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Por pelo menos duas vezes, perdi a consciência.

Por pelos menos três vezes, chorei por não conseguir levantar; agradeci pela água que caia do chuveiro por me fornecer água e também tentei levantar os braços para fazer uma borboleta no vidro do local em que estava, coisa que sempre fazia quando pequena.

É engraçado que em momentos críticos, você se lembra de quando era pequena, e se pergunta como aquela pessoa de anos atrás, sem um pingo de maldade ou de conhecimento do mundo foi parar naquele lugar.

Você chora por não se orgulhar e saber que a garotinha que era antes iria estar decepcionada com você por isso.

Chora por não conseguir se reerguer ou conseguir executar aquele plano que tem na mente e não tem forças para o concluir ou simplesmente não consegue sentir nada a não ser o branco.

A menina que eu era jamais iria estar ali, deitada no chão de um box, incapaz de conseguir se levantar porque acabara de ser torturada por um homem que a anos atrás, conseguiu lhe tirar um grande sonho.

Talvez eu tivesse feito algo errado quando aceitei aquela carona.

Talvez eu tivesse sentido a sensação do medo, do perigo e realmente quisesse o sofrer. O que me motivou a entrar lá e sorrir pelo papo animado que tivermos.

Talvez a garotinha que eu era também fizesse o mesmo, já que a mesma amava adrenalina e tudo que gritasse perigo; ou talvez não.

Talvez hoje eu estivesse formada com minha carreira no ballet ou tivesse achado o tênis de uma maneira boa.

Talvez meus cabelos não estivessem negros, mas sim o castanho natual.

Talvez eu não chorasse todo dia 23 por ter perdido uma parte de mim por ser estúpida o suficiente para fugir em uma gravidez de risco.

Eram muitos talvez, mas nunca uma resposta conclusiva, o que me fazia chorar mais, por ser alguém estúpida.

A dor estava presente, mesmo que parecesse entorpecida. O cansaço que estava sentindo não parecia ser somente físico, mas mental o principal.

Naquele momento, me perguntei se a garota de seis anos atrás, de dezesseis anos havia pensando o mesmo.

Se ela havia se cansado e deixado aquela pequena parte rebelde de si, que só usara com as pessoas mais íntimas para trás.

A parte rebelde em que xingou Ethan de diversos nomes mentalmente, mas que não foi forte o suficiente para o fazer alto e quando feito aprendeu a não repetir novamente.

Eu não sabia de nada.

Não achava que um dia iria conseguir achar algo conclusivo e muito menos achava que conseguiria me ver livre daquilo.

O chuveiro foi desligado, meu corpo puxado para ficar em pé, o que resultou em minha cabeça a um trisco da parede, já que escorreguei por conta da fraqueza.

Eu não sabia de muitas coisas no momento em que fui deixada naquela cama, tão pouco achava que estava consciente para ter clareza de algo.

Mas com todas as células do meu corpo, eu sabia que estava cansada.

E esse cansaço vinha de anos.

Passado vol.1 - El finWhere stories live. Discover now