Capítulo #5

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NATY

Levantei de uma cadeira de plástico que ficava na laje da casinha, peguei uma cerveja do cooler antes de descer para o quintal da casa onde o Kaká e o pipoca estavam. Se tem um cara que eu confio de olho fechado, bato no peito para dizer que é meu fechamento, esse cara é o Pipoca, eu e o Lucas crescemos juntos, mesma idade, nossos pais eram do mesmo jeito que a gente.

Meu pai já pulou na frente de bala pelo pai dele e visse e versa, foi numa dessas que o Pipoca pai do Lucas morreu, ele pegou o vulgo do pai em homenagem. Lucas é um cara que não se deixa iludir pelo poder dentro do comando ou em outras favela também, ele é um cara fiel saco?

O Pipoca tá sendo acusado de trair o comando, por isso os caras vão vir aí. Um tal de Fernandinho que começou com o assunto, o Santo desse cara não bate com o meu e ele tenta de tudo me fuder. Veio com essa do Pipoca agora falando que viu ele em outra favela conversando com os cara de lá.

O Fernandinho fico de frente aqui por um tempinho, uns cinco meses por aí. Meu pai estava tentando conversar os parceiros dele de que eu era a melhor para ficar no lugar dele enquanto ele estava preso, foi a maior luta para me colocar aqui e enquanto isso o cara estava fazendo merda na minha comunidade.

Depois que eu assumi de vez e mandei ele vaza, o cara fico bolado, quase voltou chorando para gerencia do  morro do Formiga, uns do chefe do CDRJ o mais chegado do meu pai. Ele já veio com esses papo deu tá erranda nas antigas já, ninguém deu bola, todo mundo sabia que era história do cara e ele estava na inveja pura.

Agora veio com esse papo e tá mexendo com o Pipoca, tirando o respeito do cara aqui dentro, altos saldado meu tão na desconfiança do cara, com um pé atrás com ele, isso não me deixo legal não pô.

Abri a latinha de cerveja virando ela na boca, odiava tomar cerveja na lata pô, mais era o jeito. Cheguei perto do dois e sentei no terceiro degrau da escada deixando a latinha do meu lado e puxando a maconha, coloquei ela na boca tampando com a mão e acendi com o esqueiro, puxei uma vez e soltei a fumaça devagar.

— Aí chefe, tava falando pro Pipoca aqui, daquela Bianca - olhei para ele, o nome da branquela era esse então - O Mina pra ser gostosa em.

— Se emociona não Kaká - o Pipoca deu risada - A mina começou agora ali, daqui uns tempo já deu pra geral pô.

— Tô emocionado não irmão, tô na falando a verdade mesmo, ela é gostosa e tu não pode negar não vagabundo, qual foi Pipoca caso e viro santo? - Lucas nego com a cabeça. Ninguém gostava da porra desse cara, era um intrometido do caralho e ficava falando merda o dia todo. Namoral eu só deixando ele por aqui porque o cara tem pai e mãe que são pureza.

— Tô casado e a única gostosa que tem nessa porra é minha mulher comédia - Kaká deu risada enquanto balançava a cabeça. Deu pra escutar certinho quanto ele resmungou um  " pior que é mermo" pipoca já levantou e foi para cima do cara.

— Tu pede pra morre filho da puta - o Kaká se afastou e começou a pedir desculpas enquanto o pipoca ia para cima dele. Eu só ficava olhando enquanto pegava o isqueiro de novo já que tinha apagado a maconha.

— Aí, aí Kaká. Sobe lá na distribuidora do Magrão e trás um uísque pra mim, vai correndo pô - ele concordou com a cabeça e saiu dali. Pipoca sentou de novo na cadeira e pegou um cigarro colocando na boca.

O cara ficava bolado quando falavam da mulher dele mesmo, outra fechamento meu. A Rebeca era a nega mais linda dessa favela, tinha o cabelo todo cacheado, a pretinha era doida desde que nasceu, ainda pivetinha já vivia arrumando confusão por aí, tinha um jeito debochado, que hoje em dia só piorou.

