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— Maggie — toquei seu rosto agora seco, que olhava tudo ao redor — Maggie, olhe para mim.

Os olhos aos poucos foram voltando a minha direção. Os lábios antes ressecados foram humedecidos, e eu não hesitei em atender seu pedido para tomar banho.

— você fica linda com os cabelos molhados, sabia? — perguntei quando o único som presente era da água da banheira — você quer que eu faça alguma coisa para você comer? Posso fazer torta de framboesa, o cheiro que você sentiu foi só...

— eu quero morango — a voz quase inaudível saiu, fraca — quero deitar, ficar sozinha...

Os olhos de Mag estavam fixos na água transparente. A janela na sua frente, era refletida na água, deixando tudo mais melancólico.

Com muito custo, falei as palavras que nunca imaginei dizer.

— você quer ir para casa, Maggie? Se quiser, eu posso deixar você ficar lá por um tempo. Talvez eu vá viajar e talvez não volte mais. Talvez eu possa te levar para um lugar especial ou te mostre o meu lugar especial, não sei.

— eu só quero dormir — com cuidado, os olhos de Maggie se voltaram para os meus, me olhando com indiscrição — quero ir para o lugar que... — ela me olhou aflita, os olhos praticamente imploraram para que eu completasse para si.

— está do mesmo que você deixou da última vez — falei por fim — não com meu sangue, claro que não.

Balancei a cabeça enquanto sorria, mas parando logo em seguida, quando ela não sorriu.

— você quer ficar sozinha? — perguntei, levantando — se quiser eu posso...

— me deixe sozinha.

Maggie Catarina.

— me deixe sozinha — falei, escutando o arfar de Ethan, que por sua vez concordou, saindo dali.

Brinquei com as mãos na água, lembrando de como foi horrível perder a conciencia novamente, por um único cheiro.

Framboesa.

Olhei para a janela que havia ali, vendo uma árvore logo após a mesma, tentando adivinhar o horário, desistindo quando soube que não era boa naquilo.

Eu nunca gostei de melancolía.

Sempre preferi esportes mais animados porque achava que eles iriam me cansar e não me deixar tempo demais para pensar.

Comecei a fazer ballet porque era uma coisa delicada e que trazia paz, mesmo que no começo não gostasse.

A verdade é que, por mais que eu minta para mim mesma, negue e fale em voz alta que não: eu aprendi a gostar de ballet. Aprendi a gostar de ficar com dores nos pés, tentar calçar a meia calça de forma rápida, mesmo que houvesse risco de rasga-la.

Gostava da música calma e o bastão. Do meu cabelo preso, deixando alguns poucos traços a mostra.

Gostava muito do ballet, demais.

Mas agora, depois de Ethan, não havia sobrado nada. Somente uma vaga lembrança de um passado não tão distante, mas que parece estranho para mim.

Mesmo que me traga tão boas memórias. 

Passado vol.1 - El finOnde histórias criam vida. Descubra agora