Capitulo 42

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— Obrigado — ele agradeceu e no segundo seguinte abriu a caixa — vou te dizer mais uma coisa — ele fixou seus olhos nos meus, me prendendo a atenção e me impedindo de olhar para a caixa — aqui dentro existem fragmentos sobre mim, mas também existem sobre você. Tudo o que você quer saber está guardado aqui dentro mas não vou te mostrar ainda. Tudo bem?
— Tudo bem — então ali estava mesmo as minhas respostas para tudo, mas o que poderia ser? Documentos? Fotos? Cartas? Não faço a menor ideia mas eu prometi confiar nele e se ele está me contando isso então quer dizer que também confia em mim.

— Essa é a primeira vez que te vejo me obedecer — ele riu.
— Não seja tapado, nunca vou te obedecer — o belisquei — eu só sinto que dessa vez estou diante de quem você realmente é por baixo de uma máscara de ferro.
— Isso chegou longe demais — ele desviou o olhar.
— O que? O seu plano oculto me envolvendo?
— Não. Eu e você. Mas não importa. Agora observe bem as coisas que irei retirar do caixote pois cada uma irá revelar uma parte de mim.
Foquei minha atenção em suas mãos que estavam sobre o caixote aberto e finalmente havia chegado o momento de conhece-lo mais um pouco. Sobre sua história, seus segredos e motivações. Aquele era o início das revelações finais...


LÚCIFER – PARTE 1


A voz daquele homem se parecia muito com a do meu pai.. eu tenho um pai? Que lugar é esse, olhei para ambos os lados, estava em uma pequena sala de paredes brancas luminosas, sentado em uma cadeira de ferro diante de uma mesa de ferro. Sou tão pequeno que meus pés não tocam o piso de cimento, eles ficam balançando no vão da cadeira. Mas é o tamanho normal para uma criança de seis anos, eu acho. Que lugar frio, onde eu estava antes de acordar aqui? Não consigo me recordar.
— Preste atenção — ele repetiu e eu finalmente me foquei em sua figura assustadora. Ele usava um uniforme branco, assim como o seu jaleco desabotoado. Tudo aqui é tão branco, tão pálido — repita comigo — ele deu a volta na mesa e parou ao meu lado — eu sou Lúcifer.

Por que eu tinha que repetir aquilo? O meu nome não era aquele. Mas qual era o meu nome? O que é um nome? Deve ser a maneira como as pessoas se referem a você, então o meu nome não é Lúcifer. É Seiscentos e sessenta e seis.
— Senhor — disse enquanto apertava uma perna contra a outra, estava com medo — mas o meu nome é seiscentos e sessenta e seis.

Eu acho...

O homem se virou para trás e encarou uma câmera de segurança que estava no topo acima de uma porta metálica, em seguida voltou sua atenção para mim.
— Então consegue se lembrar do seu número de identificação, incrível. Não era para você ter nenhuma memória, você é um prodígio em comparação com os outros. Mas vamos tentar outra vez, repita comigo: Eu sou Lúcifer.
— Mas... — fui interrompido por aquele homem que me deu um soco tão forte no rosto que me jogou no chão do outro lado da sala. O barulho da cadeira despencando no chão tomou conta de todo o ambiente silencioso.

— Repita comigo; Eu sou Lúcifer — ele disse outra vez enquanto vinha em minha direção.
Como eu estava sentindo muita dor, fui incapaz de dizer qualquer coisa e em resposta a isso aquele homem trajando branco começou a diferir chutes contra o meu corpo encolhido no chão. Protegi o rosto usando as mãos e apesar da dor e do medo eu não chorei em momento algum. A única coisa que ele dizia era as mesmas palavras “repita comigo, eu sou Lúcifer”. Por algum motivo a dor de estar sendo golpeado sem parar fez com que o medo desaparecesse completamente, dando lugar a raiva, a raiva mínima de uma criança e em um espasmo de adrenalina eu gritei: EU SOU LÚCIFER. O homem parou o próximo chute e usou uma das mãos para me erguer no ar.

— É isso aí — ele estava com um sorriso assustadora de orelha a orelha — olha só, nem uma lágrima. Você está a um passo de se tornar o nosso melhor parasita — prazer Lúcifer, eu me chamo Gourmet.
Os minutos seguintes foram bastante confusos para mim, Gourmet deixou a pequena sala e quando retornou trazia consigo roupas brancas para mim. Mas eu não me troquei, ele foi quem me vestiu enquanto eu me encolhia devido a dor por todo o meu corpo.
— Prontinho, novo em folha. Você deve estar confuso sobre tudo isso mas a professora vai esclarecer sua mente e o seu propósito de vida logo será revelado. Venha, vou lhe dar algo para comer enquanto seguimos para a sala seguinte.

Ele ergueu a mão e a minha única escolha foi segura-la. Ao passar pela porta de ferro me deparei com um longo corredor da mesma cor que as paredes anteriores, branco luminoso e sem janela alguma. Mas não foi só isso que notei, parado perto a porta haviam dois homens de braços cruzados também trajando um uniforme branco. Parece que é a única cor que existe neste lugar estranho. Eu agora estou do mesmo jeito que eles. Andamos pelo corredor e nesse caminho passamos por uma mulher de longos cabelos negros, ela segurava uma prancheta e apesar de ter sorrido para mim, sinto que ela é perigosa de alguma maneira.

— Aqui — Gourmet parou próximo de uma máquina de doces que ficava ao lado de um bebedouro e retirou uma das embalagens para mim. Era uma espécie diferente do que eu julgo ser uma cocada. Nem sei como consigo distinguir os gostos e nomes já que não me lembro de nada antes de despertar ali. Ele me esperou comer e ficou me encarando por todo o tempo. Continuamos pelo corredor, fizemos uma curva para a direita, depois esquerda e esquerda novamente até chegarmos a uma outra porta metálica contendo apenas uma janelinha redonda em seu topo.

— É aqui, chegamos a tempo — disse Gourmet dando tapinhas no meu ombro — preste atenção e se comporte, ela não tem a mesma paciência que eu Mas de todos ali eu tenho certeza que você será um dos mais sucedidos. Agora entre Lúcifer — ele abriu a porta revelando uma extensa sala cheia de cadeiras escolares e outros meninos usando a mesma roupa que eu. Toda a atenção da sala se voltou para mim, olhei na outra direção e na parede havia um enorme quadro verde de estudos. Alguns vasos de plantas, uma lixeira e uma pequena mesa de escritório.

— O último chegou — uma voz feminina ecoou atrás de mim e alguém posicionou as duas mãos em meus ombros.
— Sim, acabei de traze-lo — agora foi a voz de Gourmet.
— Deixe-o comigo agora. As aulas vão começar — outra vez a voz feminina. Eu queria me virar para encara-la mas é melhor não. Ela me guiou até uma carteira vazia e eu me sentei, só agora pude olhar para a mulher. Era a mesma que havia passado por mim minutos antes no corredor. Alta, bonita, cabelos negros e uma aura horrivelmente fria. Ela me deu as costas e andou suavemente até ficar próxima do quadro, a sala se manteve silenciosa e nenhum dos garotos soltou um ruído sequer.

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