A Rebeca que chegou no Pipoca quando a gente era menor ainda, ela tinha uns quinze tá ligado? e nois dois com dezoito já, o pipoca era um bobão que não sabia chega nas minas, enquanto eu já leva três comigo ele ainda procurava um jeitinho de ir falava com a Rebeca.

O cara sempre foi gamado na dela, me contava altas paradas sobre ele e eu dava a maior força tá ligado? Os dois combinava pô, foram fincando e ficando, mais agora de um ano para cá que ele pego ela para morar com ele, colocou aliança no dedo e os caralho, a doidinha fico todo se achando.

Ela não vai com a cara da Ingrid, as duas quando se trombavam era só confusão, já saíram no pau uma par de vez. A Ingrid peita geral aqui e depois vem chora para mim.

— Qual foi irmão, tá todo calado aí - perguntei para ele que me olhou, o cara saiu de onde estava sentado e veio sentar do meu lado, tirei a latinha de cerveja que estava lá e deixei entre minhas pernas.

—Tu tá ligada que eu não fiz porra nenhuma né não? - concordei, puxando a maconha - Os cara tão querendo meu sangue aqui dentro peixe, eu me garanto pô, mais e se filha da puta entra na minha casa quando eu tive desarmado, tu sabe que a Rebeca não deixa arma entra lá dentro.

— Tu fica tranquilo irmão, esses malucos não tem moral pra fazer isso não, sabem que tu é meu fechamento é se armarem uma dessa, eu mesmo vou atrás e mato tudinho - ele respiro fundo e passou a mão na cabeça - esses só sabem agir quando eu tô gritando o que é para fazer, tu sabe como que é.

— Papo reto, só quero que esse filho da puta que inventou essa merda vai pra puta que pariu. Se eu morrer hoje, tu dá um jeito de matar o cara pô, do pior jeito.

— Tu não vai morrer não caralho - bati na cabeça dele - o filho da puta não vai ter o que falar meu parceiro. Papo reto fala pra mim - ele me olhou - Tu fez merda? Tu tava mesmo andando com outros caras? - ele nego.

— Claro que não porra.

— Então fica tranquilo pô, o cara não vai ter nada pra falar - ele concordou - Eai, vai ir lá na Jô depois, a porra do Formiga me pediu pra deixa a casa só pra eles tu acredita, tirei do meu bolso pra pagar pô - ele me olhou de canto eu dei risada, Rebeca amarrou corrente no cara não tem jeito.

— Tu tá ligada que se eu passar na frente daquela casa a Rebeca já corta meu pau, magina eu entrar lá - joguei a cabeça para trás rindo - Tô fora peixe.

— Peixe é tua bunda, vagabundo - ele riu.

Essa parada de peixe me deixa bolada. Coloquei um vulgo quando era menor, queria que todo mundo me chamasse de sereia, o Lucas riu a beça e fico me zoando todo dia pô, aí eu parei com isso, ninguém me chamava mais assim, aí um dia esse moleque dos inferno começo a me chamar de peixe, só ele me chama assim tá ligado? Eu acho uma merda.


— Aqui chefe - escutei o Kaká chegando e trazendo meu Jack, peguei ele deixando na minha perna e fiz um legal para ele que sentou de volta na cadeira que estava - Aí chefe queria pagar de fofoqueiro não, mais tua mulher tá brigando com outra lá no bar.

— Deixa ela da o show dela, em casa nos resolve - ele riu balançando a cabeça e eu tomei um gole da minha cerveja. Ingrid só dá problema pô, a mulher não consegue ficar de boa nem por um dia, todo dia da um jeito de arrumar briga, até com homem, tá merecendo uns tapa na bunda namoral.

Nossa História [ Pique Bandida ] Where stories live. Discover now