Capitulo 12

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— Se me dá licença, te vejo por aí. Te desejo sorte.
— Vou precisar.
Bety deixou o quarto e eu fiquei mais alguns minutos estudando as abas apresentadas na tela do Tablet. A primeira era a do mapeamento da mansão contendo a minha localização, na segunda encontrava-se a minha pobre personagem de nível um, a próxima aba possuía alguns tópicos como: Subindo De Nível, Mundo externo, Lojas, Carros, Casas. A única que eu consegui acessar foi a Subindo De Nível, onde encontrei arquivos para me ajudar. Com isso aprendi algumas coisas, tipo o fato de que o rastreador em meu pulso também servia como uma chave eletrônica para desbloquear portas de acordo com meu nível, só precisava aproximar o dispositivo das portas, se ele brilhasse verde então a porta iria se abrir sozinha. Encontrei mais algumas abas mas elas estavam bloqueadas.

O jeito agora era sair do quarto e começar a minha exploração do dia, por algum motivo me senti ansiosa e nervosa ao mesmo tempo. Mas dane-se, eu posso, eu consigo. Ok, eu estou aqui, no meu quarto como mostra o mapa na tela. Dou alguns passos e deixo o cômodo, vendo que o pontinho vermelho no mapa fez a mesma coisa, ficando em um corredor assim como eu. Devo admitir que isso é muito foda e maneiro, tudo muito tecnológico e moderno. Mas não sou besta, sei que isso não serve apenas para me orientar, serve também para que o idiota fique de olho em todos os meus passos. Aquela pequena parte da mansão eu já conhecia, pelo menos um pouco. Então decidi que iria descer ao primeiro andar e começar de lá, ao descer a escadaria luxuosa fiquei apreensiva enquanto o cenário se revelava a mim, mas por sorte estava deserto, sem a presença de funcionários ou do próprio diabo de terno.

Comecei a andar de um lugar a outro, sempre de olhos abertos a qualquer movimento suspeito. Tentei abrir algumas portas usando o meu dispositivo mas ele ficava vermelho em todas elas, parece que para abrir a porta mais simples eu precisaria estar pelo menos no nível dois. Como aquele idiota quer que eu explore a casa se não consigo abrir nenhuma porta? Que inferno. Fui para fora da mansão e me sentei em um pequeno banco de pedras que ficava de frente para o chafariz, era bonito, nunca havia visto um antes. Por alguns momentos me peguei encarando o enorme portão protegido e em outros eu ficava namorando a grande mansão que se erguia sobre os meus olhos a minha direita. Eu posso ter uma ainda maior, quando tudo isso acabar.

Posso até mesmo comprar um orfanato e fazer com que todas as crianças nele tenham tratamentos melhores do que aquele que eu tive. Me assustei quando o Tablet vibrou, era a primeira vez que ele fazia aquilo desde que o peguei. Olhei de um lado para o outro para ver se ninguém estava me vendo e sussurrei: Escrava do Lúcifer. Na tela do Tablet surgiu uma notificação que dizia: Você Recebeu Uma Tarefa, Deseja ver?
Com a curiosidade aflorando, cliquei na notificação e outra mensagem apareceu: Café Da Tarde, Vá Para A Sala De Estar Antes Do Tempo Acabar. Abaixo dessa mensagem havia um pequeno relógio que marcava o tempo restante que eu tinha antes da tarefa terminar.

Eu possuía exatos Dois minutos e meio e sem enrolar mais, me levantei e passei rápido pela porta principal da mansão enquanto abria o mapa no Tablet. Essa vai ser fácil, eu estou bem aqui, na entrada. A sala fica, vejamos... Dou zoom nos pequenos nomes de cada cômodo estampados no mapa, achei. Sigo com passos largos para o corredor a minha direita, passo perto ao Hall da sala de jantar e fito tudo lá dentro. Está silenciosa e calma então sigo andando pelo corredor, seguindo o caminho rumo ao meu objetivo.
Antes mesmo do tempo chegar na metade, eu entro na grande sala de estar, havia estado ali durante a minha exploração mas mesmo assim me surpreendo novamente com sua expansão e detalhes.

