Capitulo 25

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— Não tenho medo de você, só não quero que chegue muito perto.
— Por que? — ele pergunta enquanto posiciona o seu rosto bem próximo do  meu. Por que isso agora? Deve estar querendo me estressar, só pode.
— Por que eu não gosto nem um pouco de você — ele está perto demais, nossos corpos quase se encontram, mas não vou abaixar o rosto e nem desviar o olhar, ele vai ver que também posso ser uma fera perigosa.
— Esse olhar que você tem, essa maneira de me desafiar mesmo estando com medo. Mesmo sabendo que eu posso acabar com a sua raça a qualquer momento.

— Você não pode nada — retruquei — você é quem tem medo de mim.
— Ah eu tenho? — ele sorri — Vejamos, você é fraca, baixinha e magricela. Por que eu teria medo?
— Você tem medo de não poder me controlar. Por isso fica me atacando de todas as formas possíveis. Eu já disse, tente o quanto quiser, não tenho pontos fracos.
Ele deslizou os dedos sobre o meu rosto delicadamente. O que estava pensando? Por que não fica com raiva ao me ver desafiando sua autoridade?
— Você nunca teve família ou amigos, era pra você ser uma garotinha chorona  e carente.
— Mas não sou. E o que isso tem haver? Eu devia abaixar a cabeça pra todo mundo só por que tive uma vida ruim? Larga de ser retardado, você não entende nada por que sempre foi rico, tenho certeza. Rodeado de funcionários para limpar a sua boquinha com guardanapos.

— Então você acha que ser uma rebelde que desafia tudo e todos é uma boa maneira de foder com a vida que te fodeu?
— É, eu acho — nossos olhos estavam fixos um no outro.
— Você não parecia tão feroz quando foi despejada naquele noite. No dia em que jogaram suas coisas pela janela do apartamento.
Como ele sabia disso?
— Aquela noite foi diferente, tudo aconteceu muito rápido e por isso não tive tempo de mandar eles se foder. Eu ia pagar o aluguel no dia seguinte.
— Sei que ia, mas alguém alugou todos os quartos do apartamento e exigiu que os inquilinos fossem despejados — ele voltou a sorrir.

— Então... foi você. Você fez eles jogarem as minhas coisas pela janela —  as lembranças daquela noite me traziam uma sensação ruim. Eu havia sido tratada como lixo, tive que recolher todas as minhas coisas espalhadas pela calçada. Coisas valiosas para mim.
— As pessoas fazem tudo por uns trocados, não é mesmo. Você mesma assinou um acordo com o diabo porque estava desesperada, sem lugar para dormir e com frio na rua. Humilhada.
— Por que você fez aquilo? — minha voz ficou tremula. Sinto como se toda a minha ferocidade tivesse dado lugar a uma garotinha fraca.
— Vai chorar?
— Eu não precisava de você e nem do seu dinheiro — sinto meus olhos lacrimejarem.

— Você precisava sim. Sempre foi fraca e inútil, você não é e nunca foi forte, Kaila. A verdade é que você se acostumou a ser tratada como lixo. A ser vista como escória. Eu estou de olho em você a muito tempo.
— Por que? — estou chorando, que merda, mas não vou abaixar a cabeça.
— Viu, chorando como uma garotinha patética e triste — ele se afastou e deu as costas indo em direção a porta. Então era isso o que ele queria, falar daquela noite, esfregar na minha cara tudo o que aconteceu até descobrir o quanto aquilo me afetava.
— Vai se foder — gritei — faça o que quiser comigo, me torture, fale coisas ruins, me faça chorar — ele parou de andar — eu não ligo, eu vou continuar te desafiando mesmo chorando, vou continuar mandando o mundo se foder, MESMO CHORANDO. Eu sou forte... — caio de joelhos e fico encarando o carpete, vendo as lágrimas caindo sobre ele.

Isso não é só por culpa dele, isso também é minha culpa. Estou a tanto tempo segurando essas lágrimas, tanto tempo reprimindo essas emoções. Eu nunca quis que ninguém soubesse desse meu lado frágil, muito menos alguém como ele. Mas agora é tarde demais, ele já sabe que eu não sou tão fria quanto fingia ser. Deve estar feliz com essa vitória, feliz em me ver assim.
— Kaila, você é patética — foi a única coisa que ele disse antes de desaparecer corredor a fora. Fiquei ali por mais alguns minutos apenas refletindo sobre tudo o que havia acabado de acontecer. Até que chorar depois de tanto tempo não foi tão ruim assim.

Limpo o rosto usando a manga longa da blusa que estou usando e pego o livro que havia deixado cair no chão. O posiciono em seu devido lugar e faço um rabo de cavalo no cabelo. Vou precisar dele assim para aquilo que estou planejando fazer. Fico ali parada no meio da biblioteca por mais alguns segundos, apenas sentindo meu corpo ser tomado pela adrenalina após o sofrimento. Ódio e fúria, são as únicas coisas que consigo sentir nesse momento e o diabo vai pagar caro por isso.
Saio da biblioteca e passo pelos demais corredores indo em direção a sala de jantar. Ela está vazia, como de costume naquele horário, mas em algumas horas ela irá ser tomada por cozinheiros preparando o jantar. Passo pelo balcão que leva até a cozinha e vou rápido ao encontro das geladeiras e freezers, abro uma por uma a procura daquilo que quero e enfim encontro, uma bandeja de ovos bem cheia. Isso deve servir.

Saio da sala levando comigo aquela bandeja e ando de cômodo a cômodo até encontrar o diabo próximo a área da piscina. Ele está de costas conversando com Bety, ela logo me avista mas não dou tempo para nenhum dos dois, seguro firme um daqueles ovos e atiro com toda força contra Lúcifer, mirei em suas costas mas acabei acertando sua cabeça. A visão do ovo eclodindo contra aquele maldito me deu uma alegria extrema.
— Mas o que?... — ele leva a mão até os cabelos melados e se vira para mim, Bety nesse exato momento está de boca aberta enquanto me encara, parece não acreditar no que vê.
— Kaila, o que está fazendo? — Ela pergunta.

— O que eu devia ter feito a muito tempo — pego outro ovo e miro bem na cara do safado, mas este bate contra o seu peito.
— Quer parar, essas roupas custaram caro — ele reclama, ainda não tomou nenhuma atitude, deve estar tentando entender o que esta acontecendo ali.
— Fale mais, FALE — Jogo outro, mas este eu erro — ZOMBE DE MIM — Atiro mais um que acerta seu braço e ele finalmente tenta me parar vindo em minha direção. Pensa que vou recuar é seu merdinha. Ainda me restam uns nove ovos, não tenho tempo para pensar então começo a pegar um por um e a jogar contra ele, o fazendo dar passos para trás — VEM DEMÔNIO, VEM — grito rindo, que se dane as consequências disso.
— Eu vou acabar com você — ele me ameaça enquanto tenta se proteger.

Meu Diabo FavoritoWhere stories live. Discover now