Capitulo 32

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— Sério? — continuou a outra — Não liga pra minha irmã não, ela tem esse senso de superioridade quando na verdade não consegue nem amarrar um cadarço sem ajuda dos mordomos dela.
Me sentei em um dos assentos disponíveis e nesse mesmo instante fui servida por ninguém menos que Bety.
— Bety, já estou ficando com saudades de você — falei, arrancando um sorriso dela.
— A Cho está sendo tão cruel assim?
— Você nem imagina, já na primeira aula ela disse que minha bunda está mal posicionada.
— É bem a cara dela falar essas coisas.

— Você a conhece?
— Conheço todos os conhecidos do patrão.
Fiquei encarando os talheres a minha frente, se bem me lembro não sei nada sobre eles e nem qual usar para comer certo alimento. Espero que as gêmeas não percebam que acabei de segurar uma colher comum, está é a única que eu sei usar.
— Então, Kaila — começou uma delas — ficamos sabendo de algumas coisas sobre você e... — ela foi interrompida pela irmã que a cutucou no ombro — o que? Eu só ia fazer uma pergunta pra ela.
— Não podemos, lembra? — elas começaram a cochichar entre si enquanto Bety e eu trocávamos um olhar confuso.

— Pode perguntar — dei a primeira colherada — eu não ligo e não irei dizer a ninguém. Mas antes precisam me ajudar em uma coisa.
— O que? — perguntou a mais próxima de mim.
— Pelo que entendi, ainda teremos várias aulas juntas então preciso saber identificar vocês, como faço isso?
— Aqui — uma delas levou o indicador a orelha — está vendo, eu sou a Amber e uso brincos cor de rosa — havia mesmo um pequeno brinco bolinha que eu não havia percebido antes.
— E eu uso brincos amarelos — dessa vez foi Diane quem apontou. Então é isso, rosa para Amber e amarelo para Diane. Agora sei diferencia-las pelo nome, brincos e voz, vai ficar mais fácil dialogar.

— Entendi — falei — agora já podem fazer a pergunta.
— Ok — Amber parecia estar agitada... não... na verdade ela estava curiosa, muito curiosa — é verdade que você morava num lixão e seus travesseiros eram gambás?
— Senhorita — falou Bety rindo enquanto colocava sua mão sobre o meu ombro — os boatos sobre a senhora parecem estar se espalhando pelos quatro cantos da terra.
— Pare de rir — a cutuquei — na verdade eram quatro gambás e dois tatus.
— E como você cuidava desse povo todo? — Bety entrou no jogo.
— Ué — comecei minha explicação — ficávamos na praça rolando no chão pra poder ganhar miolos de pão. O único problema era a guerra com os pombos e os mendigos.

— Sério??? — Diane parecia estar engolindo aquela história.
— Óbvio que não, irmã tola — Amber cruzou os braços — ela está zombando da gente.
— Vocês quem começaram. Quem foi o idiota que falou que eu morava com gambás?
— O Lúcifer falou.
Ah, tinha que ser o demente, mas quando foi que eles tiveram contato?
— Não acreditem no que aquele homem fala, ele não bate bem da cabeça.
— Olá minhas três garotinha lindas — Cho adentrou na sala — é hora de voltarmos a nossa primeira aula agora que todas aprenderam o básico sobre andar de salto.

— O básico??? — perguntou Diane.
— Óbvio, não achou que andar de salto era apenas dar uma volta desengonçada sem cair, achou? É como eu disse antes, isso vai precisar de prática e por isso não devem tirar seus sapatinhos por nada. Bety, posso falar com você uns segundinhos?
O que ela quer falar com Bety? Será alguma nova informação sobre as aulas? Mas se fosse isso ela não devia informar ao próprio Diabo? É bom eu ficar de ouvidos bem abertos para saber do que se trata.
— Claro — respondeu Bety.
— Vamos — Cho a chamou para sair dali. Mas por que??? O que seria tão importante a ponto de não poderem falar na nossa frente? Preciso saber. Esperei as duas saírem da sala e arrumei alguma desculpa para fazer o mesmo.

— Preciso pegar o meu Tablet, não se matem — falei e saí de fininho, cruzei o corredor que levava ao salão principal e as duas estavam paradas ali perto, o jeito foi me esconder atrás de um dos grandes vasos rústicos que  ficavam próximos ao Hall.
— Vocês vão mentir até quando? — Cho  fez uma pergunta a Bety.
— Ele não te disse para não fazer perguntas demais? — a voz de Bety estava mais firme que o normal e sua postura também havia mudado.
— Agora estou envolvida nisso tanto quanto vocês, a minha cabeça pode rolar a qualquer momento então o mínimo que podem fazer é me darem respostas. A garota é um prodígio, eu entendo, mas ela vale todo esse risco? Vocês estão dispostos a morrerem por ela?
De quem elas estão falando? Que papo é esse de morte... será que... todo esse papo é sobre mim???
— Você sabe muito bem a resposta para essa pergunta. Eu esperei demais — Bety se manteve firme, mas atenta a alguma coisa. Pelo visto aquela conversa era proibida naquele ambiente.

— E quando pretendem dizer toda a verdade? Sabe que se continuarem com isso uma hora ou outra a verdade vai aparecer e nesse momento eles vão vir com tudo pra cima do Lúcifer, vão apagar ele e a gente da face da terra assim como fazem com os grandes.

— Lúcifer não costuma errar, ele foi treinado para não errar e eu confio nele, ele cumpriu a sua promessa comigo e eu serei eternamente grata.
— Espero que vocês realmente saibam no que se meteram. Vou confiar em vocês — Cho ajeitou os cabelos — vou transforma-la em uma deusa e vocês cuidem do resto. Fiquei sabendo que ele diminuiu as aulas que ela teria. Isso é verdade?
— Quase isso — Bety respondeu enquanto ficava de olho na entrada principal da mansão, de olho em qualquer movimento que seja. É melhor eu dar o fora daqui antes que elas decidam voltar para a sala de jantar. Mas essa conversa está tão estranha, não restam dúvidas de que estão falando de mim, mas o que tudo isso tem haver comigo? Se eles estavam planejando tudo isso então não foi o contrato que me trouxe aqui, era tudo parte do plano de Lúcifer. Vendo por esse lado faz sentido já que foi ele quem me fez ser despejada do meu antigo apartamento. Ele disse que já estava de olho em mim e eu não o levei a sério, mas por que eu? Por que a cada novo dia nesta mansão surgem mais e mais dúvidas e perguntas sem respostas?

Meu Diabo FavoritoWhere stories live. Discover now