Muitos móveis lindos, vasos, quadros caros e carpetes de luxo. O Tablet vibrou novamente e dessa vez a mensagem dizia que eu havia completado a tarefa com sucesso, rolei as abas até encontrar a minha personagem mas ela continuava no nível um. Talvez eu deva fazer uma série incansável de tarefas para conseguir subir o meu nível. Mas e agora? Estou aqui mas não vejo nada e nem ninguém, acho que vou voltar lá pra fora já que completei minha tarefa.
— Senhorita — uma voz soou atrás de mim. Ao me virar me deparo com um dos funcionários da cozinha segurando uma bandeja prateada, sobre ela haviam duas xícaras de café e algumas guloseimas, fatias de bolo, roscas e pequenos docinhos — hora do café da tarde — ele andou até uma pequena mesa de vidro que ficava na frente de um dos sofás, colocou a bandeja e se virou novamente para mim — gostaria de uma companhia? Eu conheço uma pessoa que adora o café da tarde.

— Bem... eu não estou com fome mas sim, eu aceito — meio que falei hesitante, quem poderia estar ali para me fazer companhia? Tudo o que eu via eram funcionários que agiam como marionetes controladas por um maníaco sádico.  Menos a Bety, essa sim se parecia com um humano de verdade.
— Sente-se, irei chama-la para você — terminou ele enquanto passava por mim, exalando um perfume relaxante de lavanda ou algo parecido.
Me sentei naquele grande sofá confortável e por alguns segundos me perdi em pensamentos enquanto encarava as xícaras de café. Se ele trouxe duas é porque sabia que eu aceitaria a companhia, qual era a pegadinha dessa vez? E se eu não aceitasse? Preciso começar a ser menos previsível. Peguei uma das xícaras e neste mesmo momento alguém sentou-se bem ao meu lado. Uma pessoa com passos tão leves que eu mal havia a notado até aquele exato momento.

— É hora do café da tarde — foi a única coisa que disse enquanto levava a mão até a outra xícara sobre a bandeja. Era uma menina, usava um vestido branco rodado, seus cabelos castanhos estavam ondulados e em seus pés haviam sapatinhos como os de uma princesa.
— Oi? — Falei, na tentativa de obter informações.
— Prazer, me chamo Horrania — ela estendeu a mão dando um sorriso, suas bochechas eram fofas e rosadas.
— Prazer, sou Kaila — apertamos as mãos.
— Meu pai me disse que você precisava de uma companhia.
— Seu pai? O homem que trouxe a bandeja?
— Sim.
— Seu pai parecia já saber que eu aceitaria.
— Meu pai sempre sabe das coisas.
— Bem, sirva-se. Eu estou sem fome — mal terminei de dizer e Horrania revirou a bandeja usando as mãos, pegando tudo o que podia caber em seus dedos. Aquilo me fez sorrir, ela usava um vestido de princesa, mas sua fome parecia mais com a de um ogro.

— Nem precisava dizer, eu não resisto a comida deste lugar, sempre tem algo novo e mais gostoso para provar.
— Você está de visita?
— Não, eu moro aqui. Já vai fazer uns três meses. Foi a melhor coisa que me aconteceu, o melhor emprego do meu pai em anos. Nossa salvação — ela encheu a boca com roscas.
— Salvação? O que quer dizer com isso.
Após alguns instantes mastigando, ela finalmente respondeu.
— Estávamos morando na rua, eu e meu pai. Mas então o tio Lúcifer apareceu e ofereceu emprego ao papai, desde então estão sendo os três meses mais felizes de toda a minha existência.
— Ele simplesmente chegou e ofereceu emprego? Assim do nada?
— Acho que sim, não sei bem, papai teve que assinar aqueles contratos, fazer a barba, essas coisas.
Contrato, será que todos nesta mansão eram pessoas sem propósito algum na vida? Pessoas desesperadas por dinheiro? Preciso me informar mais sobre todos os funcionários deste lugar, teriam eles assinado o mesmo pergaminho com sangue igual a mim?
— Você já conversou com Lúcifer?

Meu Diabo FavoritoWhere stories live. Discover now