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— eu preciso sair — Ethan disse, mais de vinte minutos depois.

Eu sabia disso por conta do relógio que havia perto da estante de livros, e confirmei, sentindo a ansiedade me invadir.

— vai ser por no máximo, duas horas — Ethan continuou falando enquanto andava em círculos.

Os messes que passei com ele me fez ver que isso não era nada bom.

O tom também denunciava, mesmo que estivesse tentando ser o mais gentil e carinhoso possível.

— tudo bem — tirei uma mexa de cabelo do rosto — posso ir para qualquer lugar?

Ele parou de andar, olhou para mim lentamente e ficou me encarando, por o que parecia ser intermináveis segundos.

— pode — respondeu — mas não ache que vai achar uma arma pela casa e que vai poder atirar em mim novamente.

Confirmei, mesmo que aquilo não tivesse passado pela minha cabeça.

— tem framboesa fresca na geladeira, mas também tem em cima da bancada da dispensa. Tem cereais e essas coisas que vocês jovens gostam — o relógio foi posto no braço direito, quando ele o tirou da calça azul que estava usando — se cuida, princesinha.

Fechei os olhos quando um beijo foi depositado na minha testa, tentando não me afastar quando o mesmo se tornou demorado demais.

— não tente nada, por favor — se virou em direção a saída — não quero te castigar novamente.

O pensamento do castigo me fez estremecer, e repensar o que nem havia passado na minha mente, engolindo em seco.

— seu celular provavelmente está no nosso quarto — falou antes de sair, e me deixar sozinha.

Ethan Whyne.

Minutos antes.

Cereja.

Morango.

Framboesa.

Eu precisava pensar no que dar para Mag, mesmo que ela tivesse me pedido os morangos.

Precisava fazer uma torta, mesmo que não estivesse com cabeça para fazer aquilo, e também não quisessem chamar alguém para o fazer e muito menos pedir para a empregada que morava nos fundos também.

Eu precisava fazer a torta de Mag, mesmo que isso me custasse autocontrole e paciência.

Tirei farinha e açúcar mascavo dos seus devidos lugares, olhando para meu celular que estava encima da bancada de mármore com confusão, ao ver que o número que raramente me ligava sem estar marcado, estar me ligando naquele momento.

— boa tarde? — atendi com um pequeno sorriso, mesmo que o ressentimento estivesse ali.

você sabe que é boa tarde, Ethan. O fuso horário é o mesmo — a voz calma soou em meus ouvidos, me fazendo sentir-me culpado e ao mesmo tempo amargurado.

— olá, Ettore.

oi, Ethan.

— a que devo sua ligação? — perguntei por fim, deixando o passado tomar conta de mim, e a tratá-lo com indiferença.

estou esperando a distribuição de bebidas para cá, até hoje — falou em um suspiro — eu não estou disposto a esperar.

— não me diga — soltei uma risada nasal — espere, Ettore.

você não está entendendo, Ethan — a voz que a tempos não escuto pessoalmente soou irritada — eu preciso das bebidas, até amanhã. E não, eu não irei esperar. Sou um cliente como qualquer outro, mesmo que o contrato...

fale baixo — o cortei, sentindo meu sangue esquentar — espere, Ettore.

se você não o fizer, não me culpe pelas consequências.

Passado vol.1 - El finWhere stories live. Discover now