Capitulo 21

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Ele se retirou após falar isso, estava indo tão bem, mas sempre tem que ter esse tom de ameaça para parecer cruel. Ele que espere, ainda tenho que tomar um bom banho demorado e vestir algo mais confortável para a noite. Não devia ter dormido tanto, agora terei insônia.
Depois de me arrumar, decidi ver o que o diabo estava planejando para mim e para a minha surpresa ele estava me esperando, encostado na porta fechada de seu covil.
— Demorou.
— Ficar bonita leva tempo, sabia?
— Então vejo que você precisa de mais horas — ele sorriu.
— Fala logo o motivo de querer jantar comigo, vai fazer alguma nova ameaça? Tentar me matar? Se for isso seja rápido, eu não tenho a vida toda.

— A maneira como você fala me causa ódio. Está se esquecendo de que você agora é minha?
— Corrigindo, a minha alma é sua, e eu ainda não morri então não preciso passar pelo inferno.
— Apenas me siga — ele começou a andar por um dos corredores e no fim deste havia uma porta fechada, uma das portas que eu não possuía acesso devido ao meu nível.
— O que tem aí trás? — perguntei quando notei que ele parou de andar.
— Nada muito especial, apenas algo que talvez você goste de ver.
Ele girou a maçaneta e abriu a porta, revelando um jogo de escadas.
Começamos a subir e chegamos a uma grande varanda. Ali havia uma piscina que refletia a luz do luar, algumas cadeiras de madeira, mesas de poker e um parapeito com algumas pequenas estátuas de querubins.

— Aquilo é a cidade? — andei devagar ate o parapeito, no horizonte era possível ver milhares de luzes diferentes, logo após um enorme jogo de florestas.
— Sim — ele ficou ao meu lado, encarando as luzes longínquas — daqui se parecem com vaga-lumes, pequenos e inúteis.
— Estamos em uma colina?
— Não, mas eu tenho várias casas em colinas. Estamos situados em uma das montanhas ao leste da cidade. E a propósito, a montanha também é minha.
— E o que significa tudo isso? Por que está me mostrando isso?
— Você vai ficar um bom tempo dentro desta mansão, sem contato com o mundo lá fora. Então aprecie a vista, é o máximo que verá do exterior. Encare como um ato de piedade.
— Quem é você de verdade? — perguntei, mas ainda observando o horizonte.

— Eu sou Lúcifer.
— Eu sou muito cética, não acredito em Deuses ou demônios, anjos, fantasmas. Então por que não abre logo o jogo e me conta o que significa tudo isso.
— Você não sabe de nada, se acha muito esperta mas não passa de uma criança inocente e perdida.
— Vou dizer minha dedução, eu acho que você é apenas alguém muito arrogante que oferece os seus contratos milionários para todas as garotas que julga serem interessantes. Depois você as trás para cá, as usa e descarta.
— Se isso fosse verdade, por que eu escolheria você? Uma brutamontes sem classe?
— Talvez seja por isso mesmo, carne nova. Mas não vai rolar, eu não sou manipulável como as outras mulheres. Não vou acabar na sua cama e nem irei te respeitar. Então se quiser me matar, mate agora, se livre de mim e vá atrás da próxima garota.

— Como eu disse, você não sabe de nada. Eu devia te torturar e te fazer sangrar para que aprenda a me respeitar.
— Então faça — me virei para ele — anda, me torture, me corte, me bata. Mas depois disso acha que algo vai mudar? Acha que eu vou me tornar dócil e obediente, não fode cara. O seu maior erro foi ter me escolhido, não tem nada que você possa usar contra mim. Nada. Dor? Acha que eu não senti dor antes? Eu vivi boa parte da minha vida em um orfanato, as coisas lá eram na base do sofrimento, apanhávamos, passávamos fome e frio. Então não precisa ficar me ameaçando, não vai funcionar. Família, eu também nunca tive família então nem mesmo conseguirá usar sentimentalismo contra mim. Então me diga, como vai me domesticar, senhor diabo?

Por alguns segundos tudo ficou em silêncio, talvez ele estivesse pensando em alguma resposta mas a verdade era que nem ele sabia como me domar. Durante toda a minha vida eu vivi a base do sofrimento e da solidão, nenhuma nova dor seria capaz de me mudar, nem ameaças ou torturas. Eu tenho um vazio enorme dentro de mim mas é esse vazio que me faz ser quem eu sou. Não há nada que ele possa usar contra alguém assim, parece que o jogo está prestes a se igualar.
— Não pense que pode contornar as regras — ele finalmente falou — não pense que pode me desafiar ou me desobedecer. Você não faz ideia de com quem está falando.

— Com quem estou falando?
— Com alguém que pode te fazer viver os piores pesadelos.
— Ih rapaz, chegou tarde — rio.
— Suas aulas começam na segunda feira, acho bom que aprenda tudo, principalmente as aulas de piano. Vai tocar para mim.
— Claro patrão, você quem manda — debochei instintivamente.
— Sem gracinhas, você vai subir esse seu nível de classe ou eu irei te matar. E isso não é uma ameaça, é um aviso. Não vou deixar uma pirralha qualquer estragar os meus planos — o clima estava começando a esquentar, era possível notar isso em seu tom de voz. Parecia estar preocupado com alguma coisa, algo que estava escondendo.
— Pelo que entendi, quando tudo isso acabar eu vou poder ir embora, certo?
— Sim.
— Então não se preocupe com o aprendizado, eu vou subir os meus níveis, não porque você quer, mas porque eu preciso. Entrei nisso pela grana e vou sair com ela.

Meu Diabo FavoritoWhere stories live. Discover now