Capitulo 2

8.1K 506 39
                                    

— Eu? — perguntei, hesitante.
— Entre, por favor.
— Quem é você? — tentei ver seu rosto por mais uma vez mas não consegui.
— Seu motorista.
— Eu não tenho motorista.
— Agora você tem.
— Deve estar me confundindo com alguém.
— Lúcifer pediu que eu te buscasse e ele não gosta de atrasos. Então para o seu bem e para o meu é melhor irmos logo.
— Ir para onde?
— Para bem longe daqui.
— E se eu não quiser?
— Você quer. Por isso assinou o contrato.

Olhei para ambos os lados da rua, tudo continuava deserto e o clima havia esfriado gradativamente. Eu estava com medo de entrar naquele veículo mas também estava com medo de ficar ali a beira da estrada, sozinha e sem rumo. Me aproximei de uma das portas e a abri, voltei até os meus pertences no chão e os recolhi, o contrato também estava eles. Então era real, ou seria uma nova pegadinha de um programa famoso de televisão e eu não sabia? Bom, isso não importa agora. Só o que queria era sair daquele frio então entrei no veículo abraçada aos meus poucos objetos e roupas. Era tão grande e elegante, o assento principal se estendia até um vaso de flores.

No centro havia uma pequena mesa de vidro e sobre ela encontrava-se outro vaso. Boa parte do teto era de vidro, o que me possibilitava ver o céu que dali de dentro parecia bem mais lindo. A direita, próximo a uma das janelas um compartimento abriu-se lentamente revelando uma enorme TV de última geração. Também notei que ali dentro havia um criado mudo, uma penteadeira e até mesmo um pequeno freezer. Mais a frente vi uma porta média e está levava até o motorista. Fiquei encolhida naquele assento que mais parecia um sofá luxuoso e não demorou muito para que a porta se abrisse e eu enfim visse o rosto do motorista. Era um senhor de idade, usava um terno elegante e em sua cabeça havia uma boina estilo militar.

— Senhorita — ele veio até mim.
— Isto aqui é bem grande.
— Sim, o patrão gosta das melhores coisas. E olhando você de perto eu até entendo por que te escolheu – ele sorriu tentando me passar confiança e até que funcionou. Era um senhor de aparência amigável, parecia um daqueles vovôs de filme que adoram pescar.
— E isso é bom ou ruim?
— Vai depender do seu comportamento diante dele.
— Você já viu ele? O Lúcifer?
— Sim, eu sou o motorista dele. Agora também sou o seu.
— Então... Você é um demônio?
Ele sorriu enquanto andava até o pequeno freezer.
— Me diga você. Eu tenho jeito de demônio?
— Bom, um demônio tentaria passar uma boa aparência para tentar enganar.
— Quer tomar algo? – Ele se virou para mim – Tem as melhores bebidas aqui dentro.
— Tem água?

Ele voltou a olhar dentro do Freezer.
— Tem.
— Então aceito a água, estou morrendo de sede.
— Aqui — ele me entregou a agua e em seguida sentou-se ao meu lado.
— Para onde vamos?
— Eu já disse, para bem longe daqui.
— Ele é mesmo o diabo?
— Não tenho permissão para falar dele. Se eu desobedecer ele vai arrancar minha pele. Lúcifer não gosta de ser desobedecido. Se bem que ele não gosta de quase nada.
— Eu estou encrencada, não estou?
— Eu não gostaria de estar na sua pele.
Aquelas palavras me assustaram.
— Por que diz isso? Ele não pode fazer nada comigo, pode?
— Você é dele agora, então ele pode fazer o que bem entender.
— Temos um contrato, vou ter tudo o que eu quiser e o pagamento é a minha alma.

