sim.

Camilla levantou, foi até a cozinha, pegou um copo com água e voltou ao quarto, entregando dois comprimidos a Beatrice. Depois de tomar os comprimidos, Camilla entregou um pijama a Beatrice, vestiu o seu e deitou na cama com sua amiga, colocando ela deitada em seu peito, lhe fazendo cafuné, até que o remédio fez efeito e Beatrice adormeceu.

Avatrice - Um romance policialWhere stories live. Discover now