Capitulo 22

3.5K 287 14
                                    

— O que pretende fazer? Aposto que nunca teve mais que mil reais no bolso.
— Acho que quero começar com orfanatos, adquirir alguns, legalizar a papelada e dar a vários órfãos o que eu não tive, tratamento adequado.
Por alguns minutos ficamos ali, lado a lado apenas observando as luzes da cidade. Mas algo me incomodava, era como se estar ali envolvesse muito mais do que apenas um contrato idiota. O que aquele homem misterioso estava escondendo de mim? Qual era a verdade por trás daquele contrato com o diabo e por que ele havia escolhido logo a mim, uma garota sem nada a perder?

Eram perguntas que dançavam em minha mente e talvez eu nunca tivesse as devidas respostas. Mas algo ficou claro naquela conversa, ele finalmente entendeu que me ameaçar ou torturar não iria adiantar, então qual seria o seu próximo passo? O que ele iria tentar usar para me afetar? Ou melhor, será que existia algo que ele pudesse usar?
— Orfanatos, quanta nobreza. Então por baixo dessa sua máscara de garotinha durona existe um coração? — eu podia sentir claramente seus olhos sobre mim, mas estava começando a me acostumar com aquilo.

— Eu não uso máscaras — respondi, devolvendo o olhar vibrante.
— Está empolgada para por suas mãos na grana do diabo?
— Se eu dissesse que não, estaria mentindo. Passei minha vida atras de dinheiro para pagar contas, comida, apartamento. Nunca me sobrou nada para gastar com o que eu quisesse. O pior disso tudo é a maneira como as pessoas te olham na rua, elas olham suas roupas, seu calçado e te julgam na mesma hora.
— Sente ódio dessas pessoas?
— Bem... eu sinto. Eu queria mostrar a elas que posso ser muito mais do que uma simples garçonete pobre. Mas não pense que sou grata a você ou que somos iguais.

— Iguais? Eu nunca pensaria isso — ele  sorriu, mas não era um sorriso de sarcasmo — por que seríamos iguais? Você é patética, não se esqueça disso.
Ele trocou um último olhar comigo antes de dar as costas em direção as escadas.
— O que eu faço agora?
— Está na hora do jantar, pode se unir a mim ou descer para a sala de jantar. A decisão será sua.
Ele estava diferente, alguma coisa havia mudado depois de toda aquela conversa. Seu tom não parecia desafiador, apesar de esconder algo de mim. Minha intenção era desafia-lo ao máximo possível, mas nunca pensei que funcionaria. Ou isso seria apenas mais um plano dele? Começar a agir como homem bonzinho na intenção de me enganar e me ferir.

Por algum motivo as palavras ditas por Morgana começaram a martelar em minha cabeça. Não se apaixone pelo diabo... patético, alguém arrogante nunca seria capaz de me fazer ter sentimentos, aliás, acho que quase nada neste mundo seria capaz de despertar minhas emoções.
Mas por que... por que ele começou a agir diferente. Enfim, melhor não pensar muito nisso e manter o máximo de distância possível como o planejado. Decidi que iria jantar na sala e não com ele, seja lá qual fosse o seu plano, não iria funcionar comigo. Não quero criar intimidade com ele, não quero nem ter que dialogar por muito tempo.

Vou apenas seguir as regras do jogo, subir de nível e aproveitar a chance que me foi dada de subir para a alta classe social. Fiquei mais algum tempo apenas olhando para o horizonte enquanto a leve brisa do ambiente balançava alguns mechas do meu cabelo e por fim fui para a sala de jantar.
Bety estava lá e Horrania também. A menina devorava um pedaço de carne enquanto Bety limpava um dos vários vasos da sala.
— Senhorita — disse ao notar minha aproximação.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Claro, o que deseja saber? Estou aqui para te ajudar no que precisar.
— Quantas outras estiveram no meu lugar?
— Senhorita, como assim? — ela parou o que estava fazendo e focou toda a sua atenção em mim.
— Quantas outras garotas ele ofereceu esse contrato? Isso de subir de níveis e etc. Quero saber quantas outras ele atormentou antes de mim.

