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Presente.

Eu sempre gostei de natação.

Porém quando estava fazendo aula da mesma acabei desmaiando e me afoguei por causa da minha alimentação e meus pais decidiram me tirar.

Também tentei fazer ginástica, mas também por conta da minha alimentação, eles disseram que era melhor eu não o fazer.

Sempre amei o vôlei, mas era pequena demais para fazer.

Lembro de sentir meu rosto ficar vermelho enquanto a vontade exuberante de chorar veio, quando meu pai disse que eu era pequena demais e que era um esporte que "exigia mulheres pouco afeminadas".

E então, comecei a fazer ballet.

Nunca foi a coisa que eu gostei verdadeiramente, já que preferia mais a energia e agitação, porém foi o que me convinha naquele momento e aceitei de bom grado.

Eu amava os movimentos que fazia com a ponta dos dedos... O cabelo bem preso e a delicadeza que aquilo transpirava.

O ballet se aplicava perfeitamente a mim.

Pequena, magra, exalando delicadeza e bons modos... Meus pais ficaram verdadeiramente felizes quando falei que realmente queria fazer aquilo.

Mas, a mais de seis anos atrás, mal pratico o mesmo.

Mal penso em chegar perto de uma barra ou de me exercitar para colocar as sapatilhas delicadas.

- dance para mim, Mag. Dance com graça, como uma verdadeira menina que você é - a voz ecoava nos meus ouvidos, de algum lugar escuro que havia ali, me fazendo forçar meu corpo a tentar novamente.

Tênis.

Comecei a fazer tênis um ano depois, quando estava recuperada e voltei a sentir vontade de viver. Quando decidi que aquilo já não iria me afetar, mesmo que eu estivesse vivendo na sua sombra noventa por cento do tempo.

- querida? - minha mãe me chamou, quando eu estava deixando a raquete de lado, com uma garrafinha de água - está certo para hoje?

Seus cabelos castanhos claros estavam presos assim como os meus, que por sua vez era preto. Os olhos também castanhos assim como os meus me encararam com preocupação e eu sorri, enquanto bebia água.

- vou - respondi, pegando a toalhinha que estava no banco ali perto - preciso estar lá que horas?

Os olhos castanhos estavam mais fixos nos meus, me fazendo ter medo do que ela falaria, mesmo que eu soubesse que seria algo relacionado ao meu comportamento.

- as sete - uma pausa, os olhos ainda estavam fixos nos meus, com receio - você promete que não irá ficar se esgueirando nas paredes?

Eu sorri para ela, enquanto lhe dava um breve beijo na testa.

- eu prometo, mãe - sussurrei, mesmo que meu coração estivesse acelerado ao saber que estaria tempo demais com pessoas desconhecidas, e que poderia acontecer tudo de novo.

- ótimo - ela sorriu para mim, um sorriso iluminado, que logo se transformou em algo mais contido - seu pai irá dar um anúncio lá e será muito importante.

Eu sorri, mesmo que não desse a mínima para aquilo.

O que eu não sabia era que horas depois, estaria prestes a ver meu pior pesadelo novamente.

E não poderia fazer nada para mudar.

Passado vol.1 - El finWhere stories live. Discover now