Capitulo 6

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— Aqui é tão grande assim? — parei próximo a primeira porta que vi, levei a mão até a maçaneta mas não consegui abrir.
— Está trancada, todas as portas ficam assim – explicou ela enquanto aproximava-se.
— Por que? Não vai me dizer que existem mais mulheres dentro destes quartos.
— Não. Mas se houvesse, seria um problema para você?
— Que pergunta estranha.
— Ficaria incomodada em não ser a única escolhida por ele?
Agora ela conseguiu me deixar numa posição confusa.
— Que idiotice está falando? Eu não dou a mínima em ser escolhida ou não. Estou aqui por um motivo apenas.

— Qual?
— Eu não fazia a menor ideia de que o contrato era real. Eu só assinei por isso. Agora estou aqui e ainda não faço a menor ideia de como vou sair.
— Em breve vai entender que apesar de tudo você não é uma prisioneira. Pelo menos não totalmente.
— Ajudou bastante.
— O que achou dele?
Voltei a caminhar pelo corredor, dessa vez lentamente e passando a mão pelos detalhes da parede.
— Nada de especial.
— Geralmente as mulheres se jogam aos pés dele.
— Idiotas e oferecidas. Mulheres nada especiais para um cara nada especial. Nada muda.
— E o que faz de você diferente?
Bety continuava a alguns passos atrás de mim. Até parecia que era eu quem a guiava na expedição pela casa.

— Você está fazendo perguntas bem estranhas, qual é o segredo? Está sendo paga para arrancar informações sobre mim?
— Eu só quero entender o que te torna tão especial para o patrão. Quem de fato é você, Kaila?
— Vejamos — parei de andar e me virei para ela — falida, recém moradora de rua e sem nenhum laço familiar. Eu praticamente não existo. Então não fique se perguntando quem eu sou ou de onde eu vim. Eu não sou ninguém e não vim de lugar nenhum.
— Sem laços familiares, o que quer dizer com isso?
— Fui jogada num orfanato quando ainda era um pobre e inocente bebezinho. Pse, grandes país os meus.

— Eu sinto muito...
— Não sinta, até porque... Eu não sinto.
Voltei a caminhar mas tive que parar alguns passos depois. Haviam duas direções que eu podia seguir. A direita o corredor era curto e terminava em uma porta fechada. A esquerda o corredor levava a outra quebra de caminho e a minha frente havia uma porta dupla de um tom vermelho escarlate. Haviam alguns desenhos de pequenos diabinhos cravados nela.
— Está é a porta número três – explicou Bety ficando ao meu lado.
— Três? O que isso significa?
— Significa que atrás dessa porta existe outro quarto. Mas não é qualquer quarto, é o grande e incrível quarto de nível três. E adivinha, ele também é seu.
— Ótimo — tentei abrir as portas mas como já esperava elas estavam trancadas.
— Ou melhor, ele pode ser seu. Atualmente você está em um quarto nível um. Mas se obedecer às ordens do chefe e ser boazinha poderá ser promovida ao quarto nível dois e por fim um de nível três.

— Que idiotice é essa? Isso tudo é a porra de um grande jogo para ele? — tentei abrir as portas outra vez mas fracassei feio.
— Ele gosta de jogar com a mente humana.
— Que se dane ele. Então quer dizer que esse é o quarto mais luxuoso daqui, certo?
— Não. O quarto mais luxuoso é chamado de 616. É onde o patrão fica. Se quiser pode conseguir entrar nele.
— Nem morta. Acha que vou seguir essas regrinhas e joguinhos idiotas?
— Eu não quero ser insensível, mas não acho que você tenha alguma escolha.
— Quer apostar que tenho? Mas me diga. O que tem atrás daquela porta? — apontei para a porta no fim do corredor a direita.
— O salão de música. Ele gosta de pianos.

— O quarto dele fica por aqui?
— Não.
— Se ele gosta de pianos, e aqui tem um salão de música, não faria sentido ele dormir longe.
— Ele gosta de ouvir as melodias, mas quem irá toca-las não é ele. É você.
— Ah, claro. Vou tocar sim.
— Não se preocupe, receberá aulas todas as sextas — acrescentou ela.
— Claro, estou super preocupada — dei outro empurrão na porta, como esta se recusou a ceder a única escolha foi continuar explorando o lugar.
— Vou te levar até a sala de jantar — Bety acabara de estragar meu plano.
— Precisa ser agora?

— Deve estar com fome, creio eu.
— Um pouco, mas isso pode esperar, olha só o tamanho desse lugar. Preciso ver tudo.
— Vai ter sua chance. Mas infelizmente não será agora, tenho algumas coisas para fazer então preciso te apresentar a uma pessoa. Já desobedeceu o patrão uma vez, não vai querer fazer isso de novo.
— Que seja então, vamos  — de qualquer  forma me mantive empolgada, era como ser um escoteiro em meio a uma enorme selva cheia de mistérios e perigos.
— Me acompanhe — Bety seguiu para o pequeno corredor a minha esquerda, este morria em uma parede. Novamente viramos para a esquerda, entrando em uma pequena sala de estar.

— Uau — Não contive a expressão ao ver a enorme TV negra chumbada a uma das paredes. Dois sofás aveludados ocupavam o centro. Encostado em uma outra parede havia uma mini poltrona, sobre ela notei um livro fechado. Em outro canto avistei um aquário acoplado, isso sem mencionar as pequenas estantes. Os vasos de plantas, o carpete macio, o belo lustre e as grandes janelas cobertas por duas cortinas vermelhas.
— Aqui é a sua sala de estar, linda, eu sei.
— É incrível — uma excitação fora do normal tomou conta do meu corpo. Era como viver entre os deuses, tudo era bem polido e brilhava. O cheiro no ar era agradável e mesmo com as janelas cobertas a iluminação era muito boa.

— Também temos um salão de jogos.
— Eu só preciso matar o Lucifer e tudo isso será só meu.
— Empolgou.
— É, talvez — não  contive o riso enquanto cruzávamos a sala. Perto ao aquário havia outro hall, este levava a mais um corredor repleto de portas.
— Eu sei o que está pensando — Bety me fitou por cima do ombro.
— O que?
— Que aqui tem corredores demais.
— Eu estava pensando em camarões, mas sim, aqui tem corredores demais.
— Este nos leva a escadaria dupla, que nos leva a sala principal, que por fim nos leva a vários lugares da casa. Como o jardim inferno, o jardim externo, a cozinha. A sala de reuniões, a sala de jantar. E alguns outros pequenos cômodos com e sem utilidades.

— Ah eu imagino como devem ser pequenos, a julgar pelo tamanho desse lugar. Esses tais cômodos pequenos devem ser maior que o meu antigo apartamento inteiro.
— Tinha um apartamento?
— Não, só estava hospedada em um. Era uma cabana isso sim. Fui despejada ontem, algum idiota alugou todos os quar... espera aí um pouco — parei de andar ao deduzir algo.
— O que? — Bety virou-se para mim.
— Não acredito nisso, foi o maldito.

Meu Diabo FavoritoWhere stories live. Discover now