— Não é a sua alma que ele quer. Creio que você não leu nada do que estava escrito no pergaminho.
— Bem, eu li o inicio.
— A parte que falava dos seus benefícios — ele riu — devia ter lido tudo. Principalmente as letrinhas miúdas que falam das consequências em aceita-lo. Mas agora nada disso importa, você já aceitou.
Bebi um pouco da água para saciar minha sede e também para aliviar a secura que surgiu em minha garganta após ouvir todas aquelas novas informações. Eu ainda não acreditava em nada daquilo, nada daquelas coisas podiam ser reais. Mas se fossem... Então eu havia embarcado em uma jornada muito perigosa.

— Eu não vou — Falei, decidida a sair correndo daquele veículo.
— Você não tem mais escolha.
— Tenho sim, só preciso abrir a porta e fugir.
— E vai ir para onde? Até onde sei você não tem residência fixa.
— Tudo isso está me deixando apreensiva.
— E não é por menos. Mas relaxe, tudo vai dar certo desde que você faça tudo o que ele mandar.
— Não dou do tipo que obedece.
— Agora você é.
— O papo está bom — peguei minhas coisas e me levantei — mas já vou indo, sabe, tenho alguns problemas para resolver e diga ao diabo que eu mandei lembranças.

Quando dei o primeiro passo indo em direção a porta da limousine, minha cabeça começou a girar e eu caí de joelhos. Em seguida senti meu corpo colidir contra a piso do automóvel enquanto eu perdia a consciência. Não havia mais saída para mim. Agora eu estava definitivamente nas garras de um ser maligno decidido a fazer o que quisesse comigo. Quando retomei a consciência não conseguia abrir os olhos e sentia meu corpo balancear, isso só podia significar uma coisa: A limousine encontrava-se em movimento, me levando para sei lá onde. Estava deitada sobre um dos assentos, eu sabia pois a superfície era macia demais então não podia ser o chão do veículo. Também sentia algo me cobrindo, podia ser um cobertor ou um edredom felpudo, não dava para distinguir. Tentei mover minhas mãos mas não consegui e por mais uma vez desmaiei.

O DIABO

Durante toda a viagem minha consciência insistia em ir e voltar, aquilo era as defesas do meu corpo lutando contra a toxina paralisante que corria em minhas veias, ou pelo menos era essa a minha dedução. Eu sentia frio, calor e depois frio novamente. Por um bom tempo tudo se tornou apenas escuridão absoluta, mas então algo diferente aconteceu. Eu fui arrebatada dessa sensação nebulosa por um balancear diferente do de antes. Era mais intenso, lento, mas intenso. Foi então que eu percebi que alguém estava me carregando.

Eu queria abrir os olhos e gritar, mas cada vez que tentava fazer isso era puxada para o nada novamente. Pude escutar o som de uma porta se abrindo e segundos depois meu corpo foi colocado sobre uma superfície mais macia do que a anterior. Era uma cama, eu não podia ver mas tinha certeza de que alguém havia me colocado em uma cama. Um vapor quente entrou em contato com um de meus ouvidos, alguém estava sussurrando algo para mim, aquilo fez meu coração disparar.

— Eu sei que você está me ouvindo — era uma voz grave e autoritária. Meu Deus, é ele? Só pode ser ele, aquela sensação, aquela presença estranha... Definitivamente estou com medo, quero fugir, quero gritar, quero me distanciar o maximo possível desse ser — eu sinto o cheiro do seu medo — senti um leve beijo em meu queixo e mais uma vez fui tomada pela escuridão enquanto meus ouvidos eram martelados pelas batidas do meu coração.

— Kaila — alguém está me chamando, me puxando de volta para a realidade. A voz é feminina e doce. Abro lentamente os olhos e me deparo com uma mulher me encarando. Minha vontade é levantar daqui, mas ainda não tenho forças para isso.
— Quem é você?
— Meu nome é Bety. Sou uma das empregadas da mansão e recebi ordens para desperta-la.
— Ordens de quem?
— Lúcifer.
— Ah, que droga — suspirei, tentando processar todos aqueles últimos acontecimentos. Era tão surreal e já que eu não podia fugir, o jeito seria me aprofundar mais e descobrir a verdade sobre o suposto diabo.

Meu Diabo FavoritoWhere stories live. Discover now