— Não posso falar disso, sinto muito — Bety ficou cautelosa, falando baixo e olhando de um lado para o outro como se as paredes pudessem nos ouvir.
— É só o que eu te peço, preciso saber.
— Por que? Isso não vai te ajudar em nada.
— Eu não queria dizer isso, Bety. Mas você está me devendo uma. Eu não sou de cobrar favores mas eu me coloquei em risco por você, graças a mim você ainda tem o seu emprego.
— Eu sei, mas...
— Mas nada. Só me responda quantas outras estiveram aqui antes de mim.
— Olha, senhorita Kaila — Bety pegou uma pequeno calendário que estava sobre o balcão da cozinha — se tiver alguma dúvida eu irei te ajudar — ela foleou O calendário — mas não irei me envolver nos assuntos do patrão. Não tenho permissão para isso — ela me entregou o calendário e deixou a sala de jantar.

Ao observar o calendário, vi que Bety havia deixado na data de número trinta, mas o três estava dobrado, deixando apenas o zero a mostra. Experta, muito experta. Pelo visto ela não podia falar verbalmente mas deu o seu jeito, depois irei agradece-la. Então é isso, eu sou a primeira a fazer parte do seu jogo doentio, pelo visto o diabo esconde mais coisas do que aparenta. Não sei porque, mas saber disso me deixa um pouco mais animada, ser a primeira me torna exclusiva, especial. Não tenho nada de patética pelo visto, sou única. Mas ainda sinto que existem mais coisas a serem descobertas, quem de fato são essas pessoas, quem é Lúcifer, quem é Morgana e porque eles estão juntos nisso tudo.

São mesmo demônios? Ele é mesmo satã? Não, impossível. Talvez eu faça alguns testes para descobrir se ele tem chifres. Após jantar com Horrania, sobo para o meu quarto, escovo meus dentes e me deito na cama digerindo todo aquele dia agitado. Já estou usando meu pijama com minhas pantufas e me sinto uma crítica boba assim. Será que Horrania também tem pantufas? Amanhã irei pergunta-la. Alguns minutos se passam e eu enfim caio em sono profundo. Acordo  assustada com o tablet vibrando sobre o criado mudo, o pego rápido e sussurro as palavras de comando ainda com voz de sono. As luzes do sol já batem contra a janela, é manhã outra vez.

Na tela do Tablet apareceu outra tarefa: Novas convidadas! Chegue ao corredor 2 sem ser vista. Tempo restante: 1:34s. Droga, faltam menos de dois minutos, que inferno de tarefa é essa. Me levanto rápido e saio do quarto enquanto abro a aba do mapa. Meus cabelos estão bagunçados e minha cara está toda amassada pelo travesseiro. Ando devagar e espera aí... o corredor 2 é mesmo corredor onde fica o covil do diabo, o que ele esta aprontando agora? Por que essa tarefa me pediu para não ser vista?
Ando na ponta dos pés, ainda sonolenta e ao me aproximar da divisória que levava ao corredor 2 escuto algumas risadas, alguém está conversando. Uma das vozes eu reconheci de cara, era o diabo, a outra era uma voz jovem feminina. Levo a cabeça lentamente, revelando todo o corredor, Lúcifer está parado perto ao seu covil, falando com uma mulher de cabelos loiros e vestido preto. Um vestido muito colado, consigo ver toda a circunferência de sua bunda, e tenho que admitir, é uma bunda enorme. Ela está de costas para mim então não consigo ver o seu rosto e quando eu decido mudar de ângulo, eles adentram no covil e a porta se fecha. QUEM É ESSA QUALQUER?

Meu Diabo FavoritoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt