Capitulo 9

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— Com bastante dedicação você vai conseguir.
— Eu passei a vida inteira tendo que encarar olhares de desprezo e com ele não está sendo diferente. Ele me olha igual a todo mundo, como se eu fosse apenas um grande fardo. Um pedaço de nada.
— Então prove que você é mais que isso. Se torne superior a ele e a todos os outros desta sociedade hipócrita. Me deixe transformar você em alguém que se iguale a realeza.
— Isso é possível?
— Por isso estou aqui. É como eu disse, você não precisa criar planos, apenas seguir as regras.
— Falando em regras — larguei o garfo sobre o prato – Eu não sei onde foi parar o meu contrato.

— Está comigo. Eu o peguei no carro do motorista que te trouxe para cá. Não se preocupe. A Bety te contou sobre os níveis dos quartos lá em cima?
— Sim. Pelo que entendi, o meu desempenho define o nível do meu quarto.
— Não só o nível do seu quarto mas também o seu nível pessoal.
— Pessoal?
— Sim. O seu nível atual, vejamos — ela me fitou inteira — Eu diria que é zero.
— Obrigada, me sinto mais amada — sorrio e ela faz o mesmo, expondo seus dentes brancos.
— Continuando, quanto mais alto for o seu nível pessoal. Melhores serão as vantagens, como por exemplo ter seu próprio carro, sua própria casa ou até mesmo sua própria empresa. Se quiser, é claro.

— Minha própria casa?
— Sim, não achou que iria morar aqui o resto da vida, achou? Eu vou repetir, você não é uma prisioneira. Está mais para uma convidada especial. Mas não confunda as coisas, o fato de não ser uma prisioneira não significa que pode sair sem permissão ou fugir, Isso seria uma quebra de contrato.
— Para poder sair, devo subir meu nível pessoal?
— Exato. A princípio vai sair acompanhada. Depois sozinha. Por isso eu digo que o desempenho é tudo.
— Como faço para subir meu nível? — fui direto ao ponto.
— Durante a semana você receberá aulas de professores profissionais. Aulas de como se portar a mesa, aulas de música, aulas de dança, aulas de postura. E aos sábados irá jantar com o patrão, podendo assim por em prática o que está aprendendo. Mas não se engane, não é apenas o patrão que pode definir seus níveis.

— Você também pode?
— Claro – ela sorri amigavelmente — assim como todos os outros funcionários desta residência. Uma das tarefas deles é simplesmente anotar tudo o que você fizer, depois repassar ao Lucifer. Sendo assim você está sendo testada o tempo todo, acabou de ser testada sem perceber.
— Acabei? Quando? — fiquei confusa.
— Quem você acha que escolheu os pratos do seu almoço? Os três eram um teste.
— Ah... Eu falhei — sorrio — escolhi o prato mais simples.
— Escolheu aquele que mais se familiarizou, eu já esperava por isso. Mas não tem com o que se preocupar, foi um teste pessoal meu, isso não vai ser relatado — ela deu uma piscadela.

— Então, se ele é o diabo. Isso faz de você o que? Um demônio?
— Quem sabe um dia você descubra — ela levantou-se — eu voltarei a tarde para conversarmos um pouco mais. Vou aproveitar e trazer o seu contrato também, é bom tê-lo por perto.
— Você já vai?
— Infelizmente. Passei aqui rapidinho apenas para que fossemos apresentadas de uma maneira mais formal. Nossa conversa na lanchonete foi bem travada.
— É, foi mesmo — pensar na lanchonete me fez lembrar de Hilary, aquela ali sim adoraria estar dentro desta mansão. Suspeito de que ela faria qualquer coisa, ou até mais, para conseguir um contrato como o meu — antes de ir, tenho uma pergunta.
— Qual?

— O que me faz especial? — Eu realmente não entendo o porquê fui escolhida entre muitas garotas fracassadas iguais a mim.
— Essa pergunta é fácil de responder. Nada — ela fez um gesto com a cabeça e deu as costas. Então não é nada? Fui simplesmente escolhida aleatoriamente  para estar ali. Enfim, estou decidida a mudar o meu plano de fuga para um novo plano. O plano da ascensão de alguém que passou toda a vida sob a sombra de uma sociedade cruel. Eu preciso disso, não, eu mereço. Construirei meu trono acima das estrelas e todos verão que fui eu quem nasci para reinar neste mundo.

Mas antes preciso dar um passo dar cada vez, Morgana disse que terei aulas, não sei se isso é bom ou ruim. Terei que descobrir ao longo da minha jornada aqui. Dou mais uma olhada em volta para memorizar cada canto da sala de jantar, percebo que os cozinheiros atrás do balcão da cozinha estão me encarando mas logo desviam o olhar. O que será que estão pensando? Devem achar que sou apenas uma pobre coitada, e de fato sou, mas por pouco tempo. Me levanto rápido da cadeira, ops, rápido demais. Esbarro com o corpo na cadeira a derrubando.

A levanto rápido, mas não tão rápido pois os cozinheiros conseguiram ver. Droga, será que vão relatar isso? Pelo que Morgana me disse, esses funcionários vão me vigiar dia e noite para poder descrever minhas ações diárias ao seu patrão idiota. A residência não parece ter câmeras e pelo visto nem precisa, esses puxa saco ficarão de olho em tudo então a partir de agora preciso ficar esperta em cada movimento.
Deixo a cozinha e volto para a recepção onde fica a escadaria dupla, vejo alguns funcionários transitando de um lado para o outro. Alguns carregando caixas, outros limpando os quadros luxuosos, os carpetes felpudos e os vasos rústicos.

Meus olhos percorrem o rosto de cada um, preciso encontrar Beth, não sei para o que exatamente, mas preciso encontra-la. A minha direita está a porta principal da mansão, quero sair e ver o que há lá fora. Mas talvez seja arriscado fazer isso agora já que cada funcionário que passa por mim me encara como se eu fosse algum tipo de criminosa. A esquerda está a escada e seguindo adiante vejo um corredor que se estende até uma porta fechada. A direita da porta o corredor faz uma curva, o que deve ter ali? Bem, vou ter que ver com meus próprios olhos.

Meu Diabo FavoritoWhere stories live. Discover now