Terapia obrigatória

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Beatrice entrou no vestiário correndo, se jogando no chão para sentar. Seus cotovelos estavam encostados nos joelhos e suas mãos cobriam seu rosto. Com as mãos no rosto, Beatrice segurava o choro. Ela nem lembrava qual tinha sido a última vez que chorou e aquilo não aconteceria ali.

Ava entrou no vestiário em seguida, se ajoelhando diante de Beatrice, com as mãos em seus ombros.

-Ei! Calma! - Ava esfregava as mãos nos ombros de Beatrice. - Tá tudo bem. A Lilith tá bem. Você precisa respirar. - Ava tirou as mãos do rosto de Beatrice pra que ela respirasse melhor.

Os olhos de Beatrice estavam vidrados em qualquer lugar, menos nos olhos de Ava, que olhava nos seus.

-Escuta. Você tem que tomar um banho. Levanta, toma banho e a gente sai daqui um pouco. Por favor.

Ava segurou nas mãos de Beatrice e a levantou, a levando para debaixo do chuveiro. Enquanto a água caia na cabeça de Beatrice e escorria por seu rosto, Ava tirava os cabelos da asiática dos olhos e acariciava seu rosto com os dedos.

-Eu vou deixar você tomar banho agora. Te espero nos armários. - Ava se afastou de Beatrice.

Enquanto Beatrice tomava banho, Ava aproveitou para fazer o mesmo o mais rápido possível pra que terminassem ao mesmo tempo.

Quando Beatrice saiu do chuveiro, Ava estava de roupas íntimas, vestindo sua calça. Beatrice se vestiu também e antes que pudessem sair do vestiário, Mary, Shanon e Lilith entraram no lugar. Beatrice olhou para as colegas e em seguida pra Lilith.

-Me desculpa, Lilith. Eu passei dos limites e estou preparada pra sofrer as consequências dos meus atos.

-Não precisa se desculpar, Beatrice. Na verdade eu acho que mereci. Eu te provoquei. A culpa foi minha.

-Gente, é lindo vocês estarem se desculpando, reconhecendo seus erros, mas esse rosto fodido aqui vai ter que ser explicado pra Suzane e ela vai ficar muito puta com a briga de vocês dentro da base - aquela era a real preocupação de Mary - Vocês estão ligadas que podem ser expulsas, né?

-Calma, gente. Ninguém aqui vai ser expulso, tá? É chegar na Suzane, cada uma assumir sua culpa e ponto. Acabou. Vamos esperar o que ela vai dizer e não vamos sofrer com antecedência. - Ava parecia ser a única pessoa sensata de verdade naquele lugar.

Depois da conversa no vestiário, os seis que participaram da confusão estavam sentados diante de Suzane que olhava pra cima, revirando os olhos e suspirando a cada palavra. Lilith estava com os olhos inchados e roxos, enquanto Beatrice estava intacta. Depois de ouvir o que todos falaram, Suzane foi direta:

-Suspensão de uma semana, sem remuneração pra Lilith e terapia obrigatória pelo tempo determinado pela terapeuta. Trabalho sem remuneração por usa semana pra Beatrice, com terapia obrigatória pelo tempo determinado pela terapeuta. Saiam da minha frente, agora!

Todos se permaneceram em silêncio e saíram da sala. Lilith nunca ficou tão feliz com uma suspensão antes. Ela não sabia como ia fazer se tivesse que trabalhar com o rosto fodido do jeito que estava. Beatrice odiou ter que fazer terapia obrigatória, mas era melhor do que ser expulsa.

-A Suzane tá muito boazinha. O que será que aconteceu? - Michael perguntou.

-Eu achei que ela ia suspender a Beatrice. - Shanon falou.

-Também achei, mas acredito que não fez pra não perder tempo. Agora a senhorita vai ficar interno até a suspensão da Lilith acabar. Tá sabendo né? - Mary se referia a sua namorada, Shanon que era a parceira de Lilith.

-Bom, já que estou de folga por uma semana, adeus! Vou almoçar em casa e evitar essas caras feias de vocês a partir de agora. Bye! - Lilith saiu.

-Vocês podem ir almoçar, pessoal. Eu vou ficar por aqui, por enquanto. - Beatrice pediu.

-Vocês podem ir. Eu fico com ela aqui um pouco e se der eu encontro vocês. - Ava pediu.

-Ah, não. Eu não acredito que vou segurar vela pra essas duas no almoço. Alguém me salva por favor. - Michael iria acompanhar Mary e Shanon no almoço.

-Então vocês namoram mesmo, é? - Ava estava curiosa. - Achei que fosse proibido.

-Não é proibido. Por incrível que pareça. - Mary esclareceu. - nós vamos lá. Qualquer coisa é só avisar.

-Ava, na boa, você pode ir com eles. - Beatrice insistiu com a parceira que fez de conta que não ouviu.

Shanon, Mary e Michael saíram para almoçar, enquanto Beatrice e Ava foram para a sala de treinos, onde tinham alguns colchonetes e Beatrice aproveitou para deitar.

-Então você deixou de ir almoçar pra se deitar nesses colchonetes mega confortáveis aqui? - Ava perguntou sendo irônica.

-Na verdade eu ia pro meu hotel, mas como você resolveu ser meu carrapato...

-Me respeita, hein! Carrapato é nojento... Mas peraí, você tá morando em um hotel?

-É temporário. Vou arranjar um lugar pra ficar.

O telefone de Beatrice tocou. Era Camilla novamente.

-Atende logo. Sua namorada não gosta de esperar e já deu pra perceber. Não porque só pode ser sua namorada pra te ligar tanto e...

Ava percebeu que Beatrice a estava encarando de testa franzida.

-Oi, Cami! Fala Cami!

-Você ainda não respondeu minhas mensagens.

-Eu estou trabalhando, Camilla.

-Você não tem horário de almoço, Beatrice?

-Sobre o que são as mensagens? Fala logo.

-Sobre a sua terapia. Eu agendei suas sessões.

-Iiih, pois pode cancelar seus agendamentos. Já vou fazer terapia aqui na agência. Terapia obrigatória pelo tempo determinado pela terapeuta. - Beatrice reproduziu com deboche a fala de Suzane.

-Como assim? Por que por aí?

-A diretora determinou.

-E o que você fez pra isso, Bea?

-Nada! Foi só uma discussão com uma colega.

-E como ficou o rosto dessa colega depois da discussão que gerou uma obrigatoriedade de terapia pra você?

Beatrice ficou em silêncio por alguns segundos. Aquilo era incrível. parecia que Camilla tinha de espiões.

-Tchau, Cami. Depois a gente se fala. E não esquece, desmarca a terapia. - Beatrice desligou o telefone.

-Ela não é minha namorada. É minha amiga e é um carrapato pior que você.

Ava caiu na gargalhada imaginando como seria maravilhoso atormentar Beatrice ao lado da amiga carrapato dela.

-Tá rindo de quê? - Beatrice perguntou.

-Tô imaginando como seria bom te encher a paciência ao mesmo tempo que a "Cami". - Ava falou Cami em tom de deboche.

-Nem ferrando! Ainda bem que vocês nunca vão se conhecer.

-Então tá. Agora sério, vamos almoçar. Eu tô com uma baita fome.

-Não tô afim de falatório de quatro pessoas. Vocês fazem muito barulho juntos.

-Então eu posso te levar pra um restaurante onde eles não vão estar. Topa?

Beatrice encarou Ava que estava com os olhinhos pidões, tipo o gato de botas.

-Eu sei que vou me arrepender disso depois, mas beleza, vamos lá.

Ava levantou do chão aos pulos, comemorando sua pequena vitória.

Avatrice - Um romance policialWhere stories live. Discover now